Ser mulher hoje, do sexo na cidade até ao Divorce, com Sarah Jessica Parker
É o primeiro grande papel televisivo de Sarah Jessica Parker em 12 anos, a actriz que continua a representar uma parte da vida sentimental do século XXI. Carrie já não mora aqui - mudou-se para os subúrbios.
Sarah Jessica Parker é uma daquelas actrizes que se confundem com um papel - não só o de Carrie Bradshaw, mas o de protótipo da vida sentimental da mulher adulta nos últimos 20 anos. Apesar da longa carreira no cinema, onde trabalhou com David Mamet ou Tim Burton, confunde-se também com um meio e um formato - o da série de televisão, à qual volta agora, e ao lugar onde foi muito feliz com a emblemática O Sexo e a Cidade. Foi uma solteira borbulhante na TV, casou-se no cinema e agora chegou a altura de Divorce, outra vez na televisão e em simultâneo nos EUA e em Portugal.
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Sarah Jessica Parker é uma daquelas actrizes que se confundem com um papel - não só o de Carrie Bradshaw, mas o de protótipo da vida sentimental da mulher adulta nos últimos 20 anos. Apesar da longa carreira no cinema, onde trabalhou com David Mamet ou Tim Burton, confunde-se também com um meio e um formato - o da série de televisão, à qual volta agora, e ao lugar onde foi muito feliz com a emblemática O Sexo e a Cidade. Foi uma solteira borbulhante na TV, casou-se no cinema e agora chegou a altura de Divorce, outra vez na televisão e em simultâneo nos EUA e em Portugal.
A nova série da HBO estreia-se às 3h desta segunda-feira (para quem quer ver o domingo será longo) no TV Séries e repete em horário nobre dia 13, às 22h30. Divorce devolve a actriz à HBO de O Sexo e a Cidade e a narrativa do amor no século XXI volta a projectar-se em Sarah Jessica Parker, 12 anos depois de Carrie. Carrie já não vive aqui, mudou-se para os subúrbios. Ou melhor, como sublinhou ao diário The New York Times contrariando a associação fácil, “isto não é Carrie nos subúrbios” porque a sua nova personagem, Frances, mora lá desde que a colunista e “antropóloga sexual” criada por Candace Bushnell nos anos 1990 ainda andava a livrar-se de “solteiros tóxicos” ou a lidar com o fim de uma relação através de um recado num post-it. A luta para descolar de uma personagem é eterna, mas afectuosa. “Não quero acabar com essa associação” entre actriz e personagem, disse à agência Associated Press. Mas quer ser outra.
O Sexo e a Cidade (1998-2004) foi seguida por dois filmes, epílogos sobre o casamento e as suas crises (2008 e 2010) e poderá vir a ter um terceiro. Nele, Bradshaw é um “boneco” de uma mulher ocidental, é certo, branca, heterossexual e cosmopolita, numa Nova Iorque que não é para freelancers (muito menos com centenas de sapatos de luxo). Mas mesmo assim tornou-se numa referência pop comum. Uma imagem mantida viva pela coincidência de se ter colado à actriz uma parte importante da personagem - parte da aspiração televisiva Carrie Bradshaw era a moda, com a curadora do museu Victoria&Albert, Jenny Lister, a dizer ao PÚBLICO há um punhado de anos que a personagem será um dos poucos “ícones de moda” das últimas décadas a resistir à passagem do tempo nesta era veloz das redes sociais.
Mesmo que a sua intérprete garanta que “a vida de Bradshaw não é nada, nada” como a sua, como sublinhou em tempos à revista Vogue, Parker é uma residente das passadeiras vermelhas na imaginação colectiva, mas não teve tanto sucesso a habitar personagens cinematográficas memoráveis. Vive na comédia romântica. É casada com Ferris Bueller, ou outro actor colado à sua personagem maior, Matthew Broderick, e no cinema foi mãe e profissional, (outra vez) perita em solteiros, perdeu a cabeça com Tim Burton em Marte Ataca!, entrou em Footloose e foi uma miúda de Los Angeles em LA Story. Contudo, os seus maiores sucessos no meio foram mesmo com Carrie. Sarah Jessica Parker foi símbolo do que é ser solteira na capa da Time em 2000 e agora quer falar, outra vez, com a sua geração, com Thomas Haden Church como o seu marido televisivo.
Depois de pensar que não voltaria à TV e aos seus horários, a arte imita a vida e, como mulher de 51 anos, “muitas pessoas que conheço estão num ponto muito interessante nas suas relações, a avaliar onde estão contra onde pensavam que estariam, há pessoas a ponderar ter casos, a ter casos ou com casamentos destruídos”, disse à Associated Press. Foi o que a fez voltar.
Se essa personagem descolará ou não cabe aos oito episódios da série prová-lo. James Poniewozik, colunista do New York Times, esclarece que a série não é como O Sexo e a Cidade - “é mais uma comédia sobre o tipo de pessoas que viam O Sexo e a Cidade, mas 18 anos mais tarde”. A crítica não está esfuziante, dando ainda assim uma média positiva à série criada por Sharon Hogan (Catastrophe). “Sou actriz” e agora é a vez de Frances, diz Parker: “Estamos a pedir mais do público. Pedimos que sejam parte do combate. Acho que a sua relevância é a mesma de O Sexo e a Cidade. É só diferente”.