Coleiras estranguladoras? Não, é possível treinar um cão sem causar dor
Podem existir pessoas que não se importem de causar dor ou aos seus cães para atingir resultados. Mas é importante que entendam que existem outras formas que, sem causar dor e outros danos, atingem os mesmos objectivos
A eficácia de um determinado instrumento de treino nunca deveria ser o motivo pelo qual o usamos. Tentar chegar a um objectivo, sem olhar a meios, é não só eticamente errado na aplicação desses meios em seres sencientes, como absolutamente desnecessário.
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A eficácia de um determinado instrumento de treino nunca deveria ser o motivo pelo qual o usamos. Tentar chegar a um objectivo, sem olhar a meios, é não só eticamente errado na aplicação desses meios em seres sencientes, como absolutamente desnecessário.
A pergunta, portanto, está errada. Mas vamos responder. Sim, estranguladoras e ou enforcadoras de bicos resultam — é um facto científico. Isto, claro, se forem bem usadas. Ao contrário do que muitos pensam, para serem bem usadas, estas coleiras devem tornar-se aversivas. O que é um aversivo? É um evento ou estímulo que causa medo, desconforto ou dor, de forma a que o animal o queira evitar.
Assim, para que estas coleiras resultem é imperativo que o seu uso seja aversivo. Caso contrário, não funcionam e tornam-se inócuas. Precisamente o oposto daquilo anunciado por muitos, que garantem que o uso destas coleiras, “se bem feito, não dói”, elas têm de causar dano ou dor para funcionarem — e isto também é um facto científico.
Analisemos um exemplo prático. Estas coleiras são usadas, infelizmente, para muitos propósitos. Mas o mais comum é para impedir que os cães puxem quando andam de trela. Assim que isso acontece, os tutores são aconselhados a darem um esticão na trela, de forma a “dizer ao cão que não deve puxar”. Muitos treinadores, vendedores de lojas, vizinhos, conhecidos ou mesmo autores em artigos na internet, afirmam que as coleiras simplesmente “chamam a atenção” do cão sem infligir dor.
Existem muitas falhas nessa afirmação. Se o cão não sentir dor ou desconforto, ele continuará a puxar. Logo, por que razão há-de parar? O cão puxa e, no momento em que o faz, sente uma dor que só pára quando ele abranda a marcha. Ao fim de algumas repetições, começa a perceber que, para evitar dor, basta caminhar mais devagar e evitar esticar a trela.
O uso destas coleiras trazem outras complicações cientificamente provadas. Medo, comportamentos agressivos, comportamentos obsessivo compulsivos, deterioramento do relacionamento com a pessoa, fobia ambiental, entre outros. Podem existir pessoas que não se importem de causar dor ou aos seus cães para atingir resultados. Mas é importante que entendam que existem outras formas que, sem causar dor e outros danos, atingem os mesmos objectivos.
Portanto, a pergunta certa é outra. "Coleiras estranguladoras ou enforcadoras de bicos são necessárias?" A resposta é simples: não. Qualquer treinador que saiba como aprendem os cães e tenha experiência no uso de reforço positivo, saberá ensinar com facilidade um cão a não puxar na trela. Sem o magoar ou causar dano.
Para tal, basta que criemos o comportamento desejado no cão — que ele ande sem puxar — e que tornemos esse comportamento o preferencial. Não é difícil. É até muito mais fácil do que o oposto, que é esperar que o cão puxe e ter de administrar esticões que sejam suficientemente dolorosos para que o cão páre. E já aqui escrevemos: usar de trela no teu cão é importante — e uma questão de civismo.
A escolha é entre causar ou não dano físico ou dor ao cão. Métodos aversivos pertencem ao passado, a um tempo onde a senciência dos cães era colocada em causa, se consideravam estes animais autómatos e pouco sensíveis, se achava que eles respondiam aos estímulos como robots. O uso desses métodos é feito por aqueles que não estão actualizados ou que têm dificuldade em mudar. Não tenham receio da mudança, principalmente se ela significar uma melhoria na vida do cão e na vossa. Aprendam com métodos que vêem o treino como algo que se faz com o cão e nunca ao cão.