Milhares de episódios de séries e nem 20% são realizados por mulheres ou não-brancos

Canais generalistas e de cabo mais igualitários do que serviços de streaming ou canais premium, diz relatório da Directors Guild of America.

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Being Mary Jane foi considerada a melhor série a nível de igualdade de oportunidades. DR

A Guilda dos Realizadores (Directors Guild of America, organização laboral que representa os realizadores norte-americanos) apresentou um novo relatório sobre a contratação de mulheres e minorias étnicas para a realização televisiva. Para a organização, foram conseguidas apenas “pequenas melhorias” em relação à temporada anterior, de 2014-2015.

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A Guilda dos Realizadores (Directors Guild of America, organização laboral que representa os realizadores norte-americanos) apresentou um novo relatório sobre a contratação de mulheres e minorias étnicas para a realização televisiva. Para a organização, foram conseguidas apenas “pequenas melhorias” em relação à temporada anterior, de 2014-2015.

O relatório analisou mais de 4000 episódios de 299 séries de ficção em canais generalistas de sinal aberto, canais por subscrição e ainda séries em streaming e vídeo on demand da temporada televisiva 2015-2016. Apenas 17% desses episódios foram realizados por mulheres, 1% mais do que no ano anterior, o que resulta num total de 702 episódios. Os realizadores e realizadoras não-caucasianos contratados para a mesma época trabalharam apenas em 19% dos episódios, 783 no total. No ano anterior tinham realizado 18%.

Paris Barclay, presidente da Guilda dos Realizadores, explica no relatório que “estes números mostram uma lacuna no progresso desta indústria” e que “serão necessárias novas formas de contratar pessoas, como entrevistar candidatos mais diversificados”. No relatório, é possível ver que a diversificação das plataformas de exibição e produção de séries, com a entrada no mercado de serviços como o Netflix, o Hulu e a Amazon, por exemplo, não corresponde a uma maior diversidade no que diz respeito à contratação de realizadores. 

A Guilda dos Realizadores mostra ainda que os canais generalistas de sinal aberto, seguidos pelos canais por subscrição de pacote básico, são mais "igualitários" do que as séries para serviços de canais premium ou streaming e vídeo on demand.

Para a organização, algumas das séries mais bem classificadas (consideram-se "boas" as séries em que mais de 40% dos episódios são realizados por mulheres ou minorias étnicas) são Being Mary Jane, The Game ou Transparent. Mais abaixo na lista das séries com essa quota cumprida surgem Segurança Nacional, Girls, Mentes Criminosas, Empire ou Uma Família Muito Moderna. Já ter feito (ou não) parte da lista em anos anteriores pesa também na avaliação feita. Este ano, subiu para 73 o número de séries "boas", em relação às 57 do ano passado. Um dos exemplos é o do estúdio BET Productions (Black Entertainment Television) e da produtora Shonda Rhimes, que contratam de forma mais paritária mulheres e não-brancos para realizar episódios das séries que produzem (por exemplo Anatomia de Grey, de Rhimes, tem 58% dos episódios realizados por mulheres e minorias étnicas).

Contam-se 57 séries na lista das mais mal colocadas (a organização considera “más” as séries em que menos de 15% dos episódios são realizados por mulheres ou não-caucasianos). Entre essas 57 séries, 30 não contrataram indivíduos de qualquer desses grupos para realizar episódios. Entre as séries mais mal colocadas estão por exemplo Workaholics, Gotham, Velas Negras It's Always Sunny In Philadelphia. Esta última é destacada no relatório por não ter contratado realizadores de minorias étnicas nem mulheres desde o seu início, em 2005. No entanto, o número de séries "más" diminuiu em relação a 2014-2015 -eram 61 nessa temporada.

Não é apenas na realização de séries televisivas que se notam desigualdades. Também na realização cinematográfica é possível ver este problema. Em 2015, apenas 19% das profissionais de realização, argumento, produção, montagem e fotografia em Hollywood eram mulheres. Em 2014, eram 17%. As protagonistas femininas começam a ser mais frequentes, mas são quase sempre brancas. A questão não se cinge apenas aos Estados Unidos, mas sim ao mundo inteiro. Por exemplo, na Europa em 2012 apenas 17,5% dos trabalhadores da área do cinema eram mulheres. Segundo o Centro Nacional de Cinema francês, a disparidade chega também aos salários, com as mulheres a ganharem cerca de 30% menos do que os homens. Em Portugal, apenas 27% dos realizadores era do sexo feminino em 2013. 

 

Texto editado por Joana Amaral Cardoso