Portugal falha no tratamento de electrodomésticos velhos com poluente HFC
Associação ambientalista Zero alerta que metade dos equipamentos antigos, como frigoríficos, não estão a ser devolvidos na altura da venda de novos, o que significa que “os gases podem ser libertados para a atmosfera
Portugal tem regras para a progressiva proibição dos gases HFC dos aparelhos de refrigeração, mas o seu uso “não têm parado de crescer” e muitos dos equipamentos velhos podem não estar a ter o tratamento adequado, disse o presidente da organização ambientalista Zero.
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Portugal tem regras para a progressiva proibição dos gases HFC dos aparelhos de refrigeração, mas o seu uso “não têm parado de crescer” e muitos dos equipamentos velhos podem não estar a ter o tratamento adequado, disse o presidente da organização ambientalista Zero.
“Os hidrofluorcarbonetos [HFC] representam cerca de 3%” do total das emissões portuguesas de gases com efeito de estufa, explicou Francisco Ferreira. “Não é um valor muito levado, mas é problemático porque não tem parado de crescer e a ele associados uma série de electrodomésticos. Se não tivermos a recolha e o processamento adequado para os gases que estão nos equipamentos, isso fará toda a diferença", afirmou.
Estas declarações do presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável são a propósito do acordo conseguido esta madrugada, no Ruanda, entre representantes de quase 200 países, para uma redução faseada dos gases de efeito estufa usados em frigoríficos e ares condicionados, os HFC, com efeitos mais graves que o dióxido de carbono (CO2) no aumento da temperatura do planeta.
Para o especialista em alterações climáticas, este acordo conseguido no âmbito do protocolo de Montreal, “tem um significado quase tão grande como o acordo de Paris” contra as alterações climáticas.
"Portugal tem um regulamento de há dois anos, com um conjunto de exigências progressivas em que os gases com maior potencial de aquecimento global estão a ser proibidos e têm de ser substituídos por outros de menor impacto”, disse. Mas também “está em cima da mesa um conjunto de questões como criar uma taxa” para estes gases, o que já acontece, por exemplo, em Espanha, descreveu o ambientalista.
No entanto, alertou, “ainda esta semana foi relatado que metade dos equipamentos antigos, nomeadamente frigoríficos, não estão a ser devolvidos na altura da venda de novos”, o que significa que “muitos aparelhos podem não estar a ter o tratamento adequado e os gases podem ser libertados para a atmosfera”.
Por isso, “há um esforço que tem de ser feito também na fiscalização”, acrescentou.
“Os HFC são superpoluentes. Um quilo destes gases com efeito de estufa vale milhares de vezes um quilo de CO2, em termos do potencial do aquecimento global”, explicou Francisco Ferreira. “O mais dramático é que estes gases têm vindo a crescer avassaladoramente à escala mundial.”
Através deste acordo, realçou, “pode evitar-se a emissão do equivalente a 70 mil milhões de toneladas as emissões de CO2. No total, isto é quase próximo do potencial de aquecimento global de meio grau”.