Uma caixa de madeira mudou a casa de Alfredo
Workshop de Verão permitiu reabilitar a casa de um morador do Porto que não tinha meios para o fazer
Quando regressou a casa e viu o que os estudantes lá tinham feito, Alfredo Ferreira não gostou. “Já lhes disse: quando entrei, foi aquele impacto, não gostei nada”, diz, sentado no sofá da sua casa na Travessa do Campo de 24 de Agosto, no Porto, voltado para os dois fundadores da associação sem fins lucrativos Critical Concrete, responsáveis pela reabilitação da pequena habitação. “Mas foi por causa de sermos muito conservadores, sabe? Agora, adoro”, sorri.
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Quando regressou a casa e viu o que os estudantes lá tinham feito, Alfredo Ferreira não gostou. “Já lhes disse: quando entrei, foi aquele impacto, não gostei nada”, diz, sentado no sofá da sua casa na Travessa do Campo de 24 de Agosto, no Porto, voltado para os dois fundadores da associação sem fins lucrativos Critical Concrete, responsáveis pela reabilitação da pequena habitação. “Mas foi por causa de sermos muito conservadores, sabe? Agora, adoro”, sorri.
A casa fica numa ilha da freguesia do Bonfim. Alfredo Ferreira, de 59 anos, nasceu ali, mas viveu noutros locais, antes de regressar, há cerca de dez anos. Beneficiário do Rendimento Social de Inserção e sem condições para reabilitar a casa que se ia afundando em degradação — já havia traves de madeira a segurar os tectos falsos do interior e a água canalizada era inexistente —, o homem pediu ajuda à Junta de Freguesia do Bonfim, e acabou por ser através dela que Samuel Kalika e Juliana Trentin, da Critical Concrete, o descobriram.
Os dois – ele francês, formado em Matemática e Belas-Artes, ela brasileira e arquitecta – procuravam um projecto que encaixasse nos seus objectivos: recuperar, através de programas educativos, espaços socialmente relevantes (fossem habitações ou espaços culturais), que não tivessem fundos para o fazer. A Junta do Bonfim levou-os até Alfredo.
A casa estava na lista de espera para receber um telhado novo, custeado pela junta, mas essa era a única intervenção que aquela se comprometia a fazer. A entrada da Critical Concrete no processo permitiu que toda a habitação fosse reabilitada.
Os obreiros – desde a concepção da reabilitação à execução do trabalho – foram cerca de 40 estudantes internacionais que se inscreveram no workshop de Agosto organizado pela associação. Durante três semanas, sempre guiados por mentores, fizeram da pequena casa de Alfredo o seu objecto de trabalho, criando um novo interior, sempre com a premissa de que o que faziam teria que ser durável e fácil de reparar.
O conceito central é uma caixa de madeira. “O material principal que usamos foi a madeira. Tínhamos que ter em conta que o prazo de intervenção era muito curto e os recursos limitados. O nosso objectivo era criar uma caixa de isolamento na casa, para que esta tivesse um espaço fácil de aquecer”, explica Juliana Trentin.
Mas não foi apenas isso que foi feito. Parte do pavimento foi substituído, instalaram-se canalizações e um novo sistema de electricidade, montou-se a cozinha, criou-se um quarto de banho.
Alfredo estranhou aquele ar de prefabricado e até a parede que foi toda picada para deixar à vista a pedra original. Mas já começou a sentir a casa como sua novamente. Pendurou quadros na parede e um amigo vai ajudá-lo a pintar algumas coisas.
Ele regressou à casa reabilitada a 4 de Setembro, e desde então já percebeu o que funciona e o que precisa ainda de alguns ajustes. Por isso, entre 4 e 6 de Novembro os membros do Critical Concrete vão regressar à casa de Alfredo para, por exemplo, isolar a porta que dá para o pátio interior, resolver um problema de infiltração de água, consertar a pequena fuga da sanita e instalar uma porta no quarto. Só não deve dar tempo para instalar uma escada para o sótão.
Fundada em 2015, a Critical Concrete começou por trabalhar em parceria com um outro projecto da cidade, o Programa Habitar, mas cada um acabou por assumir os seus próprios projectos. Além da casa de Alfredo, a associação tem estado a reabilitar o edifício onde se instalou, o Co-Lateral, em Ramalde, que funciona em simultâneo como espaço de trabalho colectivo e habitação.
A intervenção na casa do Bonfim teve o apoio de várias empresas e da verba paga pelos estudantes que participaram no workshop. “É quase como um projecto de crowdfunding dos estudantes, para uma acção com bom karma”, sorri Samuel. Ele e Juliana procuram, agora, um novo local no Porto para beneficiar do workshop do próximo ano.