Na ModaLisboa, Filipe Faísca lançou rosas e Olga Noronha colheu o fado

A 47.ª edição chega ao fim com o Verão de 2017 sob o signo da identidade portuguesa e de um certo passado.

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Não foi exactamente um milagre das rosas, mas foi um final à Filipe Faísca – braçadas de flores lançadas pelo próprio para um público surpreendido depois de um desfile que queria questionar o que é a moda hoje e os conceitos de retro ou temporalidade. No fundo, eram sobretudo vestidos, que esticaram as costuras da sala principal de desfiles com a enchente de público na recta final da 47.ª ModaLisboa. Antes, cantou-se o fado. O da filigrana e de Mariza, o do hip hop misturado com a tradição, ou Olga Noronha a criar joalharia vestível emocionada e Patrick de Pádua streetwear de negrume à portuguesa.

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Não foi exactamente um milagre das rosas, mas foi um final à Filipe Faísca – braçadas de flores lançadas pelo próprio para um público surpreendido depois de um desfile que queria questionar o que é a moda hoje e os conceitos de retro ou temporalidade. No fundo, eram sobretudo vestidos, que esticaram as costuras da sala principal de desfiles com a enchente de público na recta final da 47.ª ModaLisboa. Antes, cantou-se o fado. O da filigrana e de Mariza, o do hip hop misturado com a tradição, ou Olga Noronha a criar joalharia vestível emocionada e Patrick de Pádua streetwear de negrume à portuguesa.

Retrospectiva era o tema de Faísca, que começou com Brigitte Bardot em Viva Maria! (1965) a lembrar "c'est merveilleux, l'amour" numa projecção, para depois recolher as inspirações campestres que foram dos peitilhos das jardineiras (mas de cabedal sobre saia plissada) aos favos como forma de criar floreados nos tecidos leves, tudo numa cesta à moda de Jane Birkin. Depois de se ouvir Cream, de Prince, e gemidos prazenteiros na banda sonora, as muitas rosas completaram o valor-espectáculo da colecção Verão 2017. Palmas e rosas – mais uma imagem para a posteridade, a evocar aquela que a jovem designer de joalharia Olga Noronha levou do seu desfile ao início do derradeiro dia do evento: Ode eram vestidos armadura, rainhas de copas entre Lewis Carroll e Viana do Castelo, recortes em alumínio dourado com Carlos Paredes ou Mariza (presente na sala como "musa" da autora) a tocar. Um desfile de joalharia vestível, ou joalharia-vestido, na plataforma de micromarcas LAB, com peças que normalmente são vendidas a coleccionadores do sector da arte. Emocionada, no fim, nos braços de Mariza, Olga Noronha está prestes a voltar a Portugal depois de muitos anos a viver em Londres. Considera a intérprete de Ó Gente da Minha Terra a "intermediária" entre Amália e a nova geração da canção portuguesa. O seu regresso a casa, depois de se ter estreado na ModaLisboa com o original projecto de joalharia ortopédica em 2013, tinha de ser com a fadista. 

Depois de Nuno Gama ter desenhado uma bandeira portuguesa com modelos na Praça do Império no sábado, esta ModaLisboa esteve particularmente sob o signo da identidade portuguesa e de um certo passado e a olhar intrigadamente para a frente. Patrick de Pádua, graduado do Sangue Novo para o LAB, foi também explorar o Fado para o Verão 2017. Resolutamente urbano para os homens que escolhem o negro e os tecidos sintéticos sem medo do rosa, do pêlo e das redes, foi mais um jovem criador a explorar o terreno desportivo na ModaLisboa, com fitas a pender de calções e calças. O mesmo tipo de linguagem em que Ricardo Andrez optou por transformar homens e mulheres em modelos sem rosto com fatos completos em licra para depois lhes sobrepor, então, a sua colecção Perhaps – camisolas com mangas extralongas, vestidos desconstruídos onde talvez o género não importe.

O dia de domingo começou com Ricardo Preto e a sua colecção feminina para uma marca filipina e teve ainda os Caminhos da Alma da angolana Nadir Tati. Ao cair da noite foram Os Vampiros de Zeca Afonso que encerraram o desfile de Kolovrat. Primeiro com um som disruptivo, com homens com os corpos pincelados a preto, túnicas com capuz, malhas a desfiar e calças com fechos. Uma estética tanto "industrial como romântica", descreve Lidija Kolovrat.

Mas a festa chegou, no fim, com Luís Carvalho. Com uma bola de espelhos a iluminar a sala de desfiles, Alex dos D'Alva encarnou Debbie Harry, dos Blondie – a inspiração para a colecção de Verão do criador de Vizela, muito diferente das últimas, mais minimalistas e com cores mais sóbrias. Tudo começou, contou Luís Carvalho ao PÚBLICO no primeiro dia da ModaLisboa, com uma malha vermelha com acabamento de plástico, que tem efeito de escama e é acolchoada. Depois a colecção cresceu e em 47 coordenados (37 femininos e dez masculinos) tem lantejoulas prateadas, bodies em lamé, calções e macacões curtos. As cores são azul forte, verde, cor-de-rosa. Na passerelle, ao som da música Heart of Glass, as peças desfilaram com styling de João Pombeiro e fitas nas cabeças com cabelos volumosos.

A 47.ª edição da ModaLisboa teve movimentos semelhantes aos das últimas edições, entre o Pátio da Galé e os desfiles de menor dimensão em salas na Praça do Município, com um par de desfiles off location, em Belém e no salão do patrocinador automóvel de luxo. As salas foram reconfiguradas, detalha a organização, com menos cerca de 70 lugares em relação aos habituais 1000 na sala maior, mas com espaço em pé para as horas/desfiles de ponta – que se verificaram a espaços, mesmo com a ausência de quatro criadores com muito público no calendário, mas mais centradas nas últimas horas de sábado e domingo.