Parte da Cerca Fernandina revelada nas obras do funicular da Graça
A estrutura foi identificada durante os trabalhos de escavação e prospecção arqueológica em curso junto ao Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, em Lisboa.
Os trabalhos de escavação e prospecção arqueológica em curso na Graça, com vista à instalação de um funicular que fará a ligação à Mouraria, revelaram a presença no local de “um troço de muralha pertencente à Cerca Fernandina” de Lisboa.
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Os trabalhos de escavação e prospecção arqueológica em curso na Graça, com vista à instalação de um funicular que fará a ligação à Mouraria, revelaram a presença no local de “um troço de muralha pertencente à Cerca Fernandina” de Lisboa.
Erguida no terceiro quartel do século XIV, por ordem de D. Fernando, a cerca abrangia uma área superior a 100 hectares e tinha 77 torres e 34 portas. Esta estrutura defensiva ficou também conhecida por Cerca Nova, por ter sucedido à chamada Cerca Velha (ou Moura), que delimitou Lisboa até à época medieval.
Iniciados no mês de Julho, os trabalhos de escavação e prospecção arqueológica na área do Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, na Graça, deram frutos: segundo o PÚBLICO apurou, no local foi encontrada parte da estrutura defensiva construída entre 1373 e 1375.
A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) não respondeu em tempo útil aos pedidos de informação que lhe foram dirigidos sobre o assunto, mas no Portal do Arqueólogo (no qual é “disponibilizada a pesquisa das ocorrências de património arqueológico” com base em informação “diária e permanente”) dá-se conta de que naquele miradouro na freguesia lisboeta de São Vicente “foi identificado um troço de muralha pertencente à Cerca Fernandina”. Além disso, acrescenta-se, “foi também identificada outra estrutura militar adossada à muralha, de tipo alambor, que consiste no espessamento da base da muralha no exterior, com a pendente da encosta”.
João Favila Menezes, cujo atelier é autor do projecto do funicular que visa unir a Graça à Mouraria (através da Rua dos Lagares), confirmou ao PÚBLICO que no decurso dos trabalhos foi detectada “uma estrutura” que não quis especificar. O arquitecto entende que é prematuro avançar com informações adicionais por não estarem ainda concluídos os relatórios das entidades competentes.
João Favila Menezes explicita ainda que a única empreitada que estava já em curso era a relacionada com a componente arqueológica. A segunda, destinada à edificação dos acessos inferior e superior do funicular e à construção de todo o percurso, pela encosta acima, ainda não tinha começado.
Já a Câmara de Lisboa transmitiu ao PÚBLICO que, no decurso da empreitada de “abertura de uma trincheira arqueológica”, “foi descoberto o Alambor [a parte reforçada e saliente na base de uma parede] da Muralha Fernandina”. Em respostas escritas, o vereador do Urbanismo e Obras Municipais, Manuel Salgado, explica que “a DGPC solicitou um alargamento da escavação para diagnóstico da sua continuidade”, acrescentando que a câmara “desconhece qualquer parecer no sentido de inviabilizar o funicular”.
O movimento Fórum Cidadania Lisboa já tinha dirigido um pedido de informações ao vereador perguntando-lhe “quais são as intenções” da câmara, “dada a importância das descobertas arqueológicas recentes”.
Esta segunda-feira, o Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Lisboa dirigiu ao município um requerimento sobre o assunto. Nele, o deputado municipal Ricardo Robles salienta “a elevadíssima importância do património arqueológico” identificado na Graça, notando que este inclui “um troço de muralha Fernandina, em taipa”.
O bloquista pretende saber se a câmara tem já “algum plano para salvaguarda” do património identificado e se a entidade presidida por Fernando Medina pondera alterar o projecto do funicular para garantir a protecção do troço da Cerca Fernandina.