A lampreia-do-sado está em risco de extinção
Cientistas defendem medidas de conservação urgentes.
Uma lampreia endémica de água doce que existe apenas na bacia do Sado corre perigo de extinção e os cientistas consideram que são necessárias “medidas urgentes” para a salvar.
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Uma lampreia endémica de água doce que existe apenas na bacia do Sado corre perigo de extinção e os cientistas consideram que são necessárias “medidas urgentes” para a salvar.
Dados recolhidos por uma equipa que estuda a Lampetra lusitanica, espécie sem valor gastronómico, “apontam para um declínio acentuado do número de efectivos”, disse à agência Lusa Catarina Mateus, bióloga da Universidade de Évora.
Esta lampreia, que na fase adulta mede 15 centímetros de comprimento e não migra, vive e reproduz-se num habitat que integra o rio Sado e ribeiras afluentes, no distrito de Setúbal. “Verifica-se uma redução drástica da área de distribuição desta espécie de água doce”, alertou a bióloga.
Catarina Mateus, com a colaboração de Bernardo Quintella, realizou um trabalho sobre a Lampetra lusitanica, no âmbito de um projecto financiado pelo MARE, Centro de Ciências do Mar e do Ambiente que reúne seis universidades.
Há três anos, a investigação permitiu identificar e distinguir esta espécie das demais lampreias existentes em Portugal, migradoras e não migradoras. “É uma espécie à beira da extinção, se não se fizer nada rapidamente, o que me entristece bastante, até porque foi a minha equipa que a descreveu em 2013”, disse à Lusa Pedro Raposo de Almeida, da Universidade de Évora e do MARE, que também coordena estudos sobre lampreias e peixes migradores no rio Mondego, entre a Figueira da Foz e Penacova, no distrito de Coimbra. “É urgente adoptar medidas dirigidas à conservação desta espécie e do seu habitat, caso contrário poderá extinguir-se num futuro próximo.”
A lampreia-do-sado “habita um dos rios portugueses onde a pressão das actividades humanas se faz sentir de forma notória na qualidade e na disponibilidade da água”, segundo um documento enviado à Lusa pelos investigadores. “A intermitência de algumas linhas de água é responsável por stress hídrico, condição agravada pela presença de inúmeras tomadas de água, de efluentes contaminados com resíduos orgânicos, vários focos de poluição e proliferação de espécies piscícolas exóticas.”
O núcleo populacional dessas lampreias existente na ribeira da Marateca, concelho de Vendas Novas, tem sido “particularmente importante para a sobrevivência desta espécie fortemente ameaçada”.
“A existência de espécies exóticas, como a carpa ou o peixe-gato, nunca é bom sinal”, observou Catarina Mateus, ao defender a preservação da lampreia-do-sado “sempre em colaboração com as populações” ribeirinhas, além das autarquias e dos organismos do Estado com responsabilidade na matéria.
Na sua opinião, a reabilitação do leito e das margens da ribeira da Marateca – e eventualmente de outras linhas de água da região onde ainda existem lampreias-do-sado – poderão ser determinantes para evitar a sua extinção.
Com a separação das bacias do Tejo e do Sado durante o Miocénico (época geológica que começou há cerca de 24 milhões de anos e terminou há cinco milhões de anos), a Lampetra lusitanica teve uma evolução que a autonomizou em termos genéticos e morfológicos ao longo de cinco a 11 milhões de anos, explica Catarina Mateus.