O regresso dos magníficos

Havia necessidade de um remake de um western popular dos anos 1960?

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Os Sete Magníficos é um remake estranho com alterações maioritariamente cosméticas

Em 1960, quando John Sturges dirigiu Os Sete Magníficos (e de caminho ajudou a fazer de Steve McQueen uma vedeta), muito se falou do filme ser uma adaptação aos códigos do western dos Sete Samurais de Akira Kurosawa – que já de si eram uma espécie de western oriental, sobre sete ronin (samurais mercenários) que se juntavam para proteger uma aldeia ameaçada pelo mal e pela corrupção.

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Em 1960, quando John Sturges dirigiu Os Sete Magníficos (e de caminho ajudou a fazer de Steve McQueen uma vedeta), muito se falou do filme ser uma adaptação aos códigos do western dos Sete Samurais de Akira Kurosawa – que já de si eram uma espécie de western oriental, sobre sete ronin (samurais mercenários) que se juntavam para proteger uma aldeia ameaçada pelo mal e pela corrupção.

A remake que Antoine Fuqua agora faz do filme de Sturges é um objecto estranho: é um filme desnecessário, que existe apenas pela necessidade da moribunda MGM rentabilizar o seu acervo de “conteúdos”. Mas é também – elogio — um filme que não inventa nem actualiza nem altera as coordenadas dos Sete Magníficos originais, que procura recuperar uma certa inocência, uma certa simplicidade do western clássico. E o esforço, mesmo que não chegue inteiramente lá, é meritório.

As alterações feitas pelos argumentistas Nic Pizzolatto (criador da série True Detective) e Richard Wenk são maioritariamente cosméticas, transferindo a história do México para o Oeste da Califórnia, fazendo destes sete pistoleiros, contratados para proteger uma aldeia do barão mineiro que a quer expulsar, um bando multicultural que inclui um oriental, um índio e um mexicano, com um negro a liderar. É caso para dizer que estes novos Sete Magníficos reflectem a América contemporânea ao mesmo tempo que sublinham o pioneirismo e a emigração que lhe deu forma. Na naturalidade com que o assume, o filme faz mais pela tolerância do que todos os filmes de prestígio bem intencionados mas dramaticamente inertes que pululam nos festivais tipo Sundance.

A maior surpresa desta remake, no entanto, é vermos Antoine Fuqua, cineasta indistinto capaz do melhor e do pior (e cujo último filme visto por cá, Coração de Aço, era francamente esquecível), a reencontrar a agilidade e a inteligência do título que fez o seu nome, Dia de Treino. Não apenas pelo “reencontro” entre as duas estrelas desse filme, Denzel Washington e Ethan Hawke (e a sua cumplicidade é mais do que evidente), mas sobretudo pelo modo como Fuqua se coloca ao serviço da sua história e dos seus actores e não procura inventar só para fazer estilo. É como se o realizador tivesse percebido que nunca conseguiria fazer melhor que o original e, libertado desse peso, se limitasse a contar o melhor que sabe a história que tem à frente. Fuqua não quer fazer um western revisionista ou pós-moderno; quer só fazer um western o melhor que sabe e pode. E estes novos Sete Magníficos podem não chegar aos calcanhares dos originais, mas não desmerecem dos pergaminhos. Já é muito mais do que se esperava.