Um poema de Dylan

A letra da canção Not dark yet, do álbum Time Out of Mind (1997), publicada no livro Canções: 1962-2001 (ed. Relógio D’Água).

Foto
Bob Dylan a actuar no Wiltern Theatre de Los Angele em 2004 REUTERS/Rob Galbraith/Files

Not Dark Yet

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Not Dark Yet

Shadows are falling and I’ve been here all day
It’s too hot to sleep, time is running away
Feel like my soul has turned into steel
I’ve still got the scars that the sun didn’t heal
There’s not even room enough to be anywhere
It’s not dark yet, but it’s getting there

Well, my sense of humanity has gone down the drain
Behind every beautiful thing there’s been some kind of pain
She wrote me a letter and she wrote it so kind
She put down in writing what was in her mind
I just don’t see why I should even care
It’s not dark yet, but it’s getting there

Well, I’ve been to London and I’ve been to gay Paree
I’ve followed the river and I got to the sea
I’ve been down on the bottom of a world full of lies
I ain’t looking for nothing in anyone’s eyes
Sometimes my burden seems more than I can bear
It’s not dark yet, but it’s getting there

I was born here and I’ll die here against my will
I know it looks like I’m moving, but I’m standing still
Every nerve in my body is so vacant and numb
I can’t even remember what it was I came here to get away from
Don’t even hear a murmur of a prayer
It’s not dark yet, but it’s getting there

Ainda Não Escureceu

Descem as sombras e passei aqui o dia
Está calor a mais para dormir, o tempo foge
Sinto como se minha alma se tivesse transformado em aço
Tenho ainda as cicatrizes que o sol não sarou
Nem sequer há espaço suficiente para estar em qualquer lado
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Bem, a minha humanidade foi pelo cano abaixo
Atrás de todas as coisas belas sempre houve algum tipo de dor
Ela escreveu-me uma carta e escreveu-a de forma tão gentil [1]
Pôs por escrito o que lhe ia na mente
Só não percebo porque me havia eu de importar
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Bem, estive em Londres e estive na alegre Paris
Segui o rio e cheguei ao mar
Toquei no fundo dum mundo cheio de mentiras
Não procuro nada nos olhos de ninguém
Por vezes o meu fardo parece demasiado pesado
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Aqui nasci e aqui morrerei contra minha vontade
Sei que parece que estou a mexer-me, mas estou parado
Cada nervo do meu corpo está tão vazio e entorpecido
Nem consigo sequer lembrar-me de que fugia quando vim para aqui
Não ouço sequer o murmúrio duma oração
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Tradução de Pedro Serrano e Angelina Barbosa

[1] Citação do verso “she wrote me a letter and she wrote it so kind”, da canção Girl From The Red River Shore da autoria de Slim Critchlow. (Nota dos tradutores)