"Há capacidade de investigação na área do sobreiro mas é preciso pensar fora da caixa"

A Corticeira Amorim vai juntar-se a dez produtores florestais para desenvolver um projecto que passa pela irrigação de áreas de sobreiro. O objectivo é antecipar o primeiro corte dos actuais 25 anos para nove

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António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim Adriano Miranda

Estímulo à produção não passa pela aquisição de explorações florestais. A CA não vai seguir o modelo da indústria da pasta e do papel. Mas está atenta ao problema da produção. A falta de cortiça a prazo pode ameaçar a sustentabilidade da indústria.

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Estímulo à produção não passa pela aquisição de explorações florestais. A CA não vai seguir o modelo da indústria da pasta e do papel. Mas está atenta ao problema da produção. A falta de cortiça a prazo pode ameaçar a sustentabilidade da indústria.

Tem receio que a degradação do montado nacional possa pôr em causa a sustentabilidade a prazo desta indústria?
Essa é a preocupação, a principal preocupação. Nós neste momento temos um projecto para tentar alterar este estado de coisas, porque temos um mercado com um potencial que consideramos importante e não podemos estar limitados na parte da matéria-prima. O sobreiro demora 25 anos a produzir cortiça, mas há experiências realizadas no Alentejo com sobreiros irrigados nos quais se tirou cortiça ao final de oito anos. Oito anos.

Ou seja, menos do que o ciclo médio da extracção?
Mas, que sejam dez anos… Nós temos aqui um ponto de partida muito grande para que este seja um projecto dos principais da Corticeira Amorim.

Falta ciência na produção?
Eu acho que temos muita capacidade de investigação na área do sobreiro mas é preciso pensar um bocadinho fora da caixa. Aquilo [a irrigação] alguém, que não nós, tentou e provou que é possível fazer no Alentejo. Nós se calhar podemos tirar partido daquela meia dúzia de hectares e tentar alargar esse projecto para ter 50 mil hectares de sobreiros irrigados para reduzir o ciclo inicial do sobreiro, retirando-lhes gradualmente a alimentação de água para entrar depois no ciclo normal, de modo a que as qualidades e características da cortiça não se alterem.

Vão apostar, portanto, na produção de matéria-prima?
Estamos a pensar fazer parcerias com produtores florestais. Contrariamente à Portucel ou à Altri, não temos um hectare de sobreiros no nosso balanço. Vamos ver como isto se desenvolve. Este ano vamos investir com dez produtores florestais em Portugal e vamos fazer 300 hectares. Mas o objectivo não é fazer 300. O objectivo de Portugal é chegar aos 50, 60 ou 70 mil hectares. Hoje temos 700 mil hectares de sobreiros com uma densidade média de 50 ou 60 árvores, mas se formos plantar podemos reforçar a densidade. A plantação é subsidiada pela União Europeia, mas a irrigação não é. Essa parte da irrigação é que vamos ter de encontrar parcerias com os produtores, no terreno deles, valorizando os activos deles, motivando-os para isto. O ciclo de nove anos não é o que é não-competitivo no sobreiro. O eucalipto demora mais a ser cortado. Isto pode mudar o nosso futuro.