Cerca de 1600 refugiados deixam o campo de Calais
Primeiros autocarros começaram a sair do campo de refugiados em França ao início da manhã. Tensão com as autoridades nas horas antes da operação de desmantelamento.
Ao início da tarde desta segunda-feira cerca de 1600 pessoas tinham abandonado o campo de refugiados e imigrantes de Calais, França, onde às primeiras horas da manhã começou a operação de desmantelamento do campo e a distribuição das cerca de 6400 pessoas que serão recolocadas em centros de acolhimento em vários pontos do país.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ao início da tarde desta segunda-feira cerca de 1600 pessoas tinham abandonado o campo de refugiados e imigrantes de Calais, França, onde às primeiras horas da manhã começou a operação de desmantelamento do campo e a distribuição das cerca de 6400 pessoas que serão recolocadas em centros de acolhimento em vários pontos do país.
O primeiro autocarro partiu com 50 sudaneses em direcção a Borgonha, no centro-leste do país. A saída da primeira viatura aconteceu 45 minutos depois do início da operação, que arrancou às 8h locais (7h em Portugal continental). Até ao fim do dia deverão ser levadas entre 2000 e 2300 pessoas, segundo a previsão do departamento francês da imigração e integração.
As algumas horas antes da hora marcada já se formavam filas de pessoas carregadas de mochilas, malas, sacos. Ainda durante a noite houve alguns momentos tensos entre pequenos grupos de imigrantes e as autoridades.
No terreno estão cerca de 1250 polícias e responsáveis, como representantes do centro para a imigração e integração. Neste primeiro dia, deverão sair de Calais 60 autocarros em direcção aos centros de acolhimento distribuídos por várias regiões francesas. Amanhã, terça-feira, prevê-se que partam mais 45 autocarros e na quarta-feira outros 40.
Segundo o Guardian, às primeiras horas da manhã já tinham saído do campo dez autocarros, com destino a Paris, Lyon ou Marselha.
Top départ de l'évacuation de la #Jungle de #Calais pic.twitter.com/qyztV3v90l
— Jonathan RT France (@Jonathan_RTfr) October 24, 2016
Os refugiados estão a ser divididos pelas autoridades em grupos requerentes de asilo – famílias, adultos, menores sem familiares (são cerca de 1300), idosos e mulheres sozinhas. A acompanhar as primeiras horas da operação, a Reuters ouviu um desabafo de Amadou Diallo, da Guiné Conacri: “Espero que dê certo. Estou sozinho e tenho de estudar”. Como Diallo, estima-se que deixem Calais nesta segunda-feira cerca de 2500 pessoas.
Awad, um refugiado sudanês de 31 anos que o Guardian ouviu no local, aguardava pela sua vez de se registar, para conseguir lugar num dos primeiros autocarros. Está há seis meses em Calais. O que se passará a seguir, não sabe. “Sinto-me bem por deixar a ‘Selva’. Não sei o que vai acontecer ou para onde serei enviado hoje. Mas se eu puder escolher, talvez escolha o Sul. Ouvi dizer que é mais quente”, contou ao jornal britânico.
Um dia antes de começar o desmantelamento da “Selva”, as forças policiais passaram de tenda em tenda a explicar o que vai acontecer aos refugiados e imigrantes, provenientes sobretudo de Afeganistão, Sudão e Eritreia, e que tentavam chegar ao Reino Unido.
A partir de Paris, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, disse esperar que a operação se desenrole com “calma” e de forma controlada, como diz ter acontecido até agora.
Enquanto em Calais começava o desmantelamento da “Selva”, a ministra da Habitação, Emmanuelle Cosse, criticava em Paris a posição do Governo britânico, reticente em acolher crianças. “Esperemos que o conjunto das crianças que deixam o agregado familiar seja admitido o mais rapidamente possível” na Grã-Bretenha, afirmou a ministra à rádio RTL, dizendo esperar que “várias centenas sejam admitidas rapidamente”. E não deixou de considerar “escandaloso” que a pressão sobre Londres tenha obrigado a fazer-se nos jornais para que “finalmente o Governo britânico aplique o direito internacional”.
É uma operação feita em directo, com todos os olhos postos sobre o que se passa em Calais – e o que se vai passar a seguir. O desmantelamento e o processos de recolocamento deverá demorar pelo menos uma semana, antevê a Reuters. Um jornalista italiano do Corriere della Sera captou um pormenor no local: em sinal de protesto, conta o diário Le Monde, um imigrante etíope tinha na camisola um autocolante com uma indicação “proibido fotografar”.
Un ragazzo etiope mostra un pin "no foto" pic.twitter.com/o7r6MUabHT
— Stefano Montefiori (@Stef_Montefiori) October 24, 2016
Dada a dimensão da operação, uma das preocupações tem a ver com o risco de se perder o rasto a centenas de crianças sem documentos. Entretanto, França e Reino Unido estão a negociar o envio dos menores de idade desacompanhados para o outro lado do Canal da Mancha. No domingo chegou ao Reino Unido um grupo de 24 crianças que se juntam às 54, sobretudo meninas da Eritreia, que já tinham seguido no sábado à noite, segundo o Guardian. O objectivo é possibilitar que as crianças se juntem aos familiares que já moram no Reino Unido.
À BBC Radio 4, o presidente do porto de Calais, Jean-Marc Puissesseau, considerou-se hoje “um homem muito, muito feliz”, falando deste dia como um “Dia D”. “Não vou dizer que houve aqui uma guerra, mas desde há dois anos estamos a viver em constante stress”, apontou.
Para esta segunda-feira ao fim da tarde e outros dias desta semana estão agendadas manifestaçãoes de apoio aos imigrantes e “contra a expulsão da ‘Selva’” em várias cidades francesas.