Afro-descendentes, migrações e algum kitsch na Lisboa-2017

António Pinto Ribeiro apresentou a programação da Capital Ibero-Americana da Cultura que reúne quase 150 eventos no próximo ano.

Foto
A equatoriana Mariela Condo abre o programa de Lisboa 2017 com Gisela João e Yomira John DR

Os afro-descendentes, as migrações, a questão indígena e o pensamento e a criação contemporâneos são os quatro pilares de Lisboa 2017 – Capital Ibero-Americana de Cultura, que durante o próximo ano trará à cidade cerca de 150 eventos. António Pinto Ribeiro, o coordenador-geral, apresentou a programação completa de Lisboa 2017 ao final da manhã desta terça-feira no São Luiz Teatro Municipal. Ao todo, como mostrou o vídeo promocional apresentado na conferência de imprensa em que participou o presidente da Câmara de Lisboa, serão produzidos 38 espectáculos, 31 exposições, mais conferências e ciclos de cinema. <_o3a_p>

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Os afro-descendentes, as migrações, a questão indígena e o pensamento e a criação contemporâneos são os quatro pilares de Lisboa 2017 – Capital Ibero-Americana de Cultura, que durante o próximo ano trará à cidade cerca de 150 eventos. António Pinto Ribeiro, o coordenador-geral, apresentou a programação completa de Lisboa 2017 ao final da manhã desta terça-feira no São Luiz Teatro Municipal. Ao todo, como mostrou o vídeo promocional apresentado na conferência de imprensa em que participou o presidente da Câmara de Lisboa, serão produzidos 38 espectáculos, 31 exposições, mais conferências e ciclos de cinema. <_o3a_p>

Esta é a segunda vez que Lisboa é Capital Ibero-Americana de Cultura – a primeira foi há mais de 20 anos, em 1994 – e é o resultado de uma candidatura feita em 2015 pela Câmara Municipal de Lisboa à União de Cidades Capitais Ibero-Americanas. O programa tem um orçamento de 1,5 milhões de euros e envolve mais de 500 participantes nacionais e estrangeiros, disse ao PÚBLICO a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto. Resulta da “mobilização” de mais de 40 equipamentos e entidades culturais da câmara, “a partir da sua programação regular”. “Depois de analisarmos o que os equipamentos fazem regularmente, foram propostos temas e problemas numa negociação cultural com a equipa da capital”, explicou Pinto Ribeiro quando lhe perguntámos como foi feita a articulação com os equipamentos camarários. <_o3a_p>

“Em relação à questão indígena, por exemplo, perguntámos o que é que determinado equipamento podia fazer, sem ser uma coisa datada ou de natureza meramente histórica em relação ao passado. Se hoje há um respeito pós-colonial em relação aos africanos, a situação dos índios na América é ainda muito complicada”, explicou o coordenador, acrescentando que não se quis ocupar a programação toda dos equipamentos só com a Capital Ibero-Americana. No final da sua apresentação, aliás, acrescentou que o programa foi delineado “no curto espaço de seis meses” e por isso agradeceu o esforço suplementar das equipas. <_o3a_p>

Mas também houve equipamentos exteriores à câmara que propuseram programação. A Companhia Nacional de Bailado integra-se na agenda da capital com dois solos em estreia, de José Limón (“um nome de referência da dança”) e Israel Gálvan, o coreógrafo e bailarino sevilhano que renovou o flamenco. <_o3a_p>

“Há um conjunto de temas e problemas que eram desconhecidos para a maior parte das pessoas, que os estudaram, e acho o resultado muito simpático.” A carta toponímica dos negros, feita pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses, “é uma coisa extraordinária”, assim “como os testemunhos sobre o racismo”, tratados numa exposição com curadoria do historiador Francisco Bethencourt. “Procurou-se não importar a América Latina para aqui, nem Espanha, mas puxar por aquilo que há e potencializar.” Às vezes, criando um efeito de escala com outras programações, destacou Pinto Ribeiro, ao assinalar as apresentações quase simultâneas, em Setembro, da Trilogia Antropofágica da coreógrafa uruguaia Tamara Cubas, no São Luiz, e do trabalho da brasileira Lia Rodrigues na Culturgest: “Lisboa terá as duas melhores coreógrafas da América Latina no ano que vem”, disse.<_o3a_p>

Numa programação tão diversa, concluiu o comissário, até há lugar para o kitsch. “A maior parte das pessoas tem da América Latina uma representação kitsch”, explicou já em conversa com os jornalistas. “A programação tentou mostrar os outros lados disso. Há uma desconstrução dos lugares-comuns. Mas também há liberdade para ser kitsch.” E para interrogar muita coisa, incluindo o que é a América Latina, num debate que envolverá em Dezembro no São Luiz três investigadores oriundos, respectivamente, de Portugal, EUA e Peru (Miguel Bandeira Jerónimo, Catherine Walsch e Gonzalo Portocarrero).

Falar de política

O orçamento de 1,5 milhões de euros servirá para pagar as actividades do gabinete da capital, mas também para compensar os equipamentos que não tenham recursos suficientes. “Com aquilo que os equipamentos trazem, o orçamento [real] deve andar à volta dos três milhões. O que é manifestamente muito apertado para uma dimensão deste tipo.”<_o3a_p>

Catarina Vaz Pinto prometeu que esta programação “muitíssimo intensa” vai invadir Lisboa no momento certo, mostrando “a estratégia de internacionalização” e “a capacidade de participar nessa internacionalização” de um dos “destinos mais apetecidos da Europa”. Uma Lisboa “cosmopolita e culturalmente activa que quer assumir um relacionamento mais alargado com estas cidades”. <_o3a_p>

Também o presidente da câmara, Fernando Medina, notou que fazia “todo o sentido falar de política” nesta conferência de imprensa: “Isto é o inverso do que vemos no debate europeu e norte-americano sobre quem constrói mais muros.” “O diálogo de Portugal com vários países espalhados por vários continentes é o contrário de uma sociedade fechada e o sinal político mais importante que damos durante a capital. Lisboa tem de ser a capital da abertura, da tolerância e do cosmopolitismo.”<_o3a_p>