Centro Bio dá mais um prémio da Comissão Europeia a Portugal

O projecto, de produção de biocombustíveis a partir de produtos agrícolas e florestais que hoje não são valorizados, venceu o prémio Regiostars na categoria “crescimento sustentável”

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ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Pelo quarto ano consecutivo, Portugal foi distinguido pela Comissão Europeia com um prémio Regiostars. Desta vez o galardoado foi o Centro Bio, um projecto de Oliveira do Hospital que o seu mentor acredita ser um bom exemplo de como “o interior” é capaz de “puxar por Portugal”.

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Pelo quarto ano consecutivo, Portugal foi distinguido pela Comissão Europeia com um prémio Regiostars. Desta vez o galardoado foi o Centro Bio, um projecto de Oliveira do Hospital que o seu mentor acredita ser um bom exemplo de como “o interior” é capaz de “puxar por Portugal”.

Estes prémios são atribuídos anualmente com o objectivo de identificar boas práticas ao nível do desenvolvimento regional e de destacar projectos originais e inovadores que possam inspirar outras regiões. Os vencedores deste ano foram anunciados esta terça-feira, numa cerimónia que se realizou em Bruxelas e que foi acompanhada pelo PÚBLICO.

O “Centro Bio: Bio-indústria, bio-refinarias e bio-produtos", desenvolvido pela associação BLC3, do concelho de Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra), foi o laureado na categoria “crescimento sustentável”. O projecto contemplou, nesta fase, um investimento de 3,1 milhões de euros, 85% dos quais foram financiados pelo Programa Operacional Regional do Centro, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder).  

Em declarações ao PÚBLICO, o presidente e fundador da BLC3 congratulou-se com a conquista do Regiostars. “Um prémio é sempre importante, seja monetário ou não, mas o mais importante é o reconhecimento do trabalho, da estratégica, do que estamos a fazer”, afirma João Nunes.

“Pode ser um abrir de portas a nível internacional”, diz o responsável, que tem também a expectativa de que o reconhecimento agora conquistado “lá fora” contribua para convencer alguns cépticos “cá dentro”. Segundo conta, a simples notícia de que o Centro Bio era um dos finalistas dos Regiostars despertou a atenção de entidades várias, incluindo de um grupo de investigação do Reino Unido.

Já a presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) considera que o prémio “é uma montra para que a indústria se interesse por este projecto”, que ganha assim “visibilidade” mas também “credibilidade”. “É uma estrela no currículo do projecto”, continua Ana Abrunhosa, antecipando que a distinção pode tornar mais fácil a obtenção de financiamento, desde logo junto da própria Comissão Europeia.

A responsável diz ainda que a distinção anunciada esta terça-feira “significa que a CCDR tomou uma boa decisão” ao apoiar o Centro Bio, que como fica agora provado “é um excelente exemplo de aplicação e fundos comunitários”.

A grande aposta do Centro Bio passa pela produção de biocombustível, a partir de produtos provenientes de terrenos agrícolas e florestais. Atendendo a essa característica, João Nunes tem defendido que este é um projecto capaz não só de “valorizar o território”, mas também de ajudar a “resolver o problema dos incêndios florestais”. 

No mesmo sentido, a presidente da CCDR do Centro destaca o facto de este projecto permitir “criar valor e criar mercado para produtos que hoje não têm valor”, pegando em “sobras agrícolas, matos florestais, produtos de terrenos incultos e resíduos” e transformando-os “em matéria-prima para a bio-refinaria”.

“É uma característica muito especial, que torna este projecto querido para nós”, frisa Ana Abrunhosa. A responsável não tem dúvidas de que a sua concretização terá impactos positivos ao nível ambiental e contribuirá para diminuir o problema dos incêndios florestais na região Centro, que concentra “40% da floresta do país” e onde “os terrenos foram sendo abandonados”.

A presidente da CCDR do Centro aponta também a iniciativa em marcha em Oliveira do Hospital como geradora de emprego e como potencial incentivadora do surgimento de “novas actividades económicas e de novos empreendedores”. Algo que, observa, pode ser um contributo importante para fixar população no concelho.

“É o interior a puxar por Portugal”, resume o fundador e presidente da BLC3. Segundo João Nunes, o Centro Bio emprega neste momento 30 pessoas “a tempo inteiro”. O responsável frisa que elas vêm “de todo o país”, o que revela que este tem sido um projecto com “capacidade para atrair jovens para trabalhar no interior”.

Neste momento, a BLC3 está já a trabalhar na produção de bio-petróleo mas “a uma escala pequena”. De acordo com João Nunes, “dentro de dois meses” estará a funcionar uma unidade de demonstração industrial, investimento que será determinante “para demonstrar que é possível” cumprir aquilo a que a associação se propõe.

Depois disso, o Centro Bio não quer ficar por aqui: o fundador e presidente da associação de Oliveira do Hospital quer construir uma bio-refinaria de maiores dimensões, o que deverá implicar um investimento de 120 milhões de euros. Para que tal aconteça, frisa, há que “conquistar as entidades governativas” e “captar investimento lá fora”.

