A 47.ª ModaLisboa decorre já em Outubro com o tema Together, mas sob o signo da separação - Miguel Vieira, Alexandra Moura, Carlos Gil e Pedro Pedro já não integram o calendário de apresentação de colecções, desfilando sim no Portugal Fashion. A presidente da Associação ModaLisboa (AML) acusa o Portugal Fashion de "deslealdade no mercado" e diz que poderá ter sido exigida exclusividade aos designers que o evento nortenho apoia nas suas presenças internacionais. João Rafael Koehler, presidente da ANJE, nega e diz que "há muitos criadores que estão na ModaLisboa porque não têm espaço no Portugal Fashion".

A 47.ª ModaLisboa decorre já em Outubro com o tema Together, mas sob o signo da separação - Miguel Vieira, Alexandra Moura, Carlos Gil e Pedro Pedro já não integram o calendário de apresentação de colecções, desfilando sim no Portugal Fashion. A presidente da Associação ModaLisboa (AML) acusa o Portugal Fashion de "deslealdade no mercado" e diz que poderá ter sido exigida exclusividade aos designers que o evento nortenho apoia nas suas presenças internacionais. João Rafael Koehler, presidente da ANJE, nega e diz que "há muitos criadores que estão na ModaLisboa porque não têm espaço no Portugal Fashion".

A AML divulgou esta quarta-feira o calendário de desfiles para a próxima edição, que decorre entre 6 e 9 de Outubro no centro histórico da capital, notando-se não só o regresso de Nuno Gama, que na edição passada não fez desfile para assinalar com um filme o seu 50.º aniversário, mas também ausências de peso no calendário. Depois de, em 2014, ter visto Nuno Baltazar e Luís Buchinho migrar em exclusivo para o Portugal Fashion, agora parece ser a vez de Moura e Pedro, dois criadores que se estrearam em Lisboa, respectivamente, em 2001 e 2008. O mesmo acontece com Miguel Vieira, que ao longo dos anos se apresentava em ambos os eventos, bem como com Carlos Gil, que começou no Portugal Fashion e há dois anos entrou também no calendário da ModaLisboa - que é a mais antiga plataforma de desfiles de criadores de moda portugueses.

Ausente estará também a jovem designer de menswear Nair Xavier, mas por outros motivos. Enquanto Nair Xavier, que se estreou na plataforma de novos talentos Sangue Novo da Moda Lisboa em Março de 2014, está a fazer uma pausa “planeada”, frisa ao PÚBLICO, Alexandra Moura está a dar um passo na “estratégia da marca” mais duradouro. Nair Xavier está “a estruturar a marca depois de sair do Sangue Novo e passar para [a plataforma de micromarcas da ModaLisboa] o Lab” e a trabalhar na marca masculina Dielmar, considerando a sua pausa nos desfiles “temporária”. Alexandra Moura, há 15 anos na ModaLisboa e que há algumas estações tem feito nova aposta na presença em showrooms em Londres e Paris para desenvolver esse lado do seu negócio, considerou que tinha de apostar “tudo” no “lado internacional”, “extremamente importante” para a sua marca.

Uma história oral de 25 anos de moda (Lisboa) em Portugal

A loja Alexandra Moura do Príncipe Real lisboeta “foi um barómetro extremamente importante, que confirmou que o mercado nacional para nós não existe”, lamenta ao PÚBLICO. Apresentará colecção em Lisboa, no dia inaugural do Portugal Fashion. “Não faz sentido fazer duas apresentações num país tão pequeno”, disse, depois de em Março ter estado em ambas as plataformas. 

Carlos Gil associa também a estratégia de internacionalização da sua marca à sua ausência - que, espera, seja uma "curta interrupção"; "retomará em breve a parceria de sucesso". O designer com sede no Fundão explica, em comunicado, que "a sobreposição" de datas - apresenta-se em Milão com o Portugal Fashion dias antes da ModaLisboa (com a qual esteve na FashionPhilosophy na Polónia, em Abril)  - "obriga a uma decisão estratégica e comercial" que "indisponibiliza" a colecção de Verão para o "prestigiante" evento onde se estreou há dois anos, depois de cinco anos de apresentações no Portugal Fashion.

