Jorge Silva Melo: "Não sei o que ficará do teatro de Dario Fo sem ele"

O encenador português recorda o Prémio Nobel da Literatura 1997 como um autor e grande performer.

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Dario Fo dr

“O Dario Fo era um extraordinário performer. Quando eu vi a sua A História do Tigre, em Berlim, fiquei muito surpreendido. No fundo, ele é um filho da televisão dos anos 50”, explica o encenador Jorge Silva Melo. Surgiu em Itália no programa da Rai Canzonissima, afirmando-se como uma vedeta da televisão nos anos 50. “Era uma espécie de Herman José, de Ricardo Araújo Pereira, um filho da televisão que libertou o discurso teatral das convenções do conflito. Passou a ser, como agora se diz, um stand-up comedian televisivo.”

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“O Dario Fo era um extraordinário performer. Quando eu vi a sua A História do Tigre, em Berlim, fiquei muito surpreendido. No fundo, ele é um filho da televisão dos anos 50”, explica o encenador Jorge Silva Melo. Surgiu em Itália no programa da Rai Canzonissima, afirmando-se como uma vedeta da televisão nos anos 50. “Era uma espécie de Herman José, de Ricardo Araújo Pereira, um filho da televisão que libertou o discurso teatral das convenções do conflito. Passou a ser, como agora se diz, um stand-up comedian televisivo.”

Depois de sair da Rai zangado com o canal público no início dos anos 60, começou a levar esse tipo de actuação para os palcos de teatro, tal como agora tantas stand-up fazem e a pouco e pouco teatralizou-a. "A História do Tigre, que é a sua obra-prima, é um conto tradicional que ele adapta a esse registo novo. Ele é o autor que prescinde do confronto, do cenário, da encenação e apresenta-se como o Dario Fo”, acrescenta Silva Melo.

O percurso de Dario Fo em Milão, que nos anos 60/70/80 "era uma cidade muito esquerdista, é muito activo e muito interessante nessa época". Foi aí que ele começou "a fazer peças mais parecidas com a televisão e com as sitcoms, como por exemplo, Não se Paga! Não se Paga!, mas é sempre aquele modelo da narrativa televisiva que ele transforma, mistura, como sendo essa a nossa cultura popular". Pouca gente, continua Silva Melo, "reflectiu tanto sobre a narrativa televisiva, ligando-a à grande narrativa chinesa, por exemplo, como o Dario Fo".

Vê-lo representar era fascinante, conta o encenador, "porque era um monstro de sapiência, sabedoria, simpatia, charme, como imagino que na América terá sido Lenny Bruce". "Não sei o que vai ficar do teatro de Dario Fo sem ele. Vi vários espectáculos em Portugal e na Alemanha a partir das peças dele e senti sempre a ausência daquele homem e da sua mulher Franca Rame. Só daqui a uns anos é que saberemos. O actor confunde-se com o autor num caso como o Dario Fo."