Pedro Duarte faz apelo a Passos para que se inspire em Sá Carneiro
Ex-líder da JSD entende que Pedro Passos Coelho deve ser coerente recusar peremptoriamente apresentar o livro de Saraiva.
Praticamente um ano depois de ter perdido o Governo apesar de ter ganho as eleições, como líder da coligação mais votada nas legislativas de 4 de Outubro, Pedro Passos Coelho atravessa um dos momentos mais conturbados da sua gestão partidária. Tudo por causa de um livro sobre intimidades – não apenas sexuais – de 42 figuras públicas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Praticamente um ano depois de ter perdido o Governo apesar de ter ganho as eleições, como líder da coligação mais votada nas legislativas de 4 de Outubro, Pedro Passos Coelho atravessa um dos momentos mais conturbados da sua gestão partidária. Tudo por causa de um livro sobre intimidades – não apenas sexuais – de 42 figuras públicas.
Passos aceitou apresentar a obra intitulada Eu e os políticos: o que não pude (ou não quis) escrever até hoje [O livro Proibido], no dia 26, e o PSD não lhe perdoa. [Entretanto, o líder do PSD recuou e a cerimónia de lançamento da obra foi cancelada].
Desta vez é Pedro Duarte, discreto ex-deputado e antigo líder da JSD, a deixar um apelo a Pedro Passos Coelho para que volte atrás na decisão tomada: “Faço um apelo ao presidente do PSD para que se inspire no legado de Sá Carneiro e na ética social-democrata de que deverá ser o primeiro protagonista e, assim, recuse perentoriamente participar no lançamento do livro do arquitecto José António Saraiva”, diz ao PÚBLICO.
“Estou certo que o Dr. Passos Coelho será coerente consigo próprio e com a postura ética que tem evidenciado e, assim, será sensível a este apelo”, acrescenta.
Pedro Duarte, que apesar de estar afastado da vida partidária se mantém atento à actualidade política, defende que enquanto for líder do PSD, Passos “tem um dever de representação que vai além das suas opções puramente individuais”. Assim, “desprezar o sentimento, as convicções e as opiniões daqueles que são por si representados não é sinal de coerência ou de liderança. Pelo contrário, significaria um preocupante fosso entre o líder e a realidade envolvente”, assume o ex-secretário de Estado da Juventude de Pedro Santana Lopes.
Na verdade, Pedro Passos Coelho afirmou, já depois de começarem as críticas dentro de fora do seu próprio partido, que não é pessoa de “voltar com a palavra atrás” e que não gostaria de ver este assunto transformado numa questão de natureza partidária.
"O arquitecto José António Saraiva convidou-me para me associar ao livro que ia fazer e respondi que sim, mesmo antes de conhecer a obra e aceitei fazê-lo”, disse Passos durante uma visita a Proença-a-Nova, na aldeia de xisto da Figueira. “Não sou de voltar com a palavra atrás nem de dar o dito por não dito. Estarei a fazer a apresentação dessa obra”, garantiu.
O líder do PSD deixou, no entanto, claro que no dia 26 não estará no El Corte Inglés como autor da obra, mas sim como alguém que respeita a carreira e o percurso de José António Saraiva. “Cada um terá a sua opinião sobre o conteúdo, não fui eu que escrevi o livro tão pouco, o autor é ele não sou eu. Não vou defender o livro nem as suas perspetivas, ainda nem tive ocasião de completar a leitura, não é essa a questão”, adiantou Passos.
Antes, o presidente do PS, Carlos César, havia comparado a decisão de Passos à rentrée do PS, ironizando: “Bem sei, também, que esta realização [do PS] não tem a notoriedade da apresentação de um livro sobre mexericos da vida sexual de políticos (esse sim afanosamente apadrinhado pelo líder do PSD), mas sim estudar soluções para diminuir as desigualdades, o que pode não ser tão excitante”, disse, a partir de Coimbra.
Já esta semana outro social-democrata do Porto, desta feita Paulo Vieira da Silva, criticou a decisão de Pedro Passos Coelho numa carta enviada ao próprio e desfiliou-se depois de 25 anos de militância. O antigo conselheiro nacional do PSD acusou Passos de ter “passado de primeiro-ministro a profeta da desgraça” e de “estar desfasado da actual realidade política e social” e antecipou um “desastre eleitoral” para o PSD nas autárquicas de 2017. “O resultado pode ser catastrófico e o PSD corre o risco de ser tornar num partido marginal no espectro político português”, afirmou ao PÚBLICO.