Prio entra no negócio da electricidade através da Enforcesco
Empresa de combustíveis low cost reforça aposta na mobilidade eléctrica com investimento em comercializadora de electricidade.
Cada uma na sua área, “começaram do zero” em mercados já dominados por gigantes. A Prio na comercialização de combustíveis, onde rivaliza com a Galp, a Repsol e a BP, e a Enforcesco na comercialização de electricidade, num mercado liberalizado dominado pela EDP, Iberdrola e Endesa. Com uma estratégia semelhante, que garantem ser low cost no preço, mas não na qualidade dos produtos e serviços, as duas empresas preparam-se para anunciar “um casamento” destinado a antecipar “a nova realidade” que será a mobilidade eléctrica.
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Cada uma na sua área, “começaram do zero” em mercados já dominados por gigantes. A Prio na comercialização de combustíveis, onde rivaliza com a Galp, a Repsol e a BP, e a Enforcesco na comercialização de electricidade, num mercado liberalizado dominado pela EDP, Iberdrola e Endesa. Com uma estratégia semelhante, que garantem ser low cost no preço, mas não na qualidade dos produtos e serviços, as duas empresas preparam-se para anunciar “um casamento” destinado a antecipar “a nova realidade” que será a mobilidade eléctrica.
A Prio, que já foi uma empresa da construtora Martifer e neste momento é totalmente detida pela capital de risco Oxy Capital, vai comprar 5% da Enforcesco, dona da marca Yes Low Cost Energy (YLCE). Em simultâneo, a Oxy Capital também irá adquirir uma participação de 46% na empresa de energia sediada na Covilhã. Os valores do negócio não foram divulgados.
“A Prio acredita que há uma tendência no sentido da mobilidade eléctrica e que no futuro vão existir bastantes carros eléctricos”, disse ao PÚBLICO o presidente da empresa, Pedro Morais Leitão. Vender electricidade é, por isso, uma forma de antecipar uma alteração de mercado que, dependendo do grau de adesão a estes veículos, vai gerar “um problema para as empresas de combustíveis”.
Se globalmente o sector petrolífero está a ganhar consciência que terá de se adaptar ao crescimento expectável do carro eléctrico e “compensar a perda de vendas” que daí virá, o mercado português tem outra especificidade que, segundo Morais Leitão, obriga as empresas de combustíveis a reagir: a aliança entre o Continente e a Galp. “Os líderes da comercialização para as famílias [na distribuição alimentar e nos combustíveis] estão a criar este programa de fidelização que na prática é quase aditivo, viciante”. Os efeitos “ainda não se sentem no mercado”, mas lá para a frente é possível que se levantem “questões de direito da concorrência”, porque o objectivo destas empresas será sempre o de “consolidar e defender a liderança”, diz o gestor. Sem qualquer programa de fidelização com a distribuição alimentar, a Prio tem, por isso, uma “oportunidade na comercialização de combustíveis e energia” que tem “obrigação de explorar”.
Responsável por 10% das vendas no mercado de combustíveis (com um volume de negócios de 606 milhões no ano passado e resultados líquidos de cinco milhões), a empresa tem desde 2011 uma licença de operador da rede de mobilidade eléctrica Mobi.e. Ainda assim, o negócio nunca gerou receitas porque os carregamentos na rede têm sido gratuitos e subsidiados pela EDP. Como “o Governo anunciou que se vai poder começar a cobrar a energia” no próximo ano, a Prio tem a expectativa de que finalmente possa começar a cobrar a sua margem na electricidade vendida pelo sistema Mobi.e.
Ao mesmo tempo, se as vendas de carros eléctricos crescerem, o mais provável é que se caminhe para um equilíbrio entre o modelo de carregamento rápido (carregamentos de cerca de 20 minutos) nos espaços públicos, como centros comerciais e postos de abastecimento, e o carregamento lento durante a noite, em casa, nas garagens ou condomínios. Com a aliança à Enforcesco, a Prio passa a oferecer também o carregamento em casa, onde sai beneficiado o comercializador de electricidade. “Essa complementaridade” é um dos trunfos deste negócio entre as duas empresas, destacou Pedro Morais Leitão.
O presidente da Enforcesco, João Nuno Serra, também salienta o facto de as empresas terem “estratégias que encaixam” e que vão resultar em soluções que permitem ao cliente “pagar menos no final do mês”. “Neste momento, comprar energia é comprar preço; é óbvio que as pessoas valorizam fazer os mesmos quilómetros e usar os mesmos electrodomésticos e pagar uma factura menor”, disse ao PÚBLICO.
Nascida em 2013 com a missão de ser “a Easy Jet da energia”, levando aos clientes “tarifas sem algumas das gorduras e encargos fixos que têm as organizações maiores”, a Enforcesco (detida pela Enforce) tem hoje dez mil clientes e ocupa a oitava posição no mercado liberalizado, onde competem cerca de 20 comercializadores.
Com a “perspectiva de atingir [este ano] resultados positivos e uma facturação na ordem dos 30 milhões de euros”, a Enforcesco tem como “aspiração”, reforçada com o negócio com a Prio, chegar aos 10% de quota em 2023 (tem cerca de 1% neste momento). Daí que, perante “a necessidade de reforçar os capitais”, tenha procurado não só um parceiro financeiro, como uma solução que aportasse “mais-valias e sinergias para o futuro”.