Alepo, símbolo da vingança de Assad
Assad deu ordem para massacrar? No futuro, a história o dirá. Agora, assistimos ao sucumbir das vítimas.
Conta-se que, durante a II Guerra Mundial, numa das várias vezes que soldados nazis passarem em revista o apartamento que Picasso mantinha em Paris, então sob ocupação das tropas de Hitler, um oficial do Reich reparou numa imagem que estava na parede. Era uma fotografia de Guernica, uma das obras maiores do pintor. “Foi você quem fez isto?”, perguntou o oficial nazi a Picasso. E ele respondeu, secamente: “Não, foi você”. Provavelmente ninguém se lembrou de mostrar a Bashar al-Assad as muitas imagens de dor, sofrimento e morte em Alepo, cidade mártir da guerra na Síria e da vingança do ditador, mas podiam dizer-lhe o que Picasso disse ao oficial nazi: foi ele que fez aquelas imagens, não os fotógrafos das agências que se movem como sombras por entre os escombros crescentes e os gritos dos estropiados. Assad disse que iria recuperar cada pedaço de território nas mãos dos rebeldes; e Alepo, sendo um símbolo da resistência ao regime, terá de ser um símbolo do aniquilamento dessa mesma resistência. É claro que tudo isto se passa enquanto nas Nações Unidas se trocam acusações mas nada se decide. E é também claro que não faltam reacções indignadas. Samantha Power, embaixadora dos EUA na ONU, aponta o dedo à Rússia e diz que “não é contra-terrorismo” o que Moscovo faz e patrocina mas sim a “barbárie”. François Delatre, embaixador francês na ONU, alerta para que tais acções “não podem ficar impunes” (seja o que for que isto queira dizer, em linguagem diplomática) e diz: “Alepo é para a Síria o que Sarajevo foi para a Bósnia ou o que Guernica foi para Espanha”. E voltamos assim a Guernica. Que foi, como rapidamente se soube, um ensaio para a carnificina da II Guerra Mundial. Os alemães quiseram ali testar os seus aviões e as suas bombas para o que viria a seguir. Assad deu ordem para massacrar? No futuro, a história tratará do tema. No presente, só ouvimos os gritos das vítimas. Que ecoam ao longe, sem salvação que lhes valha.
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Conta-se que, durante a II Guerra Mundial, numa das várias vezes que soldados nazis passarem em revista o apartamento que Picasso mantinha em Paris, então sob ocupação das tropas de Hitler, um oficial do Reich reparou numa imagem que estava na parede. Era uma fotografia de Guernica, uma das obras maiores do pintor. “Foi você quem fez isto?”, perguntou o oficial nazi a Picasso. E ele respondeu, secamente: “Não, foi você”. Provavelmente ninguém se lembrou de mostrar a Bashar al-Assad as muitas imagens de dor, sofrimento e morte em Alepo, cidade mártir da guerra na Síria e da vingança do ditador, mas podiam dizer-lhe o que Picasso disse ao oficial nazi: foi ele que fez aquelas imagens, não os fotógrafos das agências que se movem como sombras por entre os escombros crescentes e os gritos dos estropiados. Assad disse que iria recuperar cada pedaço de território nas mãos dos rebeldes; e Alepo, sendo um símbolo da resistência ao regime, terá de ser um símbolo do aniquilamento dessa mesma resistência. É claro que tudo isto se passa enquanto nas Nações Unidas se trocam acusações mas nada se decide. E é também claro que não faltam reacções indignadas. Samantha Power, embaixadora dos EUA na ONU, aponta o dedo à Rússia e diz que “não é contra-terrorismo” o que Moscovo faz e patrocina mas sim a “barbárie”. François Delatre, embaixador francês na ONU, alerta para que tais acções “não podem ficar impunes” (seja o que for que isto queira dizer, em linguagem diplomática) e diz: “Alepo é para a Síria o que Sarajevo foi para a Bósnia ou o que Guernica foi para Espanha”. E voltamos assim a Guernica. Que foi, como rapidamente se soube, um ensaio para a carnificina da II Guerra Mundial. Os alemães quiseram ali testar os seus aviões e as suas bombas para o que viria a seguir. Assad deu ordem para massacrar? No futuro, a história tratará do tema. No presente, só ouvimos os gritos das vítimas. Que ecoam ao longe, sem salvação que lhes valha.