O que andam os músicos indie a fazer no Facebook?

Construir uma audiência é uma tarefa lenta, “desproporcionada” e muitas vezes frustrante para artistas sem rudimentos nem recursos financeiros para contratar ajuda profissional.

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O número de seguidores no Facebook é usado por editoras para aferir da popularidade dos músicos Paulo Pimenta

O do-it-yourself é sedutor, libertador e, para a maior parte dos músicos em início de carreira, uma fatalidade inescapável. Compor, ensaiar, gravar, distribuir, agendar, tocar, carregar e promover fazem parte do caderno de encargos de quem tenta ganhar algum espaço num mercado saturado e dominado por nomes de dimensão variável e comummente apoiados pelas respectivas editoras. O problema é que, entre a música e o trabalho braçal, há uma tarefa feita por tentativa e (muito) erro que pode comprometer tudo o resto: a comunicação.

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O do-it-yourself é sedutor, libertador e, para a maior parte dos músicos em início de carreira, uma fatalidade inescapável. Compor, ensaiar, gravar, distribuir, agendar, tocar, carregar e promover fazem parte do caderno de encargos de quem tenta ganhar algum espaço num mercado saturado e dominado por nomes de dimensão variável e comummente apoiados pelas respectivas editoras. O problema é que, entre a música e o trabalho braçal, há uma tarefa feita por tentativa e (muito) erro que pode comprometer tudo o resto: a comunicação.

A maior parte dos utilizadores das redes sociais não terá, provavelmente, os rudimentos necessários para construir uma audiência e mantê-la. Os músicos indie — entendidos como os que não estão ligados a editoras — integram essa putativa maioria. Os primeiros indicadores de que assim é foram publicados na edição de Outubro no Journal of Technical Writing and Communication e vêm da Universidade Estadual da Carolina do Norte, EUA.

O académico Stephen Carradini, que está a escrever a sua tese de doutoramento sobre o tipo de organização destes músicos, a que está a chamar de “estrutura construída” — e que mistura as características menos vantajosas da burocracia e da adocracia —, publicou o estudo preliminar An Organizational Structure of Indie Rock Musicians as Displayed by Facebook Usage. As conclusões, que têm em conta entrevistas a 18 músicos, dão pistas importantes sobre as dificuldades de um subsector ainda pouco estudado.

“Os músicos indie rock são péssimos na comunicação empresarial”, titulou a Pitchfork (a expressão inglesa usada foi “suck at”). O autor é mais cauteloso. Até porque estes dados não são extrapoláveis e centram-se nos músicos que usam o Facebook (faltam inquiridos, diversidade de meios e estudar as acções offline). Além de que Carradini encontrou alguns híbridos promocionais interessantes — um dos músicos cria cartazes para cada concerto, imprime-os e anuncia nos Facebook que os oferecerá a quem o for ver.

Mas há um padrão: “Promover um produto musical não-adaptativo [é o mercado que tem de se adaptar e não o produto] para audiências pré-existentes e eventuais obriga a [investir] uma quantidade desproporcionada de tempo”. Os anúncios “frios” do Facebook dão pouco ou nenhum retorno, mas são vistos como um investimento obrigatório — o algoritmo da rede social impede que as publicações cheguem a todos os seguidores de forma orgânica (não era bem esta a ideia dos Black Flag quando, em 1979, decidiram eliminar os intermediários, dando início ao movimento de música independente, segundo Carradini).

O crescimento é lento “mesmo para os mais trabalhadores”, lê-se no estudo. “A estrutura construída é a única estrutura organizativa estudada até agora (...) que não tem um benefício imediato para os trabalhadores.” Ao contrário dos que trabalham com editoras ou profissionais da comunicação, os músicos independentes não aperfeiçoam o uso destes meios ao longo de anos nem podem passar esse conhecimento, como acontece dentro de uma empresa. Nem podem substituir-se a si próprios por alguém mais actualizado quando uma plataforma muda substancialmente ou passa de moda e é marginalizada.

Para agravar tudo, o número de seguidores é a bitola corrente para a sua popularidade, tanto pelos próprios como por outros, ainda que todos saibam que a margem de erro pode ser elevada. Isso afecta as oportunidades que se lhes oferecem e que lhes podem abrir portas à ajuda profissional de que necessitam — os agentes e as editoras só se interessam por quem tem um confortável número de “gostos” na página. “Para investirem em ti, têm de saber que é certo que lhes vais fazer dinheiro. Já não se arrisca”, lamenta um entrevistado. Ou seja: o futuro de um músico depende de um trabalho de promoção que não domina.

Carradini aponta a “perda de interesse” das grandes editoras como um factor determinante na “independência” imposta a estes músicos. Estão sozinhos. (Embora, se há algo em que o Facebook lhes está a servir, é na criação de redes de contactos.) Mas não são negligenciáveis. Como sublinha o autor, desempenham um “papel vibrante” na economia das cidades. É também por isso que importa acompanhar o trabalho deste académico.