Anna Meredith: a compositora clássica que se libertou na pop

Uma reconhecida compositora clássica, Anna Meredith transformou-se este ano numa das figuras mais celebradas da pop mais livre, graças ao álbum Varmints. Apresentação esta segunda-feira, no CCB, em Lisboa.

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“A música que fiz neste álbum permitiu libertar-me ainda mais. A música tem regras, mas não tem fronteiras” DR

O caminho entre compor para a BBC Scottish Symphony Orchestra e lançar um exaltante disco de pop electroacústica foi feito com a maior das naturalidades pela escocesa Anna Meredith. “A técnica, o tipo de criatividade, o foco e a energia que coloco na composição de música clássica é o mesmo que apliquei na feitura das canções do álbum”, diz-nos ela, ao telefone, falando de Varmints, a celebrada obra de estreia que lançou em Março deste ano e que vem apresentar esta segunda-feira ao pequeno auditório do Centro Cultural de Belém, pelas 21h, em Lisboa.

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O caminho entre compor para a BBC Scottish Symphony Orchestra e lançar um exaltante disco de pop electroacústica foi feito com a maior das naturalidades pela escocesa Anna Meredith. “A técnica, o tipo de criatividade, o foco e a energia que coloco na composição de música clássica é o mesmo que apliquei na feitura das canções do álbum”, diz-nos ela, ao telefone, falando de Varmints, a celebrada obra de estreia que lançou em Março deste ano e que vem apresentar esta segunda-feira ao pequeno auditório do Centro Cultural de Belém, pelas 21h, em Lisboa.

Não é um disco qualquer. Trata-se de celebrar a liberdade de forma inequívoca, explorando diálogos entre electrónica, pop e clássica, ou entre o orquestral, o analógico e digital. Nada de inusitado para quem, aos 37 anos, já andou pela música de câmara, compôs sinfonias para orquestra, criou uma peça percussiva para o corpo e lançou dois EPs de sensibilidade pop. É um disco surpreendente entre climas orquestrais expansivos e desvairadas canções electrónicas com algo de eufórico. Mas não existe dispersão, com as canções focalizadas na mesma elevação emocional.

“Às vezes dizem-me que o álbum reflecte uma série de géneros musicais em colisão mas não consigo olhar para ele dessa forma. Consigo vislumbrar o mesmo tipo de harmonias e de energia em todas as canções, independentemente das formas que elas vão adoptando”, afirma. Em Portugal pela primeira vez, diz-nos que ao vivo se encarrega de electrónicas e voz, acompanhada por baterista, guitarrista e violoncelista.

Começou por tocar clarinete nas orquestras da sua cidade adoptiva, Edimburgo, licenciando-se depois em música pela Universidade de York, acabando por completar um mestrado em música na área de composição pela Royal College Of Music. Ao longo dos anos foi compositora residente para a BBC Scottish Symphony Orquestra, criou música para instalações em jardins de Hong Kong ou partilhou o palco com Anna Calvi ou James Blake, enfim, um percurso multifacetado que acaba por se traduzir na sua música, sempre com algo de intrigante mas também de reconhecível.

Ao vivo, diz ela, os arranjos são diferentes, proporcionando um tipo de atmosfera diversa daquela que se pode ouvir em disco. “Durante anos, na minha ligação à música erudita, confrontava-me com ambientes muito padronizados, polidos e solenes, mas sempre gostei de atmosferas intensas, os meus concertos preferidos tendem a conter algo de selvagem. Não diria que é o nosso caso, mas existe muita energia em palco. É algo que me dá prazer. É excitante ver as pessoas desfrutarem da música.”

A composição do álbum pertenceu-lhe, tendo sido auxiliada por alguns músicos na definição estrutural dos temas, antes da edição e produção final também da sua autoria. “Inspiro-me muito em formas gráficas quando estou a criar”, revela ela, “é como ter um papel em branco e desenhar uma linha à qual se vão sucedendo uma série de outras que acabam por compor qualquer coisa de forma mais definida, um triângulo, um rectângulo ou algo mais indefinível. Gosto de visualizar a música. Isso ajuda-me a compreender que tipo de ambiente que desejo projectar.”

O circuito da música pop não lhe é estranho, embora a aclamação generalizada do seu álbum de estreia tenha contribuído para que não mais parasse nos últimos meses. “Acaba por ser tudo novo para mim, esta dinâmica de concertos, viagens, hotéis, mas estou a desfrutar. Na escala onde me situo é tudo ainda muito exaustivo, é trabalho a sério, não existem grandes infra-estruturas, mas não me queixo.” É verdade. Está longe de ser uma figura globalmente conhecida, mas o culto à sua volta ampliou-se imenso nos últimos meses. Por vezes é comparada a Björk, não tanto pela voz ou som, mas pela atitude exploratória perante a música.

“Acima de tudo, sinto-me aliviada”, ri-se ela, discorrendo sobre a aceitação do disco. “Quando se gastou tanto tempo e se investiu dinheiro espera-se algum tipo de retorno emocional e foi óptimo quando comecei a perceber que o disco iria ser compreendido pelas pessoas.” O que, de alguma forma, parece tê-la apanhado desprevenida, confessa. “Tinha receio que as pessoas me pusessem numa prateleira por ser compositora clássica, mas não senti nada disso. Limitaram-se a desfrutar do álbum, assimilando-o das mais diversas maneiras o que me deixou satisfeita.”

Na actualidade move-se entre os dois campos. Continua a receber encomendas de composição e está cada vez mais motivada para continuar a mover-se no circuito pop. “A música que fiz neste álbum permitiu libertar-me ainda mais. A música tem regras, mas não tem fronteiras.”