Mural Sonoro, a parede virtual onde se vai afixando (também) a história do rap
O rap é a actual jóia da coroa do Mural Sonoro, projecto pioneiro sobre música feita em Portugal. Djamal e Edgar Pêra vão ajudar ao debate na próxima sexta-feira, dia 28, em Lisboa.
Já foram ao Mural Sonoro? Não? Então vão. É como percorrer um labirinto onde a música é o vector principal, mas o pano de fundo é a sociedade portuguesa na segunda metade do século XX. Agora é o rap que está na ribalta, e já lá iremos, mas o Mural começou há cinco anos e já guarda, num acervo aberto online, memórias de muitas músicas e muita gente ligada à música. Como começou? De 2010 para 2011, num trabalho de investigação, no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Soraia Simões, investigadora, nascida em Coimbra em 1976 e radicada em Lisboa desde 2008, estava no Departamento de Ciências Musicais a fazer estudos sobre música popular. “Na altura”, recorda ela, “tinha uma disciplina muito específica que era práticas tradicionais em contextos urbanos. E resolvi entrevistar alguns criadores que no meu imaginário, e na memória colectiva, faziam parte de um universo que ia até ao início dos anos 70 [Júlio Pereira, Paulo de Carvalho, José Mário Branco, Luís Cília e outros]. No início tinha dez pessoas gravadas e nunca pensei ter um arquivo com esta dimensão.” Começou por disponibilizar as entrevistas num blogue, mas o projecto foi crescendo, até que, em Fevereiro de 2014, foi constituída a Associação Mural Sonoro que em 2015 passou a integrar o projecto Europeana Sounds, coordenado pela British Library.
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Já foram ao Mural Sonoro? Não? Então vão. É como percorrer um labirinto onde a música é o vector principal, mas o pano de fundo é a sociedade portuguesa na segunda metade do século XX. Agora é o rap que está na ribalta, e já lá iremos, mas o Mural começou há cinco anos e já guarda, num acervo aberto online, memórias de muitas músicas e muita gente ligada à música. Como começou? De 2010 para 2011, num trabalho de investigação, no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Soraia Simões, investigadora, nascida em Coimbra em 1976 e radicada em Lisboa desde 2008, estava no Departamento de Ciências Musicais a fazer estudos sobre música popular. “Na altura”, recorda ela, “tinha uma disciplina muito específica que era práticas tradicionais em contextos urbanos. E resolvi entrevistar alguns criadores que no meu imaginário, e na memória colectiva, faziam parte de um universo que ia até ao início dos anos 70 [Júlio Pereira, Paulo de Carvalho, José Mário Branco, Luís Cília e outros]. No início tinha dez pessoas gravadas e nunca pensei ter um arquivo com esta dimensão.” Começou por disponibilizar as entrevistas num blogue, mas o projecto foi crescendo, até que, em Fevereiro de 2014, foi constituída a Associação Mural Sonoro que em 2015 passou a integrar o projecto Europeana Sounds, coordenado pela British Library.
Música e sociedade
Soraia foi, aos poucos, acrescentando entrevistas (todas feitas por ela). No final de 2015 já tinha 150, mas o número vai aumentando. Não tem uma lista definida, uns nomes vão remetendo para outros. É como uma história interminável. “Não existe em Portugal um arquivo sonoro, nem documentação, nem contextualização, nem enquadramento”, diz. O Mural Sonoro não tem a pretensão de suprir essa falha, mas é um sério contributo nesse sentido. “O que disponibilizo no site”, diz Soraia, “é o que acho mais importante para a maioria da comunidade escutar.” Nestes registos entram também vários músicos brasileiros devido ao “intercâmbio” Portugal-Brasil, no qual, acrescenta ela, Ruben de Carvalho foi “peça importantíssima, fundamental.”
Se quiserem uma explicação mais detalhada sobre o que norteia tal trabalho, escutem Soraia Simões, que além de investigadora é presidente da direcção da Associação Mural Sonoro: “O enfoque do projecto é muito conciso e abarca várias práticas musicais, tratadas numa perspectiva etnográfica e historiográfica. E acompanha três convulsões determinantes para a história da indústria fonográfica: as gerações de 1960/70, 80 e 90. Mas as três questões que norteiam o arquivo, independentemente dos artistas que escolho para gravar, são: a relação que esses músicos tiveram, dentro dos recortes temporais em que cada um deles se insere, com os aspectos sociais e económicos da indústria de gravação (os processos, o que é que mudou); o aspecto da gravação sonora – e, através dela, também entendemos os aspectos sociais, económicos e político-ideológicos; e a relação que eles têm com os patrimónios orais, os que são circunscritos ao território a que pertencem, e os aspectos transfronteiriços: a ligação à maquinaria, aos instrumentos que vieram de fora e a forma como os adaptaram aqui, mas também as questões identificativas e a forma como se representam nos repertórios poéticos e literários.”
Um livro para 2017
A par de outros projectos a que o Mural Sonoro se associou, como Memórias da Revolução ou Extrema-Esquerda: Porque Não Fizemos a Revolução?, ambos da RTP e ainda online, foi-se desenvolvendo um outro, que é a actual jóia da coroa da associação: o dedicado ao rap. Intitula-se RAPortugal 1986-1999 – Memórias e História Oral e reúne entrevistas, depoimentos e debates. O próximo intitula-se O Impacto do Rap no Cinema e conta com o realizador Edgar Pêra, que apresentará alguns cine-diários do seu arquivo pessoal, e com elementos do primeiro grupo feminino de rap em Portugal, as Djamal. Será na sexta-feira dia 28, às 18h, na sala multiusos 2 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (UNL), em Lisboa. O trabalho de recolha em torno do rap e do hip hop feito pelo Mural Sonoro decorrerá até Fevereiro de 2017, ano em que deverá ser publicado o livro RAPublicar a micro-história que fez história numa Lisboa adiada: 1986-1996.