Independência
A notícia da escolha de António Guterres para próximo secretário-geral das Nações Unidas, resultante da sexta e mais decisiva votação no seio do Conselho de Segurança que, por acaso, ocorreu a 5 de Outubro, data em que, em Portugal, se comemora a implantação da República, faz jus a um ditado francês que pretende que “le hasard fait bien les choses”. Assim, desta feita, podemos este ano associar à celebração dos valores republicanos este triunfo de António Guterres por tudo o que ele representa para o próprio, naturalmente, mas também para o país e, sobretudo, para as Nações Unidas. Ou seja, para parafrasear o referido ditado, há coincidências felizes. Reconhecê-lo pode não ser essencial, mas sabe bem.
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A notícia da escolha de António Guterres para próximo secretário-geral das Nações Unidas, resultante da sexta e mais decisiva votação no seio do Conselho de Segurança que, por acaso, ocorreu a 5 de Outubro, data em que, em Portugal, se comemora a implantação da República, faz jus a um ditado francês que pretende que “le hasard fait bien les choses”. Assim, desta feita, podemos este ano associar à celebração dos valores republicanos este triunfo de António Guterres por tudo o que ele representa para o próprio, naturalmente, mas também para o país e, sobretudo, para as Nações Unidas. Ou seja, para parafrasear o referido ditado, há coincidências felizes. Reconhecê-lo pode não ser essencial, mas sabe bem.
Perante uma actualidade conturbada e um mundo cheio de desafios e contradições, marcado por inúmeros impasses, atritos e desentendimentos que ameaçam sempre mais a paz mundial, a escolha de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas é uma excelente notícia. Toda a sua candidatura, desde o primeiro momento em que foi lançada, se articulou em torno de uma afirmação vigorosa da sua independência, da sua integridade, da sua capacidade de diálogo e de construir pontes, bem como de uma visão forte do multilateralismo e do papel insubstituível das Nações Unidas na regulação de um mundo globalizado, em que não há soluções isoladas para problemas que são, quase todos, transnacionais. A sua escolha, sufragada por todo o Conselho de Segurança, é um sinal forte de esperança para o futuro.
Pela primeira vez na história das Nações Unidas, houve um candidato a secretário-geral que superou sucessivas provas, que se destacou de forma constante e permanente, como sendo o melhor e o mais bem preparado. Pela primeira vez, os candidatos defenderam publicamente a sua visão do cargo, da organização e do estado do mundo num processo pioneiro que se revestiu de transparência e rigor, mesmo se não dispensou negociações várias e intensa diplomacia, como é usual nestas circunstâncias. Esta alteração de um processo até agora marcado pela opacidade total é de saudar, trazendo credibilidade acrescida ao chamado sistema internacional e sendo outrossim portador de garantias reforçadas de que a mudança para melhor, afinal, é possível.
O desfecho da votação de hoje é, desta forma, um sinal encorajador de que a comunidade internacional se pauta por valores e princípios que não se compadecem com golpes de última hora nem com arranjos de poder mal-amanhados.
O mandato de António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas terá lugar num tempo extremamente complexo, marcado por incertezas várias e por uma imperiosa necessidade de pacificar as relações entre os povos, pôr fim a violentos conflitos que grassam em várias regiões do mundo e assegurar a construção de um mundo mais igual, marcado pela afirmação dos direitos, da justiça e pelo desenvolvimento sustentável. Desejo-lhe as maiores felicidades, na convicção firme de que terá em Portugal, na nossa diplomacia, bem como nos portugueses e nas portuguesas aliados certos.