Trump mente todos os dias
Os jornalistas americanos continuam de forma diligente a desmontar os discursos e as mentiras de Trump.
Obama tem razão numa coisa: em política — sobretudo na americana, mas não só, basta pensar em Viktor Orbán — mudaram os standards do que consideramos “normal”. “Todos os dias, Donald Trump diz coisas que dantes eram consideradas suficientes para que uma pessoa deixasse de ser presidenciável. Mas porque as repete, e repete, os jornalistas desistem e dizem: ‘Ah, bem... pois... OK.”
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Obama tem razão numa coisa: em política — sobretudo na americana, mas não só, basta pensar em Viktor Orbán — mudaram os standards do que consideramos “normal”. “Todos os dias, Donald Trump diz coisas que dantes eram consideradas suficientes para que uma pessoa deixasse de ser presidenciável. Mas porque as repete, e repete, os jornalistas desistem e dizem: ‘Ah, bem... pois... OK.”
É verdade a parte da mentira. Onde Obama não tem razão é em relação à falta de resiliência dos media. Apesar da avassaladora quantidade de mentiras que Trump atira para a nossa cara todas as semanas, os jornalistas americanos continuam a desmontar de forma diligente os seus discursos.
Esta sexta-feira aconteceu de novo. Ao fim de cinco anos, Trump disse finalmente que não tem dúvidas sobre onde Obama nasceu. "O Presidente nasceu nos Estados Unidos, ponto final.” Os jornais noticiaram o facto mas denunciaram também que, agarrada a esta frase, veio outra mentira: “Foi Hillary Clinton e a sua campanha em 2008 que começaram a controvérsia birther [o movimento que questiona a nacionalidade de Obama]. Eu só a terminei.” O Huffington Post foi directo ao assunto: “Trump lança nova mentira da conspiração birther”. Na notícia, recuperam, um por um, os tweets que o candidato escreveu sobre o tema. O primeiro é de 2011: “Feito na América? Obama chamou ‘terra natal’ ao Havai”. A 18 de Maio do ano seguinte regressa: “Vamos ver com atenção o certificado de nascimento de Obama”. E de novo em Julho. E em Agosto. E no Verão de 2014 quando, ainda não cansado, lançou um desafio: “Atenção a todos os hackers: vocês que pirateiam tudo e mais alguma coisa podem por favor piratear os registos universitários de Obama e verificar ‘lugar de nascimento?’”. No último tweet, uns meses depois, Trump escreve: “Obama também inventou o seu próprio certificado de nascimento depois de ter sido pressionado pela nossa campanha a mostrá-lo”.
Qual é a nova mentira? Hillary Clinton não lançou dúvidas sobre se Obama tinha nascido nos EUA. A história remonta a 2008, quando Clinton e Obama eram rivais nas primárias. Num relatório do estratega de Clinton, Mark Penn identifica o “background diverso de Obama” – nascido no Havai, de pai queniano e com infância na Indonésia – como uma "fragilidade" a explorar na campanha. Na sua análise, Penn escreve que “não consegue imaginar os EUA a elegerem um presidente que não é, no seu centro, fundamentalmente americano no pensamento e valores”. Para se distanciar dessa “narrativa multicultural”, o estratega aconselha Clinton a dizer, em todos os seus discursos, que nascera "no meio da América, numa família de classe média, a meio do século passado”. Em nenhum momento Penn questiona a cidadania de Obama. Já agora, este memo é público desde 2008.
Numa acção de campanha esta semana, Obama queixava-se: “Trump diz: ‘Fui contra a guerra no Iraque’. Bom, não foi.". E pediu: "Nós não podemos, de repente, encarar isto como se fosse um reality show."