ONU denuncia “crimes contra a humanidade de proporções históricas” em Alepo
Alto comissário para os Direitos Humanos acusa todas as partes envolvidas nos confrontos na cidade síria de contribuírem para a morte sistemática de civis.
Zeid Ra'ad al-Hussein, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, não foi brando nas palavras – o cerco e os bombardeamentos de Alepo, uma das cidades mais massacradas pela guerra na Síria, são “crimes de proporções históricas”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Zeid Ra'ad al-Hussein, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, não foi brando nas palavras – o cerco e os bombardeamentos de Alepo, uma das cidades mais massacradas pela guerra na Síria, são “crimes de proporções históricas”.
Hussein disse-o num depoimento em vídeo transmitido no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, reunido esta sexta-feira em Genebra, na Suíça, acusando todas as partes envolvidas no conflito de violarem as leis internacionais. E para dar um exemplo dessa responsabilidade partilhada na situação a que chegou Alepo lembrou que os grupos da oposição têm disparado tiros de morteiro contra bairros residenciais no lado ocidental da cidade, ao passo que as tropas leais ao Presidente Bashar al-Assad e os seus aliados têm feito “ataques aéreos indiscriminados no lado oriental”, a que se deve “a esmagadora maioria das baixas entre a população”.
“[…] Estes ataques disseminados e sistemáticos contra civis são um crime contra a humanidade”, sublinhou o alto comissário, juntando-se a uma série de figuras internacionais que têm vindo a falar sobre a ofensiva contra o Leste de Alepo, zona em poder dos rebeldes e que está desde o Verão cercada pelas forças governamentais e alvo de bombardeamentos sistemáticos da aviação síria e russa.
Desde quinta-feira, que os aviões dos dois países cumprem uma “pausa humanitária” de forma a permitir que combatentes e civis deixassem as zonas da cidade controladas pelos rebeldes. Uma interrupção que deveria ter durado 24 horas, mas que depois de um primeiro prolongamento, voltou a ser estendido nesta sexta-feira por mais um dia. "A pedido do representante da ONU e de outras organizações internacionais, o Presidente russo tomou a decisão de prolongar a pausa humanitária na região de Alepo por 24 horas, entre as 8h e as 19h locais de 22 de Outubro", anunciou o general Sergei Rudskoi.
Os bombardeamentos aéreos das últimas semanas e a subida do número de mortos valeu ao Kremlin críticas cerradas de muitos países europeus. Segundo os números divulgados por vários jornais e agências, entre 250 e 275 mil residentes continuam sitiados pelas tropas governamentais, pessoas que arriscam a vida diariamente enquanto a batalha de Alepo parece não ter fim à vista.
“Todas as partes devem prestar assistência aos civis e permitir a passagem de todos os que queiram fugir da cidade sem qualquer forma de represália, incluindo a transposição de fronteiras”, defendeu ainda Zeid Ra'ad al-Hussein.
A televisão norte-americana CNN lembrou que o alto comissário da ONU não é o único a ter-se pronunciado esta sexta-feira sobre a situação em Alepo. O Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse aos jornalistas em Bruxelas, ao início da manhã, que os líderes da União Europeia “condenam veementemente os ataques do regime sírio e dos seus aliados, nomeadamente a Rússia, contra os civis em Alepo”. E pedem “o fim destas atrocidades e um cessar-fogo imediato”. Se a situação se mantiver, garantiu Tusk, “a União Europeia vai considerar todas as possibilidades”.
O Conselho Europeu decidiu esta sexta-feira emitir uma declaração pedindo que terminem já os confrontos em Alepo. Falando à margem desta reunião, o primeiro-ministro António Costa disse que, no que toca à relação da UE com a Rússia devido à sua presença militar na Síria, Portugal prefere privilegiar a “cooperação” do que as sanções.
Segundo a AFP, a ONU deveria ter começado hoje a retirar da cidade os feridos e doentes prioritários, o que acabou por não acontecer. Garante o departamento de coordenação dos assuntos humanitários das Nações Unidas que o pessoal médico que trabalha para a organização no terreno ainda não conseguiu entrar na cidade e que não foram reunidas as condições de segurança necessárias para levar a cabo as operações de resgate.
Em Alepo, asseguram as equipas de ajuda humanitária, há 200 pessoas a precisarem de assistência médica urgente.
Os oito corredores humanitários estabelecidos para permitir a saída de pessoas dos sectores controlados pelos rebeldes estavam hoje vazios. Sergei Lavrov, chefe da diplomacia russa, acusara já na quinta-feira os rebeldes de violarem o cessar-fogo em vigor e de impedirem a saída dos civis.