Diogo Miranda e as Demoiselles de Picasso numa noite no Portugal Fashion
Segundo dia do 39.º Portugal Fashion no Porto teve Luísa Beirão e a despedida de Rúben Rua na passerelle e a actualidade na roupa.
As linhas rectas e as cores da pintura de Picasso Les Demoiselles D’Avignon saíram do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque para a colecção de Verão de Diogo Miranda, apresentada na noite desta sexta-feira no Portugal Fashion. E enquanto lá fora se escrutinava a proposta do próximo Orçamento do Estado, na Alfândega do Porto a roupa evocava temas tão duros quanto os refugiados ou tão leves quanto as nuvens.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As linhas rectas e as cores da pintura de Picasso Les Demoiselles D’Avignon saíram do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque para a colecção de Verão de Diogo Miranda, apresentada na noite desta sexta-feira no Portugal Fashion. E enquanto lá fora se escrutinava a proposta do próximo Orçamento do Estado, na Alfândega do Porto a roupa evocava temas tão duros quanto os refugiados ou tão leves quanto as nuvens.
Diogo Miranda subiu as baínhas das suas saias e ajustou as calças, criou vestidos muito curtos em veludo, seda ou missangas e convidou a modelo Luísa Beirão para abrir o desfile. “É uma colecção mais sexy. Queria trabalhar mais pele”, diz ao PÚBLICO antes das provas de roupa dos modelos. Os volumes, uma das suas imagens de marca, mantêm-se mas estão mais contidos – as cinturas continuam marcadas, os ombros alargaram em casacos com mangas em camadas e os tons são os de Picasso: castanho, rosa suave, nude e prata.
Nas últimas três estações, Diogo Miranda apresentou-se no calendário paralelo da Semana de Moda de Paris com o apoio do Portugal Fashion, mas nesta mostrou a colecção apenas na feira especializada Tranöi Femme. Embora com menos visibilidade na imprensa internacional, conseguiu contactar com compradores – 85% das suas peças são para exportação. Em Portugal o que mais vende são os vestidos de noite, que apresenta exclusivamente no Portugal Fashion.
Ao início do dia, outro registo. Susana Bettencourt é conhecida pelo seu trabalho em malhas – e prova que quase qualquer peça pode ser de malha e funcionar como uma tela de algodão doce para o Verão. Foi isso que quis fazer com Flashback, colecção para o Verão de 2017 a pensar nos seus verões de infância e a desenhar padrões digitais em jacquard que tanto podem ser as riscas estivais quanto o pinball das máquinas de jogos. Usou, sob e sobre vestidos, a tela desportiva perfurada conotada com o desporto que tanto está nas mãos dos criadores actualmente.
Camisolas, algumas peças-tendência como os crop tops ou as silhuetas 70s, e numa segunda e terceira partes da colecção escureceu a paleta e pôs branco onde estava preto, ou simplificou numa mira técnica a preto e branco. Flashback foi beber à estética de Verner Panton e viajou no tempo. Estelita Mendonça, jovem criador que começou o seu desfile em rewind, quis projectar a audiência para o passado recente. Que é bem presente – pense-se em crise dos refugiados.
Doze modelos entraram na passerelle, sem a habitual música-camuflagem, e alinharam-se. Estelita Mendonça surgiu de seguida, fez a vénia e foi-se embora com as palmas surpreendidas do público. Eles usavam vestuário de inspiração técnica, com o impermeável laranja a transmitir uma urgência não identificada. “A estação actual é um statement quanto aos apelos de auxílio humanitário por abrigos e roupas para ajudar os refugiados”, escreve o designer na apresentação da colecção. Não era só uma forma de virar o modelo do desfile ao contrário: era um começo pelo fim para focar os barcos de salvamento dos migrantes e da crise dos refugiados no Mediterrâneo. Formas rígidas típicas do fardamento, panamás, mochilas com tanto potencial comercial quanto carga simbólica e tecidos turcos com a palavra “Brave” (corajoso) bordada.
Antes dele, Carla Pontes criou estampados de nuvens em jacquards, um mar de tranquilidade em dunas beges e azul claro e muitas sobreposições em cortes limpos e toque confortável. Cloud usou também uma ganga fina em azul indigo. Numa tarde de sexta-feira de sol e com uma afluência moderada aos desfiles – só com o cair da noite e a chegada de Anabela Baldaque com a sua Gosto de Ti Até ao Japão é que vieram muito mais convidados - Daniela Barros esteve ausente por motivos de ordem pessoal, segundo a organização, e cancelou o seu desfile. Já Júlio Torcato, que regressará à passerelle do evento este sábado como designer da marca Lion of Porches, chamou à sua colecção Not Only Ordinary People, feita de homens em azul escuro e mulheres em branco, um Verão na cidade e sobretudo a trabalhar, mas com gangas claras para descontrair. No final, a paleta foi ao verde e aos beges para contrastar com as rendas de grande transparência. Eles tinham colarinhos Mao, elas vestidos soltos.
Os Samurais sem género de Hugo Costa vieram de Paris, para o Porto, com túnicas compridas, calças largas com cintos a marcar a cintura ou casacos bomber com caracteres japoneses nas costas. Miguel Vieira trouxe a sua interpretação de África Minha, a preto e branco com um leve brilho dourado, de Nova Iorque, num dos últimos desfiles do modelo Ruben Rua, que anunciou que se iria retirar das passerelles.
Já o designer de calçado Luís Onofre regressou aos sapatos para homem, depois de um interregno de vários anos nesta produção, com botas ou sapatos Oxford de atacador em pele ou camurça. Para mulher, propõe sandálias de salto alto com tiras a envolver o tornozelo em tons como o verde, amarelo, azulão, laranja e rosa.
O Portugal Fashion termina este sábado com Luís Buchinho e Katty Xiomara no novo Terminal de Leixões e com Carlos Gil ou Fátima Lopes a terminar a 39.ª edição de novo no edifício da Alfândega.