Construção de nova ponte em Belém foi interrompida em 2013. Autores desconhecem razão

Construção da ponte fazia parte projecto do novo Museu dos Coches, mas ficou-se por “um braço amputado”, hoje envolto em tapumes. Viria substituir a ponte fechada no feriado por falta de segurança.

Foto
A construção da ponte terá um custo de 1,5 milhões de euros Fábio Augusto

No início de 2013, as obras do novo Museu dos Coches pararam e o edifício foi inaugurado, em 2015, tal e qual como estava. “Houve muitas coisas que ficaram por fazer”, entre as quais uma ponte que ligaria a zona do museu à frente ribeirinha do Tejo, passando por cima da linha do comboio, disse ao PÚBLICO Ricardo Bak Gordon, arquitecto co-autor do projecto do novo museu. Esta nova estrutura viria a substituir a ponte pedonal que esta quarta-feira foi encerrada por receio que cedesse ao peso dos milhares de pessoas que a atravessaram na inauguração do MAAT.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No início de 2013, as obras do novo Museu dos Coches pararam e o edifício foi inaugurado, em 2015, tal e qual como estava. “Houve muitas coisas que ficaram por fazer”, entre as quais uma ponte que ligaria a zona do museu à frente ribeirinha do Tejo, passando por cima da linha do comboio, disse ao PÚBLICO Ricardo Bak Gordon, arquitecto co-autor do projecto do novo museu. Esta nova estrutura viria a substituir a ponte pedonal que esta quarta-feira foi encerrada por receio que cedesse ao peso dos milhares de pessoas que a atravessaram na inauguração do MAAT.

Nem o arquitecto nem o engenheiro Rui Furtado, membro da equipa que projectou o museu, conhecem as razões que levaram à interrupção das obras da nova ponte. “Desde a primeira hora o projecto era conjunto: o museu e uma ponte pedonal e ciclável. O projecto e o orçamento estão aprovados, mas a obra ficou-se por um braço amputado”, afirmou Bak Gordon. O local onde seria erguido um dos pilares da ponte está actualmente envolto em tapumes.

O PÚBLICO questionou o Direcção-Geral do Património Cultural, que tutela o museu, e o Ministério da Cultura, mas não obteve resposta até ao final desta quinta-feira.

A obra para construção do novo Museu dos Coches, que inclui a construção da ponte, estava orçamentada em 40 milhões de euros, verba proveniente das contrapartidas do Casino de Lisboa, através do Ministério da Economia e do Turismo de Portugal. Orçamento que “foi cumprido tal e qual como o previsto”, assegurou Bak Gordon. A construção da ponte terá um custo de 1,5 milhões de euros.

O arquitecto afirma que já ouviu todo o tipo de especulação sobre a interrupção da obra, mas nenhuma se confirmou: desde cortes no financiamento para combater o défice aos atrasos na aprovação do Tribunal de Contas. Já o presidente da Junta de Freguesia de Belém, Fernando Ribeiro Rocha, acredita que que o atraso se deve aos “problemas de burocracia no concurso público.” A autarquia espera que a obra avance já neste ou no próximo ano, esperança que se torna “mais urgente” caso se confirmem as falhas de segurança da ponte existente.

Rui Furtado contaria a posição do autarca, garantindo que o concurso público já foi feito e a atribuição do empreiteiro estava fechada à data de início das obras. “Na altura falava-se que o dinheiro tinha ficado parado no Turismo de Portugal, mas foi libertado ao fim de algum tempo. Não se percebe o que aconteceu desde então”, afirmou o engenheiro, conhecido pela intervenção no Estádio do Braga, ao lado de Eduardo Souto de Moura.

Segundo Bak Gordon a ponte existente, que ainda está encerrada, “é de caracter provisório” e sempre foi intenção da equipa de trabalho do novo Museu dos Coches substitui-la pela nova estrutura. “Caímos no ridículo de inaugurar o MAAT e não ter uma passagem segura para as pessoas”, comentou o arquitecto, adiantando que esta estrutura “em nada prestigia a cidade”, especialmente comparando com a que viria a ser construída, da autoria do arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha. “É um drama para aquele edifício”, completou Rui Furtado.

Bak Gordon acredita que a nova ponte terá “uma funcionalidade indispensável” para ligar a cidade à zona à beira rio, “a solução mais fácil de executar para resolver o problema da via-férrea.” A passagem da linha de comboio no local é vista por muitos como uma barreira entre Lisboa e Belém e o rio Tejo, que, como considerou no ano passado António Lamas, então presidente do conselho de administração do Centro Cultural de Belém, mantém “a frente ribeirinha quase inacessível.” Também Rui Furtado acredita que o local, "pela sua potencialidade turística, deve ser dotado de infra-estruturas que permitam circular facilmente de e para a gare marítima."

Tal como o museu, o projecto da ponte é obra de um “notável” da arquitectura e do urbanismo mundial, nota Bak Gordon. Paulo Mendes da Rocha venceu em 2006 o Prémio Pritzker, considerado o Nobel da arquitectura, e já este ano levou para casa o Leão de Ouro, da Bienal de Veneza, e o Prémio Imperial do Japão.

“Quantas outras cidades não quereriam ter obras deste arquitecto? Como é que a Câmara de Lisboa e o Governo têm 15 milhões para o Palácio da Ajuda, mas não arranjam 1,5 milhões para ter esta obra?”, questionou o arquitecto.

A concretizar-se a continuação dos trabalhos nesta ponte, nos próximos tempos Belém vai ganhar duas novas passagens para a margem do Tejo: no início de 2017 deve estar pronta a ponte anunciada pela EDP que vai ligar a zona do Museu dos Coches ao topo do MAAT.