Nicolás Maduro já não tem outra hipótese que não seja negociar
Ao aceitar o processo lançado pelo Vaticano, o Presidente da Venezuela está a reconhecer a crise e a validar os argumentos da oposição.
É bem possível que o Presidente da Venezuela não tenha a mínima intenção de conversar com a oposição, e que o seu compromisso com o processo de diálogo nacional não passe de uma manobra dilatória à custa do Vaticano e dos três líderes internacionais que aceitaram fazer de intermediários em nome da Unasur. Mas para um homem forte como Nicolás Maduro, o arranque do processo negocial só pode ser encarado como uma derrota e uma cedência: até agora o Presidente nem sequer reconhecia que a gravíssima crise que engoliu o país põe em causa a sua sobrevivência.
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É bem possível que o Presidente da Venezuela não tenha a mínima intenção de conversar com a oposição, e que o seu compromisso com o processo de diálogo nacional não passe de uma manobra dilatória à custa do Vaticano e dos três líderes internacionais que aceitaram fazer de intermediários em nome da Unasur. Mas para um homem forte como Nicolás Maduro, o arranque do processo negocial só pode ser encarado como uma derrota e uma cedência: até agora o Presidente nem sequer reconhecia que a gravíssima crise que engoliu o país põe em causa a sua sobrevivência.
Acossado há meses, a resposta de Maduro perante a deterioração inapelável da Venezuela tem sido a da negação e da acusação. Não há uma escassez dramática; há uma guerra económica. Não há insegurança e violência; há insubordinação e tumulto provocados pela oposição. Na sua gestão política, e nas instituições do país, não há autoritarismo e prepotência; o que há são manobras legítimas em reacção a adversários externos que pretendem vergar o país, e substituir um Governo democraticamente eleito.
A Venezuela definhava, mas o seu Presidente era inimputável: nenhuma das suas políticas era responsável pelo estado de coisas. Só que a situação tornou-se tão desesperada e caótica, que já não dá para atirar culpas a inimigos reais ou imaginários. Ao aceitar negociar soluções para a crise com a oposição, Maduro está a reconhecer, pela primeira vez, que o seu Governo só não basta, e que o respaldo das restantes instituições com poder de Estado (principalmente o Exército e os tribunais) já não chega para neutralizar a pressão das ruas.
Terá chegado a essa conclusão tarde demais para salvar a face no processo negocial lançado pelo Vaticano. Henrique Capriles percebe que o diálogo nacional é a primeira capitulação do Presidente Nicolás Maduro, que se senta à mesa sem ter a certeza de que vencerá o braço-de-ferro com a oposição. Não tem, por isso, interesse em facilitar-lhe a vida ou oferecer-lhe uma solução – o atrito é para continuar, castigando ainda mais os venezuelanos. Em breve, ninguém será capaz de evitar uma explosão.
Com o terreno tão minado, não admira o recurso ao Papa Francisco. Para desfazer o impasse e fechar um acordo – qualquer acordo – na Venezuela, vai ser precisa a intervenção divina, e um milagre.