Carlos Gil, cada vez mais comercial e “menos para os holofotes”
Designer há 18 anos, Carlos Gil ganhou visibilidade ao vestir Maria Cavaco Silva. Trocou um estágio com Armani por uma fábrica têxtil portuguesa e agora constrói a sua marca de autor.
Carlos Gil trabalha no Fundão, apresenta as suas colecções de moda feminina no Porto, em Milão e vende para Xangai, Pequim ou Califórnia. Este sábado, no último dia do 39.º Portugal Fashion no Porto, mostra as Cultural Vibes de vários continentes em peças para o Verão 2017 – descreve-a como uma colecção de moda de autor, mas com um pensamento mais comercial. “Só posso pensar em internacionalização e exportação sabendo a priori que é para esse mercado-alvo que estou a trabalhar”, diz.
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Carlos Gil trabalha no Fundão, apresenta as suas colecções de moda feminina no Porto, em Milão e vende para Xangai, Pequim ou Califórnia. Este sábado, no último dia do 39.º Portugal Fashion no Porto, mostra as Cultural Vibes de vários continentes em peças para o Verão 2017 – descreve-a como uma colecção de moda de autor, mas com um pensamento mais comercial. “Só posso pensar em internacionalização e exportação sabendo a priori que é para esse mercado-alvo que estou a trabalhar”, diz.
Atraído pela “imagem” e “liberdade de espírito” das mulheres moçambicanas, país onde nasceu, Carlos Gil decidiu criar a sua marca de moda em 1998, depois de alguns anos como professor. No princípio da carreira, recusou um estágio com Giorgio Armani para trabalhar numa fábrica de confecção e ganhar a sua independência. “Queria ter outros conhecimentos. Trabalhei as colecções de homem, criança e senhora”, conta ao PÚBLICO dias antes do desfile.
Antes de criar uma nova colecção, começa por estudar o que está na moda em cada país e só depois trabalha o conceito e a inspiração. “Gosto de estar perante novas culturas, de me actualizar e estar a par de tudo o que me rodeia. Estudo muito as tendências de moda através de cadernos de tendências, de bloggers”, enumera, considerando estas últimas um veículo de divulgação importante, “uma nova profissão” que ajuda também a democratizar a moda. Em Março, ainda no calendário de desfiles da ModaLisboa (evento do qual saiu esta estação para se apresentar em exclusivo no Portugal Fashion), vestiu a brasileira Camila Coutinho, do blogue Garotas Estúpidas, que tem dois milhões de seguidores no Instagram.
Produz peças do tamanho 36 ao 50, que já desfilaram em França, Espanha, Dubai, Polónia ou Brasil mas a presença em Milão é a que “mais sentido faz” para a marca – é na capital de moda italiana que tem uma agente de compras que lida com os compradores, maioritariamente asiáticos, diz. Há um ano a apresentar-se em Milão com o apoio do Portugal Fashion, Carlos Gil admite um crescimento “ponderado” no seu volume de negócio mas não o quantifica. “A internacionalização envolve muito estudo e dedicação. A exportação vem depois, mas tive a sorte de começar logo a exportar, provavelmente porque fiz bem o trabalho de casa”, afirma.
“Depois do desfile em Setembro, esta colecção ficou em Milão num showroom e vem agora para fazer o Portugal Fashion mas volta para lá para acabar as vendas. Ter um showroom lá tem os seus custos mas ambiciono certos mercados”.
Carlos Gil ganhou maior reconhecimento público como responsável pelo guarda-roupa de Maria Cavaco Silva, que vestiu nos 10 anos de mandato de Cavaco Silva. A associação à ex-primeira dama podia tê-lo condicionado, mas o designer considera-a “um prazer, para qualquer criador, vestir a primeira dama do seu país. É uma visibilidade diferente”.
O seu Verão 2017 é “uma viagem temporal e cultural que atravessa os vários continentes”. Tem silhuetas de várias épocas, padrões de tecidos africanos, imagens que são reflexo do Japão ou da Índia, cores fortes. “As coisas têm de combinar, mas tenho sempre este objectivo de atingir vários públicos”, argumenta sobre os seus vestidos de alças com lantejoulas, camisas com transparências, macacões coloridos ou culotes. “Peças modernas mas com apontamento confortável”, descreve.
Nos planos para a marca, cada vez mais comercial e “menos para os holofotes”, estão uma loja em Lisboa e apresentações noutras semanas de moda internacionais. Sobre o sector em Portugal, é pragmático: “Hoje é trabalhada de maneira diferente, há mais universidades, escolas profissionais. O que ainda falta é alguma credibilidade na indústria associada aos designers.”