A noite dos skinheads
Green Room está longe de ser o “grito de revolta” (contra o reaccionarismo de certos sectores da sociedade americana) que alguns viram nele – falta-lhe inteligência para o ser, é só um menoríssimo filme de acção.
Green Room é a sequência para Blue Ruin, o filme que garantiu a Jeremy Saulnier um lugar de algum destaque na órbita dos filmes americanos. À “ruína azul” segue-se o “quarto verde”, que se é mesmo verde – um verde doentio que domina a fotografia, mas de modo programático – nada tem a ver com o homónimo filme de François Truffaut.
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Green Room é a sequência para Blue Ruin, o filme que garantiu a Jeremy Saulnier um lugar de algum destaque na órbita dos filmes americanos. À “ruína azul” segue-se o “quarto verde”, que se é mesmo verde – um verde doentio que domina a fotografia, mas de modo programático – nada tem a ver com o homónimo filme de François Truffaut.
Estamos nas profundezas da América, aquela “America the ugly” que nos últimos tempos, e à boleia do élan da campanha de Donald Trump, até tem andado a levantar a crista. Ainda assim, não se espere nenhuma validade sociológica extraordinária. É verdade que estamos num tugúrio de neo-nazis, algures num local perdido no meio do Oregon, mas os skinheads que povoam o filme têm a espessura dos zombies dos filmes ou dos jogos de computador – como se a ideia subjacente não fosse mais do que uma variação sobre o motivo clássico do grupo de personagens sitiadas num espaço exíguo enquanto lá fora campeia a ameaça de extermínio.
Como a Noite dos Mortos Vivos ou como o Assalto à 13ª Esquadra de Carpenter, ou como antes deles os westerns a que ambos devem. Mas estamos no século XXI e a violência gráfica é de lei, e por entre as mutilações e mortes horrorosas também salta o caminho a lembrança do torture porn de Saw e outros.
O filme até começa de forma promissora, com os protagonistas (uma banda de punk-rock contratada para um concerto no bar dos skinheads) a atacarem de entrada com uma canção anti-nazi dos Dead Kennedys, criando uma tensão cuja subtileza o filme não consegue replicar no resto da sua duração. Fica essa mecânica, fundada em “arquétipos” narrativos, mas rapidamente dissolvida em “estereótipos”, artificialmente construídos, e um predomínio do “visual”, que muito depressa perde o interesse. Está longe de ser o “grito de revolta” (contra o reaccionarismo de certos sectores da sociedade americana) que alguns críticos americanos mais entusiasmados viram nele – falta-lhe inteligência para o ser, é só um menoríssimo filme de acção.