Eduarda Abbondanza, presidente da AML, critica as "eventuais restrições" impostas pelo Portugal Fashion que "impedem os criadores" que apoiam nas suas presenças em Londres, Paris, Milão, Nova Iorque, Moçambique e futuramente no Japão "de serem trabalhados pela ModaLisboa". Nas reuniões preparatórias da ModaLisboa diz ter identificado pressões junto dos designers e das marcas nesse sentido. Uma "exigência" que implica o risco de "aniquilar marcas" ao condicionar como podem trabalhar, argumenta em declarações ao PÚBLICO, e que diz ter exposto numa carta enviada à ANJE este Verão, cuja resposta, diz, "não nega" que tais condições possam ser aplicadas. "Vêm buscar os activos da ModaLisboa" e "impedi-los de trabalhar" com a plataforma, o que Abbondanza questiona na óptica da "ética na aplicação de fundos comunitários".

Por seu turno, contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) diz: "não controlo o calendário da ModaLisboa". "Aqueles que estão no Portugal Fashion estão porque querem estar. É uma escolha deles", diz João Rafael Koehler. "Não exigimos exclusividade", afirma.

As duas plataformas de apresentação de colecções, que convivem há duas décadas num mercado em que a moda de autor ainda luta por se afirmar, têm modelos de financiamento distintos. A ModaLisboa, focada na moda de autor, recorre a patrocínios privados e a financiamento da autarquia de Lisboa. O Portugal Fashion, que tem reforçado a sua aposta na moda de autor e equilibrado com a sua vertente inicial de apoio à indústria têxtil e às marcas mais comerciais, e as suas promotoras Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e ATP recorrem a financiamento dos quadros comunitários de apoio - actualmente o Portugal 2020 – Compete 2020. As edições nacionais de cada um dos eventos têm tido orçamentos de origem pública ou comunitária na ordem dos 317 mil e dos 500 mil euros, respectivamente. As presenças no estrangeiro do Portugal Fashion têm alocados recursos na ordem de um milhão de euros por semestre, segundo a ANJE.

Frisando que o projecto da ANJE visa "a promoção da moda", Koehler diz: "Até enviamos criadores para a ModaLisboa", referindo-se a um calendário que considera preenchido a norte - a próxima edição decorre entre 12 e 15 de Outubro. Já Eduarda Abbondanza diz que se ambas as plataformas estão "a trabalhar para o país", "o Portugal Fashion deveria trabalhar em conjunto" com o organismo lisboeta, falando em "deslealdade de mercado". 

Até à hora de publicação desta notícia, o PÚBLICO tentou sem sucesso contactar Pedro Pedro, que também se tem apresentado em simultâneo no Portugal Fashion e na ModaLisboa, bem como Miguel Vieira – este último teve terça-feira à noite o seu desfile no calendário paralelo da Semana de Moda de Nova Iorque, com apoio do Portugal Fashion.

A 47.ª ModaLisboa decorrerá entre o Páteo da Galé, e o showroom da marca automóvel de luxo patrocinadora, bem como o Museu da Marinha, que acolherá o regresso de Nuno Gama. O primeiro dia será dedicado às conferências abertas ao público Fast Talks.

Sexta-feira 7 de Outubro

18h00 Sangue Novo

20h30 Catarina Oliveira

21h30 Morecco

22h30 Ricardo Preto [homem]

Sábado 8 de Outubro

14h30 Nuno Gama

16h30 David Ferreira

17h30 Awaytomars

18h30 Valentim Quaresma

19h30 Cia Marítima

20h30 Christophe Sauvat

21h30 Saymyname

23h Dino Alves

Domingo 9 de Outubro

12h30 Ricardo Preto [mulher]

14h30 Olga Noronha

15h30 Patrick De Pádua

16h30 Filipe Faísca

17h30 Ricardo Andrez

18h30 Nadir Tati

19h30 Kolovrat

20h30 Luís Carvalho

Notícia corrigida às 21h32