Medina avisa que reverter a “degradação” dos transportes públicos vai levar uma década
O autarca insiste nos benefícios de a Carris passar para a Câmara de Lisboa mas assume que não haverá melhorias “do dia para a noite”
Fernando Medina garante que a assunção “da propriedade e da gestão” da Carris pela Câmara de Lisboa “não é uma questão de exercício de poder, de natureza administrativa”, mas sim uma decisão “estratégica para concretizar uma melhoria dos transportes públicos”. Ainda assim, o autarca avisa que a situação “não vai mudar do dia para a noite” e que “reverter” o “nível de degradação” actual é “um desafio para a próxima década”.
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Fernando Medina garante que a assunção “da propriedade e da gestão” da Carris pela Câmara de Lisboa “não é uma questão de exercício de poder, de natureza administrativa”, mas sim uma decisão “estratégica para concretizar uma melhoria dos transportes públicos”. Ainda assim, o autarca avisa que a situação “não vai mudar do dia para a noite” e que “reverter” o “nível de degradação” actual é “um desafio para a próxima década”.
Muito crítico daquele que foi o desempenho da Carris e do Metropolitano de Lisboa ao longo dos últimos anos, o presidente da Câmara de Lisboa sustentou mesmo que estas empresas já não prestam “um serviço público” (“que assegure as necessidades” da população), limitando-se a oferecer “um serviço de transportes”.
Olhando para o conjunto da Área Metropolitana de Lisboa, Fernando Medina considerou haver “um emaranhado absolutamente incompreensível, ilegível e irracional”, com “centenas de títulos de transporte, dezenas de operadores” e licenças atribuídas a empresas privadas com base em critérios que não o do “serviço público”.
Face a essa realidade, o autarca entende que o caminho passa por promover uma “integração metropolitana”, por garantir a “acessibilidade” e por recuperar a “credibilidade” dos transportes públicos. Para Fernando Medina, os tarifários hoje praticados “não são compatíveis com uma eficaz política de mobilidade”, sendo sua opinião que “não há um verdadeiro transporte público que não tenha uma dimensão de financiamento público associado”.
Quando a Carris passar para a câmara (permitindo uma “articulação” do seu serviço “com a via pública, o estacionamento, a rede ciclável, outros operadores e instrumentos de mobilidade”), o autarca acredita que a linha ferroviária de Cascais passará a ser “a grande pedra que fica em falta”. Constatando que esta “tem vindo a deteriorar-se muito ao longo dos anos”, Fernando Medina frisou a importância de se estabelecer uma ligação, em Alcântara, entre as linhas de Cascais e de Cintura.
Também o vereador do Planeamento e Urbanismo da Câmara de Lisboa destacou a importância de se estabelecer essa “continuidade” e acrescentou à lista de alterações desejadas pela autarquia a chegada dos comboios da Fertagus à Gare do Oriente. Manuel Salgado também quer ver concretizada a ligação das linhas verde e amarela do Metropolitano de Lisboa (entre o Rato e o Cais do Sodré) e a expansão da linha vermelha de São Sebastião a Campo de Ourique.
Quanto àquela que poderá ser a oferta da Carris quando a câmara assumir a sua gestão, o vereador explicou que a ideia é “redesenhar a rede de autocarros em três níveis”: “uma rede de proximidade, de bairros, organizada por freguesias”, “uma rede de distribuição geral” que cubra “toda a cidade” e “uma rede rápida” que sirva os principais pólos geradores de tráfego e faça a ligação com as estações de comboios e de metro.
Outro dos oradores na conferência sobre mobilidade sustentável que se realizou esta terça-feira foi o presidente da Carris, do metro e da Transtejo, que reconheceu a necessidade de se “recuperar a qualidade do serviço” destas empresas e de se “inverter o processo que estava orientado para uma sustentabilidade unicamente financeira”. É preciso, afirmou Tiago Farias, “garantir que existe oferta, não apenas que há negócio”.
Fazendo eco das palavras de Fernando Medina sobre o tempo que levará a reverter a situação actual, o presidente das empresas de transportes pediu “tempo”, mas admitiu que isso é algo “difícil de exigir a quem já esperou muito tempo”.