As Warpaint procuram (e pouco encontram)
Um álbum que parece querer sacudir o passado e apontar para o futuro.
Quando, em 2014, as Warpaint lançaram o seu álbum homónimo, escrevia-se nestas páginas que havia por ali indícios de terem criado o seu OK Computer. Não porque as quatro raparigas andassem a farejar o rasto estilístico dos Radiohead num dos álbuns fulcrais para os anos 1990, mas porque Warpaint vivia de uma mesma noção de libertação e experimentação de uma banda assente em guitarras, expandindo largamente o seu universo de partida e escalando até àquele que se antevia como o pináculo de uma fase criativa. Ainda assim, era difícil de imaginar que, passados dois anos, os Radiohead poderiam continuar a servir de exemplo para a obra das norte-americanas.
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Quando, em 2014, as Warpaint lançaram o seu álbum homónimo, escrevia-se nestas páginas que havia por ali indícios de terem criado o seu OK Computer. Não porque as quatro raparigas andassem a farejar o rasto estilístico dos Radiohead num dos álbuns fulcrais para os anos 1990, mas porque Warpaint vivia de uma mesma noção de libertação e experimentação de uma banda assente em guitarras, expandindo largamente o seu universo de partida e escalando até àquele que se antevia como o pináculo de uma fase criativa. Ainda assim, era difícil de imaginar que, passados dois anos, os Radiohead poderiam continuar a servir de exemplo para a obra das norte-americanas.
Se OK Computer teve por sucessor Kid A, esse álbum em que Thom Yorke e companhia submergiam as canções em electrónica, Heads Up faz um movimento semelhante. Com uma diferença óbvia: enquanto os primeiros punham em marcha o seu fascínio pela audição de Aphex Twin, Autechre e restante trupe frequentadora da discografia da Warp, procurando uma electrónica construída sobre escombros, no caso das Warpaint a referência assumida é a do hip-hop, de Kendrick Lamar a Dr. Dre. Em comum ainda: a amplificação do carácter exploratório e a intensificação da busca por canções oblíquas e mais arredias.
A outra diferença de vulto é que Kid A oferecia aos Radiohead alguns dos seus maiores trunfos de composição (Everything in its right place, National anthem ou How to disappear completly), menorizados apenas por um álbum que se revelava excessivamente desequilibrado para poder aspirar ao estatuto de obra-prima.
Heads Up também falha a homogeneidade do brilhante disco homónimo anterior, ao mesmo tempo que raras vezes se eleva até ao brilhantismo. É um álbum que parece querer sacudir o passado e apontar para o futuro, num processo de transformação ainda por finalizar. Mas, ao apontar para o futuro, fascina-se e concentra-se mais no gesto em si do que no seu resultado.
Não significa isto que Heads Up seja um falhanço. Nada disso. Há motivos suficientes de entusiasmo nos namoros das Warpaint com uma música descarnada, assente em padrões rítmicos hip-hop e r&b que atiram as guitarras para longe e só admitem a convivência íntima com o baixo pulsante de Jenny Lee, levantando a fasquia sempre que a estranheza se abate de forma mais intensa sobre By your side, Don’t wanna e Dre. Ou, por outro lado, quando a densidade se afasta para deixar passar a canção aberta e luminosa que é New song, quase no campeonato das Haim.
Só que em nenhum momento Heads Up está à altura de Warpaint ou até dos dois temas que mediaram a edição dos dois álbuns – I’ll start believing e No way out. E aquilo que fica é um disco a abarrotar de excelentes ideias, bem concretizadas, mas com as quais é difícil criar uma relação duradoura.