Chimpanzés e orangotangos também percebem o que vai na cabeça dos outros
Reconhecer as crenças dos outros é uma capacidade central em muitos comportamentos humanos.
Utilizando vídeos caseiros que mostravam uma pessoa vestida com um fato de King Kong, uma equipa de cientistas documentou uma capacidade cognitiva extraordinária comum a chimpanzés, bonobos e orangotangos: a capacidade humana de reconhecer que as crenças dos outros estão erradas.
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Utilizando vídeos caseiros que mostravam uma pessoa vestida com um fato de King Kong, uma equipa de cientistas documentou uma capacidade cognitiva extraordinária comum a chimpanzés, bonobos e orangotangos: a capacidade humana de reconhecer que as crenças dos outros estão erradas.
Publicada na edição desta semana da revista Science, a investigação demonstrou que os grandes símios, os nossos primos mais próximos do ponto de vista evolutivo, têm uma capacidade que até agora se pensava ser exclusiva das pessoas. Nas experiências, os cientistas mostraram individualmente a vários símios vídeos nos quais aparecia um actor humano e uma pessoa vestida com a personagem do King Kong. O movimento dos olhos dos grandes símios era monitorizado. No vídeo, a pessoa estava a observar o King Kong a esconder um objecto numa de duas caixas. Quando a pessoa saía, o King Kong mudava o objecto para um novo lugar. E quando a pessoa regressava para procurar o objecto, os símios olhavam intensamente para o lugar original, antecipando que a pessoa iria procurá-lo aí. Mesmo sabendo que o objecto tinha mudado de sítio, os símios percebiam que o humano pensava que estava aí, explicou um dos coordenadores do estudo, Fumihiro Kano, psicólogo comparativo na Universidade de Quioto, no Japão.
A capacidade de perceber os pensamentos e as emoções dos outros está no centro de muitos dos comportamentos sociais humanos, incluindo as nossas formas únicas de comunicação, cooperação e cultura, disse outro coordenador do estudo, Christopher Krupenye, psicólogo comparativo no Instituto Max Planck para a Antropologia Evolutiva, na Alemanha. No centro desta capacidade está a compreensão de que as acções dos outros não são necessariamente guiadas pela realidade mas pelas suas crenças sobre a realidade, mesmo quando ela é falsa, acrescentou Christopher Krupenye.
As crianças humanas desenvolvem completamente esta capacidade de compreensão por volta dos quatro ou cinco anos. “Os grandes símios são incrivelmente inteligentes, o que não é assim tão surpreendente, uma vez que são os nossos parentes mais próximos, mas penso que muitas pessoas subestimam as capacidades cognitivas dos animais em geral”, disse Christopher Krupenye.
Ao estudar os grandes símios, os investigadores procuram aprender quais os aspectos da psicologia que são únicos das pessoas e quais é que são partilhados com outros símios, sendo assim provável que já estivessem presentes no antepassado comum a todos eles que viveu há cerca de 13 a 18 milhões de anos antes da separação da linhagem evolutiva entre os humanos e as outras espécies, referiu ainda Christopher Krupenye.
Estudos anteriores, acrescentou este investigador, já tinham mostrado que os grandes símios conseguem compreender os objectivos e as intenções dos outros, saber o que eles vêem e perceber o que eles sabem tendo em conta o que viram.