A comissária europeia para a Política Regional não esteve presente na conferência de imprensa em que foram anunciados os vencedores dos Regiostars, mas fez questão de transmitir a sua satisfação com o projecto português que foi galardoado.

"Estou especialmente contente por Portugal ganhar o prémio RegioStars numa das categorias. O Centro Bio é sobre reciclagem, uma temática que é muito importante para o nosso planeta e para os nossos cidadãos. Além disso, este projecto mostra que a inovação funciona não apenas nas grandes cidades, mas também nas zonas rurais. E é algo que representa o futuro para todos nós", afirmou Corina Cretu. 

Além do Centro Bio, a BLC3 tem também trabalhado na área do empreendedorismo (tendo marcado presença em 2015 no ranking das dez melhores incubadoras europeias e no top das melhores 25 do mundo) e na da educação. Através do projecto educativo Lab-i-Duca, a associação pretende levar a ciência às crianças dos cinco aos oito anos.

Quatro anos, quatro prémios

Ao longo dos anos, Portugal tem-se destacado nos Regiostars, que foram lançados em 2008 e são também conhecidos como os “óscares do desenvolvimento regional”. O primeiro prémio para o país chegou em 2011, ano em que foi distinguido o projecto Civitas Mimosa, desenvolvido no Funchal em prol de uma “mobilidade inovadora e sustentável”.

A partir de 2013, não houve uma edição dos Regiostars em que Portugal não fosse premiado. Nesse ano, a Comissão Europeia distinguiu o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (Uptec) e no ano seguinte foi a vez do projecto Art on Chairs, criado para promover a incorporação do design na indústria de mobiliário do concelho de Paredes.

Esta segunda-feira, na sessão de abertura da Semana Europeia das Regiões e das Cidades (que decorre entre os dias 10 e 13 de Outubro e durante a qual são entregues os Regiostars), foi exibido um vídeo do último desses projectos, apresentado às centenas de participantes no evento como um bom exemplo do funcionamento da Política de Coesão.   

Finalmente, em 2015 a laureada foi a eurocidade Chaves-Verín, projecto que segundo afirmou na altura a comissária europeia para a Política Regional, Corina Cretu, “demonstra que a integração institucional, económica, social e cultural entre duas cidades transfronteiriças é possível e traz benefícios reais”.

Dinamarca, Lituânia e Polónia também foram distinguidas

Além do Centro Bio, este ano houve quatro outros projectos premiados pela Comissão Europeia. Dinamarca, Lituânia e Polónia foram os países distinguidos, tendo o último arrecadado dois prémios. 

Na categoria “crescimento inteligente” o premiado foi o Copenhagen Cleantech Cluster, que foi lançado em 2009 com o objectivo de promover o crescimento inteligente, a inovação e a cooperação entre empresas dinamarquesas com trabalho na área das tecnologias limpas e instituições científicas. Segundo os seus promotores, este projecto já permitiu a criação de mais de mil empregos, apoiou o lançamento de 126 startups e esteve por detrás de uma série de parcerias entre entidades de diferentes regiões.

No domínio do “crescimento inclusivo” o vencedor foi a Academy of Social Economy Development Project, que nasceu na região polaca de Malopolska com a missão de unir aqueles que atravessam situações difíceis (como desempregados, cidadãos com deficiências, refugiados, doentes mentais e pessoas com problemas de abuso de substâncias) e as instituições que podem ajudá-los a integrarem-se na sociedade. Quanto aos resultados alcançados, os dinamizadores deste projecto falam em mais de 1700 beneficiários e sublinham que foi possível criar mais de 200 postos de trabalho.

Também para a Polónia foi uma distinção na categoria “CityStar”. O projecto em causa visa promover a revitalização de uma área histórica da cidade de Gdansk, operação que inclui investimentos em infra-estruturas mas também nas áreas social e cultural, atendendo a que um dos objectivos prioritários é lutar contra a exclusão social.

Finalmente, na categoria “gestão eficaz” (que foi introduzida na edição deste ano dos Regiostars) o prémio foi para um projecto na área da transparência criado na Lituânia, o Jonvabaliai. Segundo os seus promotores, esta iniciativa pretende melhorar a percepção pública da transparência com que é feita a atribuição de fundos comunitários, apostando para tal num site interactivo em que é possível conhecer os projectos que beneficiam de fundos estruturais.

Nesta que foi a nona edição dos Regiostars, foram recebidas 104 candidaturas, das quais 23 passaram à fase final. “Inovação, impacto, sustentabilidade e parceria” foram os critérios de selecção privilegiados pelo júri, liderado pelo eurodeputado Lambert Van Nistelrooij.

Na conferência de imprensa de apresentação dos vencedores, que se realizou esta terça-feira e que antecedeu a cerimónia oficial de entrega dos prémios, o eurodeputado destacou a qualidade dos projectos submetidos à apreciação do júri. Lambert Van Nistelrooij falou em “projectos excelentes” e sublinhou que para a sua avaliação é determinante perceber o impacto que têm junto dos cidadãos.

A jornalista viajou a convite da Comissão Europeia