Há uma criança de sete anos a relatar a guerra de Alepo
Todos os dias a menina vai contando, com a ajuda da mãe, o dia-a-dia de quem vive no centro do conflito sírio, através do Twitter.
Um sorriso tímido. No cabelo, flores cor-de-rosa. Sobre a mesa, um livro com ilustrações. No fundo do armário, uma boneca. A imagem poderia ser a do quarto de qualquer criança, não fosse acompanhado da legenda: "Boa tarde de Alepo. Estou a ler para esquecer a guerra." Bana al-Abed tem sete anos e mais de 13 mil seguidores no Twitter e número não pára de aumentar. Na sua conta, vai narrando a realidade de quem vive no meio da guerra. O relato é feito tweet a tweet a partir de Alepo. Cada um é uma prova de sobrevivência, mas também o registo de bombardeamentos, destruição, medo e morte.
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Um sorriso tímido. No cabelo, flores cor-de-rosa. Sobre a mesa, um livro com ilustrações. No fundo do armário, uma boneca. A imagem poderia ser a do quarto de qualquer criança, não fosse acompanhado da legenda: "Boa tarde de Alepo. Estou a ler para esquecer a guerra." Bana al-Abed tem sete anos e mais de 13 mil seguidores no Twitter e número não pára de aumentar. Na sua conta, vai narrando a realidade de quem vive no meio da guerra. O relato é feito tweet a tweet a partir de Alepo. Cada um é uma prova de sobrevivência, mas também o registo de bombardeamentos, destruição, medo e morte.
As publicações começam a 24 de Setembro e são feitas em inglês, assinadas alternadamente entre mãe e filha. “Estou com muito medo de morrer esta noite. Estas bombas vão matar-me.” A esperança? “É passado”, lamenta a criança noutra publicação.
As frases vão sendo acompanhadas com vídeos e imagens que Fatemah, mãe de Bana, regista. Ora do bairro onde vivem, ora da criança e do irmão de cinco anos a ler ou desenhar. “A guerra é como este dinossauro e espero que se transforme em passado”, resume.
Bana e o irmão já não vão à escola, conta a mãe numa conversa com o Guardian. É demasiado arriscado, apesar de Bana, como qualquer criança, querer brincar na rua e sair de casa. Debaixo de bombardeamentos, dormir quatro horas é um milagre, relata Fatemah.
A ideia de criar uma conta no Twitter surgiu como vontade de voltar a ter uma vida “normal” em que as crianças possam ser crianças outra vez.
Em Agosto, o rosto ensanguentado de um menino que nasceu na guerra tornou-se viral. Com cinco anos, Omran Daqneesh nunca conheceu outra realidade para além do conflito que Alepo enfrenta. Bana vem lembrar que Omran não é um caso isolado e que os ataques não ocorrem só quando existem imagens virais. Na última quarta-feira, o director executivo da Unicef, Justin Forsyth, descreveu a situação em Alepo como o pior cenário a que já assistiu. “Nada pode justificar tais ataques a crianças e o total desrespeito pela vida humana. O sofrimento e o choque entre as crianças é definitivamente o pior que já vi”, disse.
“Temos de as proteger. Nós vivemos parte das nossas vidas, mas as nossas crianças não”, continua Fatemah. “A guerra eliminou tudo a que chamamos 'vida'”, diz e questiona quanto tempo irá sobreviver até ao dia seguinte.