Manuel Heitor quer saber quantos cientistas Portugal exporta
Indicadores que os países recolhem sobre a investigação e a inovação são demasiado economicistas, diz ministro da Ciência, que levou novas propostas a uma conferência da OCDE.
O ministro da Ciência, Manuel Heitor, defendeu esta segunda-feira uma mudança nos indicadores usados para avaliar a investigação e a inovação dos países, numa conferência da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) em Ghent, na Bélgica. Para Manuel Heitor, os indicadores definidos pela OCDE são fruto de uma lógica demasiado economicista, apoiada em números como a produção de artigos científicos. De fora, ficam aspectos importantes sobre a realidade científica como a qualidade da investigação feita e o conhecimento gerado para melhorar as profissões.
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O ministro da Ciência, Manuel Heitor, defendeu esta segunda-feira uma mudança nos indicadores usados para avaliar a investigação e a inovação dos países, numa conferência da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) em Ghent, na Bélgica. Para Manuel Heitor, os indicadores definidos pela OCDE são fruto de uma lógica demasiado economicista, apoiada em números como a produção de artigos científicos. De fora, ficam aspectos importantes sobre a realidade científica como a qualidade da investigação feita e o conhecimento gerado para melhorar as profissões.
O ministro quer ainda que a OCDE contabilize o movimento migratório de cientistas entre países. Manuel Heitor acredita que o Sul da Europa é exportador de investigadores, enquanto o Norte importa-os. Não havendo números sobre esta realidade, não se pode argumentar sobre a importância desta troca dentro de um contexto onde os países do Sul são vistos como “preguiçosos”.
“A dimensão económica dos fenómenos sociais é a mais fácil de medir”, lê-se num artigo de investigação escrito por Manuel Heitor publicado a propósito desta conferência. Mas, “a maioria do rendimento e do impacto da ciência e da tecnologia é não-tangível, difuso e manifesta-se com um atraso significativo, e muitas vezes de uma forma imprevisível e surpreendente”, argumenta o ministro.
Os indicadores científicos da OCDE avaliam aspectos como o Produto Interno Bruto gasto pelos países para a investigação e inovação, o número de pessoas doutoradas na população e o número de artigos científicos que são publicados todos os anos, entre muitos outros dados.
Esta reunião de informação faz parte dos objectivos da OCDE de “ajudar os governos a promover a prosperidade e lutar contra a pobreza através do crescimento económico e a estabilidade financeira”, lê-se no site daquela organização. Em teoria, ao definir regras para medir a investigação científica e outras actividades das sociedades, a OCDE ajuda os países a compararem entre si o resultado das políticas públicas e, se tal for o caso, a melhorá-las.
Mas aspectos como o número de publicações científicas não são apenas indicadores, fazem hoje parte da própria avaliação destes profissionais. “Isto tem levado a abusos como as publicações-salsichas, publicações repetidas das mesmas descobertas”, explica o artigo, e a uma cultura que se traduz na expressão “publish or perish” (qualquer coisa como “pública ou morre”).
“A comunidade científica vive totalmente aterrorizada com as métricas”, explica Manuel Heitor ao PÚBLICO, por telefone, antes de ir para a Bélgica. O ministro defende que os investigadores devem ser avaliados pelos seus pares e defende que os peritos devem ir às instituições científicas para ver “se as avaliações estão a ser feitas correctamente”.
Esta é uma das quatro propostas que Manuel Heitor fez no fórum “Blue Sky” da OCDE, onde foi convidado para dar uma conferência. O fórum é um evento que acontece de dez em dez anos, desde 1996, e reúne decisores políticos, peritos em estatísticas de ciência e inovação e a comunidade internacional para “discutir a evolução dos indicadores de ciência e inovação a nível internacional”, lê-se num comunicado do Ministério da Ciência.
“Tem havido um aumento muito grande dos indicadores, mas com uma orientação crescente para os interesses económicos”, diz Manuel Heitor. Outra das propostas do governante passa por quantificar os processos migratórios das populações. “Sabemos pouco sobre a qualificação das pessoas que saíram de Portugal”, diz. Por isso, defende “políticas de atracção e de distribuição de recursos humanos”.
Além disso, o ministro defende que a OCDE deve estimular “as práticas e processos participativos de cidadãos” na ciência, como a promoção de orçamentos participativos para as populações terem uma palavra a dizer sobre o que a comunidade científica deve investigar. Uma novidade que Manuel Heitor anunciou em Julho já para 2017. O governante espera que os assuntos que trouxe para a conferência continuem a ser discutidos pelos peritos da OCDE: “A minha participação é mostrar que Portugal tem pensado sobre esta matéria.”