Alberto João Jardim: da política para o cinema

Ex-presidente madeirense estreia-se no cinema, no papel de um pastor visionário, que, na primeira metade do século passado, prevê um futuro próspero para o arquipélago.

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Um pastor visionário. A personagem, admite o realizador Luís Miguel Jardim, foi desenhada com régua e esquadro para Alberto João Jardim. O histórico político social-democrata de 73 anos, presidente do Governo Regional da Madeira durante quase quatro décadas, integra o elenco do filme O Feiticeiro da Calheta, que está actualmente a ser rodado no arquipélago. Jardim está afastado da política, mas não dos holofotes.

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Um pastor visionário. A personagem, admite o realizador Luís Miguel Jardim, foi desenhada com régua e esquadro para Alberto João Jardim. O histórico político social-democrata de 73 anos, presidente do Governo Regional da Madeira durante quase quatro décadas, integra o elenco do filme O Feiticeiro da Calheta, que está actualmente a ser rodado no arquipélago. Jardim está afastado da política, mas não dos holofotes.

Apesar de não ser o protagonista da história, Alberto João Jardim é uma das atracções da película, que estreia no início do próximo ano e retrata a vida de João Gomes de Sousa, autodidata e poeta popular madeirense, homem alto, magro e de bigode, nascido em 1895 e falecido em 1974, defensor do Estado Novo.

O cenário é a Madeira rural dos anos 30 e 40 do século passado, e a figura central do filme é precisamente João Gomes de Sousa, que apesar de ter pouco dinheiro e estudos, esteve na génese do tradicional ‘Bailinho da Madeira’, posteriormente imortalizado pelo fadista Max.

A participação de Jardim no filme é curta, mas, como conta ao PÚBLICO o realizador, pretende ser “simbólica”. O ex-presidente madeirense veste a roupa de um pastor, que a um dado momento se cruza com a filha do protagonista. “É a uma miúda que lamenta as dificuldades da Madeira de então onde, costumava dizer-se, faltava tudo menos a fome.”

Jardim, o ‘pastor’, descansa a rapariga, prevendo um futuro melhor para o arquipélago. “Foi uma personagem criada exactamente para ele”, reconhece Luís Miguel Jardim, explicando que quis que fosse o ex-governante a prever o desenvolvimento que a Madeira teria no futuro, em grande parte por si edificado.

As filmagens reúnem, entre os 400 actores e figurantes, outros ex-políticos madeirenses do tempo do jardinismo: João Carlos Abreu, antigo secretário regional do Turismo e Cultura, e Carlos Lélis, que foi responsável pela pasta da Educação. Tudo figuras ligadas à cultura madeirense, mas há excepções, já que O Feiticeiro da Calheta conta ainda com a participação do representante da República na Madeira, Ireneu Cabral Barreto. Numa cena filmada no Palácio de São Lourenço, a sua residência oficial, o representante interpreta o papel do governador José Nosolini, entidade máxima no arquipélago naquela época.

João Gomes de Sousa, conhecido como o ‘Feiticeiro da Calheta’, foi uma figura muito popular na Madeira dos anos 30 e 40. Analfabeto e pobre, percorria a ilha vendendo poesia e produtos agrícolas. Em 1938, na primeira Festa da Vindima realizada na região, passou à frente da tribuna do Governador da Madeira e cantou e tocou os versos celebrizados no ‘Bailinho da Madeira’: “Deixai passar/ esta nossa brincadeira/ que nós vamos cumprimentar/ o governo da Madeira”.

Uma década mais tarde, Max apropriou-se da letra e gravou em Lisboa a música que ficou para sempre colada ao seu nome. “Eles, que eram amigos, deixaram de se falar. É uma história muito engraçada, que eu precisava de contar”, diz Luís Miguel Jardim, também ele um autodidata.

Jurista, assessor de uma escola secundária no Funchal, Luís Miguel Jardim estreou-se no cinema em 2014 com o filme ‘Águas’, que conta a história de uma revolta popular contra os grandes latifundiários, ocorrida na primeira metade do século passado, na Madeira.

O ‘Feiticeiro da Calheta’, depois da estreia no Funchal, vai percorrer as comunidades de emigrantes madeirenses, onde a poesia e a figura de João Gomes de Sousa é bastante popular.

Esta produção independente é o segundo trabalho do realizador Luís Miguel Jardim – o primeiro foi Águas – de 47 anos.

 

Números

1895 Ano de nascimento da personagem principal do filme

79 Idade que tinha João Gomes de Sousa quando morreu

750 Os versos que o poeta e pastor sabia dizer de cor

400 actores e figurantes que participam nas filmagens

1938 Ano em que João Gomes de Sousa cantou pela primeira vez versos de “Bailinho da Madeira”

361 As páginas do livro Feiticeiro da Calheta: Vida e Obra, sobre o poeta

38 Os anos que Alberto João Jardim esteve no poder na Madeira

47 A idade do realizador Luís Miguel Jardim