Pode uma app substituir (de forma eficaz) o contraceptivo?
Física sueca que trabalhou no CERN, em Genebra, criou a Natural Cycles, uma aplicação que promete substituir com eficácia os contraceptivos químicos. Teresa Bombas, da Sociedade Portuguesa de Contracepção, considera o método natural “pouco seguro”.
Não era fácil encontrar um desafio profissional que superasse os últimos cinco anos. Elina Berglund tinha trabalhado ao lado de centenas de investigadores no CERN, o laboratório europeu de pesquisa nuclear em Genebra, na Suíça, em busca do bosão de Higgs. E depois da descoberta da “partícula de Deus” ter merecido o Nobel de Física, em 2013, a sueca quis encontrar novos estímulos. Algo “completamente diferente”. Assim nasceu a Natural Cycles, uma aplicação que promete substituir com eficácia os contraceptivos químicos — e que usa conhecimento vindo do CERN (já lá vamos).
O epicentro da ideia foi a própria Elina Berglund. A física de 32 anos andava em busca de um contraceptivo natural para “dar ao corpo um descanso” da contracepção hormonal antes de pôr em prática o desejo de engravidar. Pesquisa atrás de pesquisa, percebeu que a temperatura do corpo aumentava depois da ovulação, devido à subida de progesterona. A “revelação” fê-la iniciar um ritual: “Media a minha temperatura todos os dias e, a partir daí, desenvolvi a primeira versão do algoritmo da Natural Cycles, para ser usado por mim”, contou ao P3.
O algoritmo de Elina tem como base “análise estatística semelhante à realizada no CERN” e utiliza a temperatura do corpo feminino para determinar a fertilidade, diz. Ao introduzir esses dados diários na aplicação, a mulher tem acesso à análise e percebe se está num dia “vermelho” (fértil) ou “verde” (não fértil). Quando mais a app for utilizada, mais o algoritmo conhece os ciclos da mulher e mais eficaz se torna, garante a investigadora.
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Não era fácil encontrar um desafio profissional que superasse os últimos cinco anos. Elina Berglund tinha trabalhado ao lado de centenas de investigadores no CERN, o laboratório europeu de pesquisa nuclear em Genebra, na Suíça, em busca do bosão de Higgs. E depois da descoberta da “partícula de Deus” ter merecido o Nobel de Física, em 2013, a sueca quis encontrar novos estímulos. Algo “completamente diferente”. Assim nasceu a Natural Cycles, uma aplicação que promete substituir com eficácia os contraceptivos químicos — e que usa conhecimento vindo do CERN (já lá vamos).
O epicentro da ideia foi a própria Elina Berglund. A física de 32 anos andava em busca de um contraceptivo natural para “dar ao corpo um descanso” da contracepção hormonal antes de pôr em prática o desejo de engravidar. Pesquisa atrás de pesquisa, percebeu que a temperatura do corpo aumentava depois da ovulação, devido à subida de progesterona. A “revelação” fê-la iniciar um ritual: “Media a minha temperatura todos os dias e, a partir daí, desenvolvi a primeira versão do algoritmo da Natural Cycles, para ser usado por mim”, contou ao P3.
O algoritmo de Elina tem como base “análise estatística semelhante à realizada no CERN” e utiliza a temperatura do corpo feminino para determinar a fertilidade, diz. Ao introduzir esses dados diários na aplicação, a mulher tem acesso à análise e percebe se está num dia “vermelho” (fértil) ou “verde” (não fértil). Quando mais a app for utilizada, mais o algoritmo conhece os ciclos da mulher e mais eficaz se torna, garante a investigadora.
Método da temperatura "bem antigo"
O método da temperatura é, na verdade, “bem antigo”, comenta a presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção, Teresa Bombas. Mas para além de exigir uma “vigilância grande” por parte da mulher e da “execução não ser muito fácil”, esse processo natural é, do “ponto de vista da eficácia, pouco seguro”. “A probabilidade de ter uma gravidez ao fim de um ano utilizando métodos naturais é maior do que se usar outro tipo de métodos”, garante.
Da Suécia, vem a versão contrária. A Natural Cycles, diz Elina Berglund, “é um dispositivo médico aprovado, com certificado ISO, o que implica que haja uma supervisão constante e se cumpram determinados padrões”. Com a supervisão de especialistas em contracepção, a equipa de Elina já realizou e publicou dois estudos clínicos para “assegurar que a app é realmente eficaz e fiável”.
No segundo estudo — publicado em Março na The European Journal of Contraception and Reproductive Healthcare —, tentaram perceber quantas gravidezes aconteceram em um ano entre as 4054 utilizadoras suecas da app, com idades entre os 20 e os 35 anos. E os resultados foram animadores. “A eficácia dos ciclos naturais é semelhante à conseguida com a toma do comprimido”, contou, acrescentando que essa monitorização é feita de forma contínua para que a eficácia não baixe.
O sucesso no país da investigadora tem sido grande. Segundo a Wired, a aplicação — que custa entre 5,4 e 9,9 euros por mês, dependendo das valências escolhidas, e está disponível para os sistemas iOs e Android — já foi descarregada por mais de 100 mil pessoas. Algo que, aparentemente, convenceu vários empresários: a revista norte-americana revela que Elina Berglund já arrecadou seis milhões de euros para continuar a desenvolver a Natural Cycles.
Mitos
O contraceptivo, recorda Teresa Bombas, não é um medicamento de um objectivo só. A sua toma significa uma “melhoria na qualidade de vida da mulher que vai muito para além do efeito contraceptivo em si”. A pílula, anel vaginal, adesivos e outros métodos semelhantes podem ser utilizados, por exemplo, como forma de combater o uso excessivo de acne, dores menstruais muito fortes ou hemorragias muito intensas. “Uma mulher saudável pode fazer qualquer contraceptivo, as não saudáveis têm obviamente de ter mais cuidados”, diz, sublinhando a necessidade de as mulheres procurarem orientação médica e não optarem pela autogestão.
Ao criar a app, Elina tinha também como objectivo fazer um período de “jejum” químico — acreditando que, dessa forma, poderia engravidar mais facilmente quando assim o desejasse. Mas essa alegada dificuldade acrescida, garante Teresa Bombas, é mais um "mito": "Todos os métodos químicos que usamos actualmente são imediatamente reversíveis."
É verdade que uma mulher que comece a usar a pílula aos 30, a use por dez anos e tente engravidar aos 40 pode ter mais dificuldade em conseguir. Mas não por causa da pílula, diz a especialista portuguesa: “Não consegue porque aos 40 a fertilidade está decrescida, não pela toma do contraceptivo. São coisas completamente diferentes.”
Elina acredita que “é importante aumentar a possibilidade de escolha”. A Natural Cycles pode ser uma resposta para “mulheres que sofrem com demasiados efeitos secundários” dos contraceptivos químicos. Ou simplesmente para quem prefere não o usar.
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