No meu tempo “bullying” chamava-se ir à escola

Se acham que o que se passa nas escolas é "bullying", então esperem até estas crianças começarem a trabalhar. Aí sim, é que se passa o verdadeiro "bullying", o dos recibos verdes, da precariedade

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tuti61/Pixabay

Estamos a tornar-nos ainda mais norte-americanos, pois os EUA são o país onde o politicamente correcto é quem mais ordena. E isso reflecte-se na nossa cultura cada vez menos nossa e mais outra coisa qualquer que não se percebe muito bem o que é, sobretudo para as gerações mais novas. Hoje em dia é preciso ter cuidado quando beijamos ou acariciamos uma criança, não vá parecer que estamos a cometer um acto de pedofilia, ou a dar uma palmada sob pena de estarmos a violentá-la, ou mesmo a dar um berro, porque podemos estar a oprimi-la psicologicamente. O que leva à questão de quem é aqui realmente a vítima de "bullying"?

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Estamos a tornar-nos ainda mais norte-americanos, pois os EUA são o país onde o politicamente correcto é quem mais ordena. E isso reflecte-se na nossa cultura cada vez menos nossa e mais outra coisa qualquer que não se percebe muito bem o que é, sobretudo para as gerações mais novas. Hoje em dia é preciso ter cuidado quando beijamos ou acariciamos uma criança, não vá parecer que estamos a cometer um acto de pedofilia, ou a dar uma palmada sob pena de estarmos a violentá-la, ou mesmo a dar um berro, porque podemos estar a oprimi-la psicologicamente. O que leva à questão de quem é aqui realmente a vítima de "bullying"?

O pior de tudo é a escola, onde estamos a criar uma geração de vítimas e de queixinhas. Já não se ensina as crianças a perceberem as situações e a defenderem-se delas, ensina-se a reportarem aos superiores. Se alguém dá um carolo ou chama um nome feio é ir a correr delatar o colega ao professor ou ao pai mais próximo, em vez de tentar lidar com o assunto pelas próprias mãos. Sim, pode correr mal, mas foi assim que aprendemos.

Antes a escola era isto: gozar uns com os outros, dar e levar uns socos e pregar umas partidas. Mas antes brincávamos na rua até ser escuro, longe dos computadores e das redes sociais, tínhamos nódoas negras, narizes a sangrar e os joelhos rotos nas calças. Antes podíamos ir sozinhos e a pé da escola para casa, bastava ter cuidado a atravessar e não aceitar rebuçados de estranhos. Não havia esta cultura do medo, de crescer com mazelas psicológicas, dos terroristas, dos raptores e da exclusão. Antes, erguíamos a cabeça e voltávamos para a escola no dia seguinte, tentando deflectir a situação para uma nova vítima ou ser amigo de quem nos gozava.

Podíamos não ser tão protegidos, mas ao menos estávamos mais preparados para o que vinha a seguir. Porque se acham que o que se passa nas escolas é "bullying", então esperem até estas crianças começarem a trabalhar. Aí sim, é que se passa o verdadeiro "bullying", o dos recibos verdes, da precariedade, do abuso de poder, dos despedimentos, dos descontos para os impostos, dos dirigentes abusadores, da falta de horário de trabalho. Ou então esperem até a próxima geração precisar do Serviço Nacional de Saúde ou da Repartição de Finanças mais próxima. Isto já sem falar do Governo e das medidas extraordinárias de austeridade. E nessa altura a quem é que se vão queixar?

Porque como dizia o outro, se gostaram da escola, vão adorar o trabalho.