Desempoeirar a casa e mostrar os seus tesouros ao país e ao mundo

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Capela da Igreja de São Roque Rui Gaudêncio

Proprietária de um vasto e valioso património histórico e cultural, que inclui, por exemplo, o melhor núcleo de ourivesaria romana fora de Itália ou uma colecção de relicários só ultrapassada pela do Escorial, em Espanha, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) empenhou-se, durante o mandato de Santana Lopes, em divulgar a um público mais vasto os tesouros que conserva, e que estão longe de se resumir à Igreja e ao Museu de S. Roque, em Lisboa.

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Proprietária de um vasto e valioso património histórico e cultural, que inclui, por exemplo, o melhor núcleo de ourivesaria romana fora de Itália ou uma colecção de relicários só ultrapassada pela do Escorial, em Espanha, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) empenhou-se, durante o mandato de Santana Lopes, em divulgar a um público mais vasto os tesouros que conserva, e que estão longe de se resumir à Igreja e ao Museu de S. Roque, em Lisboa.

A marca do ex-primeiro-ministro (que foi ainda secretário de Estado da Cultura e presidente da Câmara de Lisboa) na SCM passa também pelo modo como levou uma instituição com 518 anos a abrir mais convidativamente as suas velhas portas, devolvendo ao público espaços que estavam há muito encerrados, como o Convento de S. Pedro de Alcântara. E promovendo um bem-sucedido programa de visitas guiadas aos diversos espaços que a Misericórdia possui, do Hospital de Sant’Ana, na Parede, com o Jardim de Inverno e os seus azulejos no estilo Arte Nova, ao belo convento lisboeta de Santos-o-Novo, que o Estado cedeu à instituição em 2011 e que hoje acolhe um lar de idosos.

Para dinamizar a Direcção de Cultura da SCML, que tutela não apenas o Museu de S. Roque, dirigido por Teresa Freitas Morna, mas também o importante arquivo histórico da instituição, a biblioteca e ainda um centro editorial e um serviço educativo, Santana Lopes convidou a historiadora e museóloga Margarida Montenegro, que tinha já dirigido durante 17 anos o Palácio Nacional de Mafra.

Para esta responsável, no balanço no domínio da Cultura dos últimos anos da liderança de Santana na instituição há que salientar “a abertura ao exterior”, ilustrada pelos vários espaços patrimoniais colocados à fruição do público, e o “dinamismo e inovação”,  numa “oferta de actividades que se alargou muitíssimo” —  imaginativa, propondo, por exemplo, itinerários em bicicleta — e na “aposta no digital”: o arquivo está a ser digitalizado, a SCML já produz e-books, e um protocolo com o Google Art Project tem permitido criar exposições virtuais que mostram ao mundo o melhor do património cultural da instituição.

O esforço de internacionalização tem sido, de resto, uma das prioridades nestes últimos anos, diz Margarida Montenegro, lembrando que está a ser preparada uma candidatura à UNESCO para inscrever no programa Registo da Memória do Mundo os “sinais dos expostos”, como se chamavam os sinais que os pais de crianças colocadas anonimamente nas rodas dos enjeitados deixavam com elas, e que constituíam um modo de as poder reclamar mais tarde, se a vida lhes corresse melhor.

“Podia ser uma nota ou uma carta de jogar partida ao meio, ou fitas, ou mechas de cabelo”, explica. “A SCML tem a maior colecção mundial de sinais de expostos, cerca de 90 mil, e sabemos que em alguns casos houve um final feliz, porque possuímos as duas metades do sinal.” A candidatura está a ser preparada com Misericórdias brasileiras, com o Hospital dos Inocentes de Florença e com o Arquivo Distrital do Porto.

Conhecendo bem o modo como se trabalha nos museus do Estado, e elogiando a capacidade das respectivas equipas de fazerem muito com poucos meios, Margarida Montenegro reconhece que dispõe na SCML de condições a que não estava habituada: um orçamento estável, equipas com a dimensão e competências necessárias, uma dotação específica para intervenções de restauro. E se, no que respeita aos resultados, não pode evitar ser juiz em causa própria, o balanço que faz não difere muito do que é proposto pelo historiador de arte Pedro Flor, da Universidade Aberta, que conhece bem o património artístico da SCML.

Destacando a importância da sua “colecção ecléctica de pintura, ourivesaria, talha, escultura, marfins, tapeçaria e bordados do acervo”, da capela de S. João Baptista da Igreja de S. Roque, “obra-prima da escultura romana em Portugal”, ou ainda as pinturas quinhentistas que narram a vida e martírio de São Roque, este investigador considera que a SCML fez neste campo “um trabalho globalmente muito positivo”. Sublinha a inauguração, em 2014, da Galeria de Exposições Temporárias do Museu de S. Roque, “o extraordinário esforço empreendido” na “animação e divulgação de outros espaços afectos à SCML”, como o Convento de S. Pedro de Alcântara ou a co-organização de exposições com instituições de referência, como o Museu Nacional de Arte Antiga.