É demasiado arranjo para um homem só

JP Simões regressa, encabeçando os Bloom. Um disco sobrelotado de arranjos.

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Na ânsia de enfiar tanta coisa por aqui, no projecto Bloom de JP Simões, as canções acabam sem silhueta

O que se faz com um tipo a quem devemos tanto e com um disco que não tem nada de errado, inclusive as melodias e os arranjos ficam bonitinhas na pauta mas por alguma razão a orelha fecha-se mais que o habitual, o ouvido não desata aos saltos, o que fazer?

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O que se faz com um tipo a quem devemos tanto e com um disco que não tem nada de errado, inclusive as melodias e os arranjos ficam bonitinhas na pauta mas por alguma razão a orelha fecha-se mais que o habitual, o ouvido não desata aos saltos, o que fazer?

Se se tenta falar das melodias, bom, é como falar de uma flor junto à Segunda Circular sem mencionar o engarrafamento do trânsito – isto porque Tremble Like a Flower é um disco sobrelotado de arranjos (que nesta imagem fazem o papel de trânsito). Mas uma afirmação destas pode levar a crer que o trompete desafina, o piano esteve a beber e a flauta não se ouve, está enfiada algures, o que é mentira: isolados os arranjos são severamente apreciáveis. E soa disparatado afiançar que é um disco de guitarra e voz porque, por mais que as canções se sustentem todas no violão e na garganta de JP Simões, violão e garganta acabam soterradas nos arranjos. Também parece mesquinho implicar com detalhes, como a percussão demasiado jazzística e omnipresente (embora o contrabaixo caia ali bem). Ou com a produção, que torna tudo demasiado cristalino, que parece pôr todos os instrumentos no mesmo patamar, como um filme sem profundidade de campo, uma peça de teatro em que toda a mise en scène estivesse à boca de cena. (Era mesmo preciso que se ouvisse a guitarra como se cada ataque a uma corda fosse um raio de sol banhando o orvalho da manhã?)

Tremble Like a Flower

Talvez o que falte a Tremble Like a Flower, a estreia dos Bloom, encabelados por JP Simões, não sejam canções, antes definição: na ânsia de enfiar tanta coisa por aqui as canções acabam sem silhueta, como uma mulher (um homem) lindíssima(o) escondida(o) debaixo de roupa largueirona. One ride too many serve de exemplo: um homem e uma guitarra fazem companhia um ao outro e é claro que estamos em território de Nick Drake – mas então para quê tanto arranjo, para mais arranjos etéreos e psicadélicos, que não sublinham a melodia, antes a escondem? Quando se chega às palmas ficamos com a certeza de estarmos perante um fenómeno de autofagia. Bloom é como um dream-team cheio de médios ofensivos em que ninguém defende e todos querem marcar: cada gesto é lindíssimo mas ninguém pensa o jogo. Pena, porque as canções estão lá.