É oficial: o Schiaparelli morreu ao embater em Marte
Módulo espacial europeu esteve em queda livre mais tempo do que o previsto. Marcas localizadas no solo marciano resultam ou da perturbação das poeiras à superfície com o embate ou mesmo da explosão do aparelho.
O módulo europeu que tentou pousar em Marte na última quarta-feira não sobreviveu à aterragem – anunciou a Agência Espacial Europeia (ESA) nesta sexta-feira. A confirmação do embate do Schiaparelli no solo marciano baseia-se em imagens captadas do espaço pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, e que se encontra em órbita de Marte.
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O módulo europeu que tentou pousar em Marte na última quarta-feira não sobreviveu à aterragem – anunciou a Agência Espacial Europeia (ESA) nesta sexta-feira. A confirmação do embate do Schiaparelli no solo marciano baseia-se em imagens captadas do espaço pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da NASA, e que se encontra em órbita de Marte.
“Esmagou-se na superfície de Marte”, disse por sua vez à agência noticiosa AFP Thierry Blancquaert, responsável pelo módulo de aterragem na ESA.
Tal como estava planeado, no dia seguinte ao grande momento que seria a chegada da ESA primeira vez ao solo marciano, a MRO tirou fotografias do local da aterragem do Schiaparelli. Essa zona é a Meridiani Planum, uma região de planície. E foi aí que as câmaras a bordo da MRO localizaram duas manchas que antes não existiam lá – e que são identificadas como as marcas deixadas pelo pára-quedas do módulo espacial e, a cerca de um quilómetro a norte dele, as marcas do próprio módulo.
Durante a viagem em direcção ao solo marciano, e depois de se libertar o escudo de protecção térmica, o Schiaparelli abriu o pára-quedas para abrandar a descida. E, na fase final da descida, ainda ligou os seus propulsores (são nove), que se destinavam também a abrandar a descida, até ficar imóvel mesmo quase perto da superfície.
Mas as coisas não correram como o previsto nos últimos instantes de uma missão que partiu da Terra em Março deste ano, quando um foguetão russo depositou no espaço a sonda Trace Gas Orbiter (TGO) e, às suas cavalitas, o módulo Schiaparelli (a sonda e o módulo separaram-se no último domingo, para o aparelho de aterragem em Marte iniciar então a parte final da sua aventura). Os propulsores ter-se-ão desligado mais cedo do que deveriam – por isso, o Schiaparelli esteve em queda livre mais tempo do que o planeado, explica a agência espacial europeia em comunicado. “As estimativas indicam que o Schiaparelli caiu de uma altitude entre os dois e os quatro quilómetros, embatendo assim a uma velocidade considerável, superior a 300 quilómetros por hora”, refere o comunicado.
Uma das manchas é brilhante, e essa a ESA associa-a ao pára-quedas. A outra mancha é escura e de contornos menos definidos, e é interpretada como tendo sido provocada pelo impacto do próprio Schiaparelli, explica a agência espacial. “A perturbação do material à superfície daria origem ao tamanho relativamente grande desta marca. Também é possível que o módulo de aterragem tenha explodido no impacto, uma vez que é provável que os tanques dos seus propulsores ainda estariam cheios”, acrescenta a ESA, para ressalvar que “estas interpretações preliminares ainda precisam de uma análise mais refinada”.
Mas se a mancha brilhante é coincidente com o tamanho do pára-quedas, o mesmo não acontece com a mancha escura de contornos difusos. “É certamente o ponto de impacto do Schiaparelli”, disse à AFP Michel Denis, director de operações de voo de toda esta missão. “É maior do que se o Schiaparelli estivesse numa só peça. Portanto, ele partiu-se.”
A ESA pensa que é capaz de reconstituir com grande rigor toda a cadeia de acontecimentos durante a descida ao solo marciano, porque os dados transmitidos pelo Schiaparelli durante essa fase foram registados por três aparelhos distintos – a já referida MRO, a sonda-mãe do Schiaparelli, a TGO (que entrou em órbita de Marte também na quarta-feira), e um radiotelescópio na Índia.
É preciso identificar as anomalias exactas que ocorreram a bordo do Schiaparelli que o “levaram” a pensar que estava mais perto do solo e, assim, a desligar os propulsores mais cedo do que o programado. E, antes disso, a soltar o pára-quedas também mais cedo. Os problemas começaram a cerca de 50 segundos da chegada ao solo marciano, marcada para as 15h48 de quarta-feira (hora de Lisboa).
Ainda que se reconstitua exactamente o que se passou de errado naqueles últimos instantes, e se possam tirar muitas lições para o futuro, este desfecho é um balde de água gelada para a ESA.
Era a primeira vez que a ESA se aventurava a descer a Marte: o Schiaparelli destinava-se a demonstrar que a agência europeia conseguia aterrar alguma coisa em Marte, um planeta muito traiçoeiro neste aspecto, autêntico cemitério de aparelhos espaciais – que o digam os próprios Estados Unidos e a ex-União Soviética, com vários falhanços no seu currículo. O Schiaparelli era “um demonstrador”, na linguagem dos engenheiros aeroespaciais, de que a ESA conseguia entrar na atmosfera marciana, descer e aterrar. Não ia fazer propriamente grande ciência lá em baixo, daí que a duração da sua vida estivesse limitada a alguns dias (entre dois a oito), dependendo da energia na sua bateria.
E, se falarmos na Europa, era a segunda vez que lá tentava ir: o Beagle 2, desenvolvido sobretudo por uma universidade britânica, não sobreviveu a esse sonho, em 2003. Portanto, só os Estados Unidos, através da NASA, conseguiram aterrar com sucesso em Marte, e por sete vezes.
O Schiaparelli era também a primeira etapa da missão ExoMars, um projecto entre a ESA e a Rússia, que quer pôr um rover em Marte em 2020. Veremos agora como é que se desenrola a segunda fase desta missão (que ainda precisa da aprovação de financiamento), com a morte confirmada do Schiaparelli.