A crise governamental espanhola pode estar a uma semana de se resolver. O Comité Federal do PSOE reúne-se hoje em Madrid para discutir uma abstenção que permitiria a investidura de Mariano Rajoy, líder do Partido Popular (PP), no próximo domingo, dia 30.

A crise governamental espanhola pode estar a uma semana de se resolver. O Comité Federal do PSOE reúne-se hoje em Madrid para discutir uma abstenção que permitiria a investidura de Mariano Rajoy, líder do Partido Popular (PP), no próximo domingo, dia 30.

Os socialistas permanecem divididos mas, salvo surpresa de última hora, a maioria aprovará a tese da abstenção. A Comissão Gestora presidida pelo dirigente austuriano Javier Fernández, que assumiu a liderança provisória desde a demissão de Pedro Sánchez, a 1 de Outubro, colocará aos dirigentes uma questão simples: abstenção ou terceiras eleições?

Os seguidores da tese de Pedro Sánchez — “não é não” — contestam esta formulação e desejariam uma pergunta diferente: viabilizar ou não um novo governo de Rajoy? Outra dúvida que tem pairado é o modo da abstenção. Fernández e os líderes das maiores federações defendem uma abstenção em bloco na segunda votação. Outros defendem uma “abstenção técnica”, em que bastaria a ausência ou a abstenção de 11 deputados, para a investidura passar. Chamam-lhe a “abstenção envergonhada”. Teoricamente, há ainda o risco da “abstenção traumática”, a divisão dos socialistas na votação.

Os argumentos

A discussão afastou-se dos problemas de Espanha. O que está em cima da mesa é o cenário de terceiras eleições em Dezembro, em que o PSOE correria o risco de ser esmagado. Sondagens e análises prognosticam uma forte progressão do PP, uma quebra dos socialistas e a sua ultrapassagem pelo Unidos Podemos (UP), de Pablo Iglesias. Argumenta Fernández que os socialistas seriam responsabilizados por novas eleições extremamente impopulares: 67% dos próprios eleitores socialistas são contra mais eleições. Repete que “pior do que governo em minoria de Rajoy seria um governo maioritário do PP”. De resto, o PSOE está dividido, sem programa e sem um líder a apresentar ao eleitorado.

O medo de eleições e a recusa de uma aventura com o Podemos e os independentistas catalães foram as razões do “motim” contra Sánchez.

Os paladinos do “não” respondem que Rajoy é extraordinariamente impopular nas bases do PSOE, que viabilizar um governo PP dividirá os militantes ameaçando uma “hemorragia de votos” para o UP. Seria uma mera questão de princípio. Diz César Luena, colaborador de Sánchez: “Na primeira [votação], não; na segunda, não; na terceira, não; (...) até ao infinito, não.”

Na opinião dos analistas, é óbvio que o PSOE não tem nenhuma opção “boa”. Tem de escolher o “mal menor”, o que terá sempre um custo político. Sánchez deixou passar, após as eleições de Dezembro de 2015, a oportunidade de viabilizar um governo minoritário do PP, a quem seria possível impor condições draconianas. Nessa altura, a maioria dos dirigentes — a começar pela líder andaluza Susana Díaz que agora exige a abstenção — recusou essa jogada estratégica por temor das “bases” e do Podemos.

A relação de forças

Fontes do PSOE dizem à imprensa que “a balança se inclinou a favor da abstenção”. O Comité Federal tem 259 membros com direito de voto. A tese da abstenção reuniria uma maioria de “cerca de 50 votos”, o dobro da margem que derrubou Sánchez. Mas Fernández declara que “a decisão não está tomada” e há muitas divergências a resolver.

Haverá negociações entre as federações para decidir como se aplicará a decisão tomada. A hipótese da “abstenção técnica” terá muitos defensores, que nela vêem uma forma de salvar a face.

O rei Felipe VI recebe os líderes partidários na segunda e terça-feira. Rajoy será o último. O debate parlamentar sobre a investidura decorrerá provavelmente na quinta-feira. A primeira votação seria na sexta e a segunda, a decisiva, no domingo.