Revelação de identidade de Elena Ferrante gera polémica
Artigo da New York Review of Books no centro de uma discussão. Chegar à identidade de Elena Ferrante, a escritora que escolheu o anonimato, revelando contas e património pessoal é ou não invasão de privacidade?
Uma investigação de um jornalista italiano publicada na New York Review of Books e no Il Sole 24 Ore, revelando a identidade da escritora Elena Ferrante, um dos mais recentes fenómenos da literatura contemporânea, está a provocar uma grande polémica. Qual é a necessidade de ir contra a vontade de uma autora que escolheu manter o anonimato, perguntam muitos no mundo literário.
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Uma investigação de um jornalista italiano publicada na New York Review of Books e no Il Sole 24 Ore, revelando a identidade da escritora Elena Ferrante, um dos mais recentes fenómenos da literatura contemporânea, está a provocar uma grande polémica. Qual é a necessidade de ir contra a vontade de uma autora que escolheu manter o anonimato, perguntam muitos no mundo literário.
Claudio Gatti identificou a autora de A Amiga Genial – primeiro título da série de quatro romances centrada em Nápoles sobre a relação entre duas amigas desde a infância – como sendo Anita Raja, tradutora e mulher do escritor Domenico Starnone, há anos na lista dos nomes de autores "suspeitos" de serem Elena Ferrante, como diz o jornal italiano La Repubblica. Sandro Ferri, o editor da escritora e um dos poucos a conhecer a sua identidade, afirmou-se chocado com a tentativa de identificar alguém que escolheu viver no anonimato e que tem como único compromisso a literatura. “Achamos que este tipo de jornalismo é repugnante”, disse ao Guardian. “Pesquisar na carteira de um autor que decidiu não ser ‘público’.”
O artigo sustenta-se no argumento de que os leitores têm o direito de saber quem é Ferrante. “Meses depois de uma longa investigação é possível construir um caso sólido sobre a verdadeira identidade de Ferrante. Longe de ser a filha de uma costureira de Nápoles descrita em Escombros, as novas revelações do seu património e registos financeiros apontam para Anita Raja, uma tradutora que vive em Roma, cuja mãe, nascida na Alemanha, fugiu ao Holocausto e mais tarde se casou com um magistrado napolitano”, escreve a New York Review of Books na sua edição de domingo.
A conclusão de Gatti é baseada na consulta dos pagamentos que alegadamente foram feitos pela editora de Ferrate, e que Gatti diz mostrar que o principal beneficiário do extraordinário sucesso de Ferrante é Anita Raja. “Acho lamentável o jornalismo que indaga a privacidade e trata o escritor como um camorrista”, diz o conhecido editor de Ferrante, que não desmentiu a notícia sobre a identidade da escritora.
Numa entrevista o PUBLICO em Julho de 2015, a escritora justificava a sua opção pelo anonimado declarando: "O caminho das minhas obras é o meu caminho." E acrescentou: "Os leitores contentam-se com ele, aliás, alguns até me escrevem pedindo que não revele nunca outros caminhos mais privados e, por isso, menos interessantes. Os meios de comunicação é que, por dever de ofício, não se contentam com as obras, querem caras, personagens, protagonistas excêntricos. Mas pode-se passar tranquilamente sem o que os meios de comunicação pretendem."