Da clubite ao compromisso
Pensar e agir politicamente perante a diversidade exige respeito mútuo e bom senso.
Vivemos tempos na sociedade, e na política em particular, em que o ambiente é como se de um jogo de futebol se tratasse. Não só a clubite passou a ditar o debate, como a falta de capacidade de procurar consensos e de olhar para o futuro é gritante. A uma crítica aponta-se com um “sei o que fizeste no verão passado”, a uma chamada de atenção responde-se com um “mas a culpa é dos outros”. Assistimos a um misto de clubite com criancice.
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Vivemos tempos na sociedade, e na política em particular, em que o ambiente é como se de um jogo de futebol se tratasse. Não só a clubite passou a ditar o debate, como a falta de capacidade de procurar consensos e de olhar para o futuro é gritante. A uma crítica aponta-se com um “sei o que fizeste no verão passado”, a uma chamada de atenção responde-se com um “mas a culpa é dos outros”. Assistimos a um misto de clubite com criancice.
Não haveria mal se no meio da desejada e salutar diferença de opiniões conseguissem encontrar pontos de convergência. Mas quando se parte para o debate a achar que o outro é um malandro, a diferença passa logo a insanável divergência. E as decisões tomadas, por uma soma puramente aritmética, deixam de fora uma considerável fatia de pensamento e, pior, semeiam um sentimento de vingança que tolda o futuro aquando da mudança de poder. Eleições ocorrem e quem assume a gestão dedica-se de forma meramente tática a desfazer o que foi feito. Se isto fosse uma realidade de apenas agora nem seria tão grave. Infelizmente o que assistimos hoje é o pináculo de muitos anos destas atitudes.
Durante anos este sentimento não foi sentido com grande intensidade, ora porque o chamado centrão partidário se foi entendendo aqui e acolá e mesmo com acaloradas discussões ideológicas alguns consensos eram alcançados, ora porque depois existiram maiorias de governo, e aqui a falta de necessidade de acordos afastou uns de outros. Não contavam os grandes partidos que um dia os portugueses se cansassem de dar oportunidades e as opções em tempos de eleições viessem a criar novos cenários. Muitos eleitores afastaram-se, optando pela abstenção, outros começaram a diversificar o voto para outras ou novas ofertas políticas. E quando os portugueses através dos seus votos afirmavam “queremos que se entendam através das vossas diferenças”, os protagonistas políticos responderam exactamente com o inverso.
Pensar e agir politicamente perante a diversidade exige respeito mútuo e bom senso. Respeito que permita serem tomadas decisões para um espaço temporal longo. Decisões que criem estabilidade. Programas ou planos para 10 anos ou até para uma geração. Com toda a sociedade envolvida e comprometida, começando pelos representantes políticos.
Nunca devemos deixar de ler os clássicos, aqueles livros que fizeram doutrinas, mas se não tivermos a capacidade de adaptar os ensinamentos ao mundo actual significa que estaremos presos em séculos passados. Não é uma questão de ser pragmático, é mesmo de ser realista. Pensar politicamente num mundo onde as fronteiras físicas foram derrubadas pelas vias digitais exige realismo.
O realismo de reconhecer os espaços, físicos ou digitais, onde Portugal e os Portugueses se inserem e actuam. Um Portugal numa Europa que não pode ser apenas um espaço geográfico. Um Portugal que saiba que a fronteira física mais próxima já não está em Badajoz.
Quando se fala em Liberdade, esta tem de ser plena, começando pelo reconhecimento da liberdade de opinião, pela liberdade de pensar diferente. E depois pela liberdade de não impor, pois só assim se respeita o outro.
A Liberdade que seja o centro de um projecto onde todos se revejam e sintam seguros. Chegará um dia em que teremos na política pessoas agregadoras e que saibam dar primazia à equidade.
Fundador Iniciativa Liberal