Cerca de 10% dos hospitais usam testes rápidos para diagnosticar infecções
Em Portugal as mortes associadas às infecções em internamentos hospitalares são sete vezes superiores aos óbitos por acidentes de viação.
Os testes de diagnóstico rápido para diagnosticar infecções hospitalares, e assim reduzir o uso desnecessário de antibióticos, estão a ser usados em 10% a 20% dos hospitais portugueses, estima Paulo André Fernandes, director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde (DGS).
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Os testes de diagnóstico rápido para diagnosticar infecções hospitalares, e assim reduzir o uso desnecessário de antibióticos, estão a ser usados em 10% a 20% dos hospitais portugueses, estima Paulo André Fernandes, director do Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência aos Antimicrobianos da Direcção-Geral da Saúde (DGS).
O responsável da DGS reage assim à conclusão do estudo Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde: O Contributo dos Diagnósticos in Vitro, que foi divulgado esta terça-feira. O trabalho, encomendado pela Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica e coordenado pelo ex-ministro da Saúde Correia de Campos, aconselha que se analise a utilidade destes testes para reduzir o uso desnecessário de antibióticos.
Paulo André Fernandes lembra que estes testes são recentes e mais caros do que os testes convencionais, mas nota que têm vindo a descer de preço um pouco por todo o mundo (cá cada um ronda os 40 euros). As recomendações internacionais defendem a sua aplicação em hospitais, diz. O seu uso em 10% a 20% das unidades hospitalares “já é razoável”. A ideia é alargá-los aos hospitais, porque permitem um diagnóstico mais precoce e dirigido, reconhece.
Estes testes levam umas duas horas a dar resultados, enquanto os testes convencionais podem demorar vários dias, porque “dependem do crescimento das bactérias” em laboratório, explica. O seu uso pode reduzir tempos de internamento, e de isolamento de doentes “por suspeita” de infecção, e diminuir o recurso a antibióticos de mais largo espectro. Mas são testes que têm as suas limitações, podem ser demasiado sensíveis, diz.
Quanto à necessidade, realçada pelo mesmo estudo, de reforçar o programa nacional de combate à infecção hospitalar dedicando "especial atenção" às unidades de cuidados continuados a idosos, o responsável diz que o problema neste contexto está estudado: a prevalência de infecções nestas unidades é semelhante à de meio hospitalar, ronda os 10%. Paulo André Fernandes lembra que tem sido dada formação a profissionais deste sector, explicando que “está em curso uma iniciativa de reforma dos cuidados continuados, em que está a ser estudado este problema”.
O estudo recomenda ainda a integração do sector privado na recolha de informação. A este propósito, refere que a rede de vigilância de microorganismos e multirresistências “já conta com grande número de laboratórios e hospitais privados”.
Em Portugal as mortes associadas às infecções em internamentos hospitalares são sete vezes superiores aos óbitos por acidentes de viação. Os motivos são muitos, mas um deles está associado a problemas na limpeza das unidades, explicou ainda ao PÚBLICO este responsável. “Os hospitais portugueses estão menos limpos do que deviam estar.”
Quando se fala de medidas de prevenção das infecções hospitalares, é recorrente falar-se de campanhas de higiene das mãos dos profissionais de saúde, da necessidade de mais condições para isolar doentes infectados, mas há outros problemas. Um deles é “a limpeza”, afirma Paulo André Fernandes. Isto porque limpar um hospital não é o mesmo que limpar uma casa, em que um mesmo detergente do chão pode dar para uma cozinha e uma casa de banho.
“Num hospital há um tipo de produto para cada situação. Não se limpa da mesma forma o corredor de entrada do hospital do que a enfermaria onde esteve um doente com uma bactéria resistente. Há vários tipos de limpeza especial”, explica.
Neste momento, os hospitais têm alocadas equipas de combate à infecção, e uma das suas vocações é a formação de pessoal de limpeza. Ensinam aos funcionários que produtos devem usar em que superfícies e locais, em que situações têm de usar batas e luvas.
O problema é a precariedade e a grande rotatividade deste pessoal, que é quase sempre subcontratado a empresas privadas externas, afirma. O que acontece é que as empresas não dão formação aos trabalhadores e, quando o hospital o faz, ao fim de alguns meses encontra funcionários novos que não receberam qualquer formação, lamenta.
Em Portugal, os últimos números demonstram que o consumo de antibióticos está a diminuir, tal como a resistência aos antibióticos. Mas houve, em 2013, 4606 casos de mortes associadas a infecções durante internamentos.