Nos desfiles de Verão de Nuno Gama, "junta-se a fome com a vontade de comer"
Os desfiles de Nuno Gama, como o que este sábado decorre na Praça do Império, em Belém, aberto ao público, são um dos marcos da ModaLisboa. Há convidados especiais, animais, testosterona e espectáculo.
Encara o dispositivo do desfile de forma particular – quando convidou os primeiros não-manequins a mostrar as suas colecções e decidiu apostar na encenação?
Sempre o fiz. Acho redutor ser sempre manequim-manequim-manequim. A vida resume-se a uma coisa: às pessoas. Os manequins têm a excelência de serem profissionais, mas também temos de fazer o exercício de mostrar às pessoas que aquilo não é só para eles. O que se tenta fazer nessa desmistificação dos cânones de beleza, que são reais, dos quais não fugimos e com os quais compactuamos, é desmontar este boneco: esta roupa pode ser para todos, desde que se tenha estilo para ela.
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Encara o dispositivo do desfile de forma particular – quando convidou os primeiros não-manequins a mostrar as suas colecções e decidiu apostar na encenação?
Sempre o fiz. Acho redutor ser sempre manequim-manequim-manequim. A vida resume-se a uma coisa: às pessoas. Os manequins têm a excelência de serem profissionais, mas também temos de fazer o exercício de mostrar às pessoas que aquilo não é só para eles. O que se tenta fazer nessa desmistificação dos cânones de beleza, que são reais, dos quais não fugimos e com os quais compactuamos, é desmontar este boneco: esta roupa pode ser para todos, desde que se tenha estilo para ela.
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Percebeu cedo o star power – tem caras conhecidas na passerelle, usa a encenação. Procura-o só nos desfiles ou no todo da marca?
São pessoas que, estando num star system, fazem parte da marca. Estamos juntos em amizade. É lógico que é bom para a marca, mas o conteúdo é o principal. Nesta ModaLisboa vamos tentar mudar um pouco, com muita cautela – não podemos arriscar espantar ninguém, precisamos é de clientes e não de os afugentar. Somos muito mais ricos na nossa multiplicidade e esta colecção é um hino à recuperação da tolerância. Vamos ter um look de jovens esperanças, uma mensagem de esperança e também de legado.
Tem seguramente noção do efeito dos seus desfiles, especialmente nas colecções de Verão, quando lança fatos de banho numa sequência de homens que produzem estímulos… Foi intencional ou um formato que foi encontrando?
Estímulos sexuais, é isso. (risos) A minha vida íntima pertence-me, mas não implica que não possa falar de sexo, porque, se não houver sexo, isto acaba tudo amanhã. Não tenho esse tabu. Desde o pós-guerra que a nudez feminina está exposta em todo o lado e felizmente que as coisas evoluíram e o homem tem tanto direito de se revelar. Nos desfiles, uma colecção de homem completa tem fatos de banho, como tem sapatos, cintos, gravatas. É um momento de glória para quem os veste, porque exibem o seu trabalho com o seu corpo, e quem está a ver pode fazer quase um casting do que gosta ou não – junta-se a fome com a vontade de comer [risos]. Faz todo o sentido.
Qual é a sua relação com a moda feminina? Já a fez, deixou e voltou…
Ainda falta fazer muita coisa no universo masculino. Falta o perfume Nuno Gama, a cosmética masculina Nuno Gama, o relógio que desenho e redesenho há anos… Gosto de fazer senhora em discurso directo, algo para quem está à minha frente, perceber o que a pessoa quer e reagir a isso. Fazer uma colecção feminina… Talvez no dia em que possa estar mais livre da carga da empresa tenha mais tempo. A porta não está de todo fechada.