Representantes portugueses em Veneza escolhidos por concurso em 2018

À semelhança de outras áreas de financiamento, a presença portuguesa nas bienais de Veneza e de São Paulo passará a ser objecto de concurso, anuncia o secretário de Estado da Cultura. A nível interno, as políticas culturais deverão passar a contar com o contributo das autarquias.

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O secretário de Estado da Cultura passou pelo Teatro Viriato e pela EGEAC antes de chegar à Secretaria de Estado da Cultura Rui Gaudêncio

Na ideia de que o apoio às artes não se deve limitar ao financiamento está também integrada uma maior articulação com as autarquias?
Absolutamente. Por isso é que digo que o novo modelo não deve ser apenas focado nas questões de financiamento. O poder autárquico tem-se mostrado fundamental para um desenvolvimento cultural mais equilibrado do território. A aproximação e sobretudo uma inclusão das autarquias na definição de políticas culturais são fundamentais para que atinjamos uma maior simetria de oportunidades. A par de outras áreas governativas e de outras políticas como a inserção social, o emprego, o desenvolvimento da economia, a descentralização, a cultura tem uma palavra determinante a dizer sobre  os objectivos do plano nacional de reformas, nomeadamente no que à coesão social e à inovação diz respeito. Pede-se muitas vezes o contributo das autarquias, mas não se dá às autarquias também a hipótese de contribuir activamente na definição de políticas culturais do território.

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Na ideia de que o apoio às artes não se deve limitar ao financiamento está também integrada uma maior articulação com as autarquias?
Absolutamente. Por isso é que digo que o novo modelo não deve ser apenas focado nas questões de financiamento. O poder autárquico tem-se mostrado fundamental para um desenvolvimento cultural mais equilibrado do território. A aproximação e sobretudo uma inclusão das autarquias na definição de políticas culturais são fundamentais para que atinjamos uma maior simetria de oportunidades. A par de outras áreas governativas e de outras políticas como a inserção social, o emprego, o desenvolvimento da economia, a descentralização, a cultura tem uma palavra determinante a dizer sobre  os objectivos do plano nacional de reformas, nomeadamente no que à coesão social e à inovação diz respeito. Pede-se muitas vezes o contributo das autarquias, mas não se dá às autarquias também a hipótese de contribuir activamente na definição de políticas culturais do território.

Em paralelo com essa política de articulação com as autarquias, e que era algo de que falava já em 2004 quando estava no Teatro Viriato, há também uma preocupação específica com a internacionalização das artes portuguesas. De que forma se vai concretizar?
Mais uma vez, a internacionalização vive de um maior desafogo financeiro que possamos ter, mas essa é também só uma componente da questão. Há muito em termos de acção cultural externa de promoção e de difusão dos artistas portugueses, das suas criações e de tudo aquilo que é a produção cultural portuguesa a desenvolver em articulação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Neste momento está quase concluída uma definição estratégica daquilo que poderá ser para 2017 essa acção cultural externa, já praticamente na forma de uma resolução do Conselho de Ministros.

Falando do exemplo da Bienal de Veneza, qual é a estratégia do ministério para a presença portuguesa na ausência de pavilhão do país e da escolha directa de representantes?
Deve haver um modelo concursal. Esta co-optação directa pelo Estado não nos parece o sistema mais interessante para uma representação nas bienais, com o valor simbólico que ela tem e sobretudo se estamos a lançar uma política de maior proximidade com os artistas e com o sector, que tem em si valores de relação democrática. A Bienal de Veneza e a Bienal de São Paulo, a breve trecho, passarão a ter um tratamento que passa por um sistema concursal como fazemos noutras áreas de atribuição de financiamento.

Isso implica alterações já no próximo ano, em que estão previstas intervenções de José Pedro Croft?
No próximo ano vamos continuar com o processo que já tinha sido iniciado antes de chegarmos. Mas a partir de 2018 vamos fazer todos os esforços para que haja uma mudança de paradigma a esse nível.

Pensando no seu percurso, da direcção do Teatro Viriato, passando pela EGEAC de Lisboa e chegando agora à Secretaria de Estado: esta escala de intervenção política fazia parte dos seus planos?
A partir de uma determinada altura os nossos planos são relativos. Há uma altura na vida em que, em vez de se escolher, passa-se a ser escolhido. Foi isso que aconteceu. Tenho um percurso que toda a gente considera, passe a imodéstia, consistente, e que acho que é um percurso coerente que me leva a estas funções. Sou uma pessoa que vem do terreno. Conheço muito bem a realidade, porque trabalhei nela quase 30 anos e a partir de uma determinada altura fui sendo escolhido para exercer funções cada vez mais ligadas à definição de políticas, quer a nível de um pequeno teatro, quer a nível de uma cidade, e agora estou na escala nacional. Quando me dirigiram este convite, pensei nele, e penso ainda todos os dias se serei capaz de fazer alguma coisa, mas também achei que seria a minha vez de contribuir, sobretudo para um sistema que tantas vezes critiquei.