José Eduardo Martins a coordenar programa em Lisboa agrada a Passos
PSD tem, a partir de agora, no terreno uma pessoa que fará oposição a Fernando Medina, o presidente da Câmara de Lisboa.
O líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, elogiou nesta quinta-feira, na reunião da comissão política alargada, a escolha do advogado e antigo deputado José Eduardo Martins para coordenador do projecto autárquico na capital, mas continua a recusar-se a falar sobre as eleições locais do próximo ano.
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O líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, elogiou nesta quinta-feira, na reunião da comissão política alargada, a escolha do advogado e antigo deputado José Eduardo Martins para coordenador do projecto autárquico na capital, mas continua a recusar-se a falar sobre as eleições locais do próximo ano.
Na reunião, que decorreu durante a tarde desta quinta-feira, as eleições autárquicas do próximo ano ficaram fora da agenda, porque o presidente do partido entende que ainda é cedo para o partido escolher um candidato. A única excepção, à exclusão do tema, foi mesmo para a solução encontrada pela concelhia esta semana. Desta forma, os sociais-democratas ficam já com alguém no terreno a fazer frente ao presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, que se candidata a novo mandato.
A ausência de uma estratégia do PSD a nível nacional para as autárquicas de 2017 levou a concelhia social-democrata de Lisboa a descolar da linha oficial do partido, escolhendo José Eduardo Martins, um opositor de Passos Coelho e próximo de Marques Mendes, para coordenador do projecto autárquico em Lisboa.
“O partido precisa de ter uma estratégia e de a apresentar ao país, se continuar com este muro de silêncio, arrisca-se a ter um resultado fraco em 2017, idêntico ao que teve em 2013, ano em que o PS a conquistou meia centena de municípios”, adverte um dirigente nacional, vincando que a concelhia de Lisboa não quererá ficar vinculada a uma eventual derrota eleitoral.
Esta leitura é, de resto, partilhada por algumas figuras do PSD com quem o PÚBLICO falou na quinta-feira e que dizem não entender por que razão o PSD mantém uma "caixa de silêncio” sobre um combate que será difícil vencer. E não têm dúvidas de que a inesperada decisão da concelhia “visa dar um recado à direcção da comissão nacional autárquica”. “Trata-se de um desafio, mas ao mesmo tempo é também um protesto contra a ideia de que a direcção nacional não está a fazer nada em termos de estratégia eleitoral para as autárquicas, adiando tudo para o próximo ano”, salientou uma das fontes do PSD.
Esta escolha, que apanhou os sociais-democratas de supresa, é também vista pelo partido como uma decisão que pretenderá travar a entrada do ex-ministro do Ambiente e primeiro vice-presidente do partido, Jorge Moreira da Silva, na corrida autárquica em Lisboa. Fundador de uma plataforma de debate interno para o “crescimento sustentável”, Jorge Moreira da Silva é um dos nomes apontados para liderar uma lista nas próximas eleições à Câmara de Lisboa e essa possibilidade foi analisada numa das reuniões do grupo de discussão que o vice-presidente do PSD mantém desde que foi líder da JSD.
“Com a escolha de José Eduardo Martins pela concelhia, o candidato que vier a ser escolhido pelo partido tem a vida minada, porque vai ter de levar com o programa feito por uma pessoa, que é crítica da actual direcção e que chegou a ser apontada como um provável candidato à câmara da capital”, aponta um dirigente nacional do partido, que pediu para não ser identificado, em declarações ao PÚBLICO.
Um ex-autarca, por seu lado, sublinhava ontem não ser “errado” escolher primeiro o programa e só depois o candidato autárquico e recuava a 2001 para lembrar que foi “mais ou menos isso” que aconteceu com Rui Rio, quando se candidatou pela primeira vez. Antes de Rui Rio sonhar ser candidato ao Porto, o então líder da concelhia, Sérgio Vieira, tinha um grupo de pessoas que reunia com regularidade para debater os problemas da cidade e “daí nasceu o embrião do programa e de alguma maneira o candidato à câmara saiu daquele grupo”.
A mesma fonte vai de, resto, mais longe, e admite mesmo que “todas as concelhias” deveriam, se assim o entendessem, escolher aqueles que querem a liderar os projectos e defende que, no actual contexto, José Eduardo Martins deveria ser o candidato à câmara para daqui por cinco anos ser uma alternativa forte a Fernando Medina, em Lisboa.
Santanistas a trabalhar com José Eduardo Martins
A equipa do coordenador do programa autárquico para Lisboa terá sete elementos. Além do próprio José Eduardo Martins e de David Lopes e Ricardo Gonçalves, há sobretudo pessoas próximas de Santana Lopes.
Diogo Agostinho – É chefe de gabinete do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa desde 2015, depois de ter entrado para auditor no gabinete de Auditoria Interna e mais tarde no serviço de Auditoria, Planeamento e estudos jurídicos. Licenciado em Economia, Diogo Agostinho exerceu funções na equipa de gestão da COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação, de 2007 a 2013.
Ricardo Alves Gomes – Membro da mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa desde 2015. É advogado, licenciado em direito e foi adjunto do presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Foi também adjunto do ministro das Obras Públicas e do Governo liderado por Pedro Santana Lopes.
Ana Zita Gomes – É assessora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Foi deputada do PSD entre 2005 e 2009 e assessora de imprensa do ex-Presidente da República Cavaco Silva entre 2011 e 2016.
António Prôa – É vereador do PSD na Câmara Municipal de Lisboa. Foi deputado entre 2011 e 2015.
Carlos Reis – Foi presidente da distrital de Lisboa do PSD e integrou a comissão política de Passos Coelho. É advogado.