Fugir ao fisco bronzeia
Depois dos “Panama Papers”, temos os “Bahamas Leaks”. Sou só eu a notar aqui um padrão? Os escândalos estão a tornar-se tropicais
Temos que reconhecer que os nomes dos escândalos financeiros estão a atingir níveis de estilo difíceis de superar. Depois dos “Panama Papers”, temos os “Bahamas Leaks”. Sou só eu a notar aqui um padrão? Os escândalos estão a tornar-se tropicais. Até nisso, são inacessíveis: reparem que não há os “Penafiel Papers”, nem os “Bragança Leaks”. O cidadão comum é afastado dos paraísos fiscais da moda pelas mesmas razões que o afastam dos paraísos, em geral: as viagens e os “resorts” estão caros. Nem em meia pensão vamos lá, em termos de trapaça fiscal.
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Temos que reconhecer que os nomes dos escândalos financeiros estão a atingir níveis de estilo difíceis de superar. Depois dos “Panama Papers”, temos os “Bahamas Leaks”. Sou só eu a notar aqui um padrão? Os escândalos estão a tornar-se tropicais. Até nisso, são inacessíveis: reparem que não há os “Penafiel Papers”, nem os “Bragança Leaks”. O cidadão comum é afastado dos paraísos fiscais da moda pelas mesmas razões que o afastam dos paraísos, em geral: as viagens e os “resorts” estão caros. Nem em meia pensão vamos lá, em termos de trapaça fiscal.
Mesmo a um cidadão com algumas posses que queira apostar numa “offshore”, não lhe basta ir à Fuzeta, no Algarve. Amigo, se quer uma fuga ao fisco com estilo, é melhor que faça um crédito e arranje uma boa agência de viagens, porque fugir ao fisco é coisa tropical. E não se esqueça de usar um bom protector: um banco que não faça muitas perguntas.
Eu acho isto extremamente injusto. O pequeno empresário, o sr. Roberto, proprietário da tasca “Patanisca da Aurora”, sedeada em Rebordelo, deveria ter os mesmos meios para prosperar que o sr. Efigénio, CEO da “Shreeval’s Financing & Properties”, sedeada nas Ilhas Caimão. Mas não tem, infelizmente.
Se o sr. Roberto começar a não registar umas diárias, para fugir ao fisco, começa a ser visitado pelos fiscais das Finanças e, um dia, fecham-lhe a tasca. Se o sr. Efigénio fugir a sério ao fisco, começa a ser visitado por malta com algum nível e, um dia, fecham-lhe Vale do Lobo para ele jogar golfe. Outro dado que estes escândalos nos trazem é que a Informática está claramente em alta, por oposição à contabilidade. Se eu quiser saber qual a sustentabilidade de uma ponte, chamo um engenheiro. Se quiser saber qual a estabilidade de uma mistura de substâncias, chamo um químico.
Se quiser saber qual é o melhor sítio para tirar uma fotografia a preto-e-branco, como uma máquina lomográfica, chamo um hipster de bigode. Se quiser saber quem anda a fugir ao fisco, não chamo um contabilista: chamo um puto que faça parte de uma equipa de hackers, dou-lhe uma PS4 com o GTA e o Call of Duty e ele, no intervalo do visionamento de pornografia, saca uma lista completa com nomes de pessoas que andam a guardar o dinheiro em locais paradisíacos, em termos climáticos e fiscais. Outra coisa que eu adoro é o silêncio de algumas pessoas sobre estes casos.
Se alguém defender um imposto novo sobre fortunas, ou uma revisão de contratos do Estado com privados que são espectaculares para os privados e assim-assim para o Estado, ou uma revisão do código laboral que possa, aqui e ali, dar um rebuçado ao trabalhador, ouve-se um coro afinado a dizer que se está a matar a economia. Se um grupo de gente bronzeada, que dirige empresas de fachada com menos clientes que a do sr. Horácio, que faz desentupimentos e pichelaria, em geral, decide colocar o seu dinheiro num sítio solarengo, para não pagar os impostos que deve pagar, ninguém vem dizer que estamos a matar o nosso turismo, com esta fuga constante de pessoas e capitais para destinos turísticos estrangeiros.
Provavelmente, há muita gente disposta a defender publicamente o nosso turismo, mas estará ausente, para tratar de assuntos bancários. À beira-mar.