Bruno Pinto, o prateiro
Foi numa aula na Escola Secundária de Camarate que teve contacto com a prata. “Tudo começou com uns fios”, lembra. Nessa altura, Bruno Pinto era modelo, tinha feito o curso de manequim com Fátima Lopes, fotografou para catálogos, desfilou. Ainda prestou provas para a Academia de Polícia, mas desistiu, para desgosto do pai. Foi através de um anúncio de jornal que se tornou aprendiz na Leitão & Irmão. “Apaixonei-me pelo ofício. Tudo o que sei aprendi com as pessoas que encontrei nesta casa”, diz. Passaram 15 anos. Hoje é primeiro oficial, prateiro, com a certeza que há poucos nesta profissão. “Os que chegam novos, como eu cheguei, nota-se-lhes o fascínio, mas isto dá dores de corpo, de mãos e muitos não continuam.” A oficina onde trabalha, tingida pelo pó dos materiais e das máquinas, a denunciar o tempo, não tem o glamour das revistas de moda, mas tem o encanto de ver a prata e o ouro transformarem-se em obras de arte na casa dos antigos joalheiros da coroa.
O saber passa dos mais antigos nas funções, como José Gomes, chefe de oficina, com mais de duas décadas de casa, para quem está disposto a ver como se faz, a experimentar, a voltar a tentar e repetir os gestos até saírem perfeitos. Não é o tempo que conta para ascender no posto, é o talento e o gosto que se deposita no trabalho. Depois, há pequenos deslumbramentos que aguçam a dedicação. Bruno encantou-se nas velas, nos castiçais, nos candelabros. Teve sorte. Na Leitão & Irmão todos podem apresentar as suas ideias, é o patrão, Jorge Leitão quem o diz. Nem todas se concretizam, mas as boas vão avante. Foi o caso. Experimentou primeiro o molde de um castiçal em latão, “porque o desenho não seria facilmente entendido e era preciso testar”, depois passou para a prata. O conjunto de candelabros e centro de mesa de faces geométricas foi bem recebido e já serviu de inspiração para um conjunto de anéis com as mesmas formas. Talvez daqui por um ano se estejam a comercializar, antevê Jorge Leitão. Agora, anda às voltas com um serviço de chá. “Quero ser cada vez melhor e espero um dia poder passar esta arte.”